Foi com um misto de “surpresa” e de “enorme alegria” que o arquiteto Gonçalo Byrne se apresentou, no passado dia 20 de novembro, ao Auditório Fernando Távora da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), minutos depois de tornar-se o 105.º Doutor Honoris Causa da U.Porto, por proposta precisamente da FAUP.

“Desde o princípio da minha carreira como arquiteto que a escola de arquitetura do Porto foi sempre uma espécie de referência, pelo que é  para mim uma enorme honra estar aqui”, referiu, perante uma plateia onde não faltaram personalidades da academia, da arquitetura e de outras setores.

Durante cerca de 30 minutos, o novo Doutor Honoris Causa percorreu a história da arquitetura portuguesa contemporânea, enfatizando o papel que nela desempenharam as escolas de arquitetura do Porto e de Lisboa.

“Este (Doutoramento «Honoris Causa») é um reconhecimento da arquitetura e dos arquitetos, personalizado em mim. Mas o que está em jogo é a arquitetura e, neste caso, a FAUP, com todo o seu historial fantástico”, referiu.

O “arquiteto da serenidade”

Antes de Gonçalo Byrne receber as insígnias doutorais, compostas pelo escapulário, o anel – símbolo de colegialidade e irmandade com os restantes Doutores -, o Livro – símbolo de sabedoria – e o Diploma de Doutoramento, já Luís Soares Carneiro, docente da FAUP, tinha proferido o elogio do arquiteto lisboeta.

“Gonçalo Byrne é bem conhecido, o seu trabalho e a sua obra são vastos, importantes e bem divulgados, e é também uma personalidade consensual, porque amplamente respeitado”, começou por referir o elogiador, numa intervenção em que percorreu as principais facetas e obras do homenageado.

“Na sua longa careira, as formas e as linguagens foram mudando, mas o essencial, o distintivo, o autoral, ficou sempre: uma grande atenção ao lugar, feita, não a partir da sua fixação, mas da leitura das suas potencialidades de transformação. Mas o que mais impressiona em todas as obras é a tranquilidade e a serenidade. Se há palavra para definir a obra de Gonçalo Byrne, ela é serenidade, que é um valor primeiro da arquitetura”, vincou Luís Soares Carneiro.

Ainda nas palavras do docente da FAUP, “s obras de Gonçalo Byrne são serenas, mas têm, em simultâneo, aquele subliminar vigor, aquela intensidade, aquela discreta vibração que as obras de qualidade precisam para terem presença, para ficarem na memória e, com isso, serem peças ativas na vida da cidade. É por isso que é um arquiteto extraordinário. E é, acima de tudo, pela excelência das suas obras que se impõe a atribuição de um Honoris Causa”, finalizou.

Sobre Gonçalo Byrne

Diplomado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, Gonçalo Byrne (Alcobaça, 1941) é autor de uma extensa obra arquitetónica, reconhecida, nacional e internacionalmente.

Entre as suas obras mais emblemáticas contam-se a requalificação da Sede do Banco de Portugal, em Lisboa, a requalificação do Teatro Thalia, também na capital, a remodelação do Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, a requalificação do Castelo de Trancoso, a requalificação da zona envolvente ao Mosteiro de Alcobaça, o projeto do edifício-sede do Governo da Província de Vlaams-Brabant, em Lovaina, na Bélgica, a Reitoria da Universidade de Aveiro ou a icónica Torre de Controle de Tráfego Marítimo da barra do rio Tejo, entre outras.

Em paralelo com a atividade como arquiteto, desenvolveu uma importante carreira como docente na área de Projeto de Arquitetura como Professor Convidado em várias Universidades. Integra, frequentemente, diversos júris de concursos e prémios de arquitetura.

Mais recentemente, destacou-se como Presidente do Conselho Diretivo Nacional da Ordem dos Arquitectos (2020-2022), tendo contribuído para os mais recentes debates em torno do problema da habitação, que sempre identificou como basilar na construção de cidade.

Gonçalo Byrne venceu por duas vezes o conceituado Prémio Valmor e o Prémio Nacional de Arquitetura, tendo também sido distinguido com a Medalha de Ouro da Academia de Arquitetura de França e como Grande-Oficial das ordens do Infante D. Henrique e de Sant’Iago. A sua obra foi ainda objeto de exposições em Bruxelas, Buenos Aires, Milão, Nova Iorque, Paris, Rio de Janeiro, São Paulo ou Veneza, entre outras.