Bárbara Ferreira e Inês Claro, duas jovens investigadoras do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), conquistaram duas das três bolsas INPhINIT Retaining que vieram este ano para Portugal. Os projetos premiados focam-se em tumores pediátricos e em tumores associados ao fumo do tabaco e serão apoiados pela Fundação «la Caixa» com bolsas no valor de quase 40 mil euros anuais, mais o montante das propinas de um programa doutoral à escolha.
O projeto de doutoramento de Bárbara Ferreira (ainda no processo de candidatura ao Programa Doutoral do Centro Académico de Medicina de Lisboa) centra-se no estudo do microambiente tumoral de gliomas pediátricos de baixo grau.
Estes tumores, explica a investigadora, “constituem 30 a 40% de todos os tumores do sistema nervoso central em crianças e, apesar de serem considerados de ‘baixo grau’, a sua localização no cérebro, muitas vezes em áreas vitais, impede a sua remoção cirúrgica completa. Esta limitação leva a que estes tumores exijam múltiplas linhas de tratamento, associadas a graves efeitos secundários e sequelas, com um grande impacto na qualidade de vida destas crianças e das suas família”.
O principal objetivo de Bárbara Ferreira é, por isso, “estudar como o microambiente destes tumores influencia a resposta ao tratamento e explorar novas abordagens terapêuticas associadas a menor morbilidade das crianças”.
O trabalho será orientado pelos investigadores Jorge Lima (i3S e Ipatimup), Cláudia Faria (GIMM e Hospital de Santa Maria) e Cynthia Hawkins (Hospital for SickKids, University of Toronto) e surge na sequência de uma colaboração entre estas três instituições.
Para Bárbara Ferreira, “esta bolsa é um marco na minha ainda tão curta carreira como investigadora”. E acrescenta: “É um reconhecimento da dedicação e do empenho que tenho colocado no meu trabalho e uma rampa de lançamento para poder continuar a trabalhar em Ciência, no meu país, num tema que me fascina. Ser bolseira la Caixa é sinónimo de uma oportunidade única de formação multidisciplinar, de acesso às ferramentas necessárias para poder crescer enquanto investigadora”.
A investigadora faz ainda questão de agradecer a vários investigadores do i3S: “Não teria ganho esta bolsa sem o apoio incansável do meu orientador, Jorge Lima, que me acompanha desde do primeiro dia e tem tido um papel fundamental em todas as minhas conquistas. Estendo o meu agradecimento ao meu grupo de investigação- Cancer Signalling and Metabolism – e ao i3S por toda a ajuda durante o processo de seleção, nomeadamente à Paula Perez, da Career Development Unit, pelo apoio na fase de preparação para as entrevistas e a todos os líderes de grupo (Paula Soares, Helena Azevedo, José Bessa, Margarida Saraiva e Salomé Pinho) que contribuíram para essa preparação”.
Estudar as assinaturas de mRNA em tumores associados com o fumo do tabaco
Inscrita no programa doutoral em Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, sob a orientação das investigadoras Alexandra Moreira (i3S e ICBAS), Isabel Pereira Castro (i3S) e Margarida Gama Carvalho (FCUL), Inês Claro vai “estudar as assinaturas de mRNA em tumores associados com o fumo do tabaco, especificamente cancros do pulmão, bexiga e cabeça e pescoço. Estes mRNAs são expressos em níveis diferentes em tumores e em tecidos saudáveis, e o objetivo principal é perceber qual é o seu papel nestes cancros e o impacto que têm no funcionamento das nossas células”.
Para Inês Claro, ter conquistado esta bolsa “foi o momento de maior orgulho na minha carreira profissional. Sabia que era muito difícil e candidatei-me quase sem esperanças, mas com a ajuda das minhas orientadoras e também de outros membros do i3S, penso que consegui dar o meu melhor e ser reconhecida por isso”.
A jovem cientista faz ainda questão de agradecer às investigadoras Alexandra Moreira, líder do grupo «Gene Regulation», e Isabel Pereira-Castro: “Têm acompanhado o meu crescimento como cientista e ajudaram-me muito em todos os aspetos da minha curta carreira. Sem elas não teria conquistado esta bolsa”.
Quanto à bolsa atribuída pela Fundação «la Caixa», Inês Claro, não esconde o entusiasmo: “Tendo em conta o panorama atual da ciência em Portugal, é bom ter a oportunidade de usufruir de uma bolsa financiada por uma entidade que ainda acredita nos cientistas e no seu mérito e, mais importante ainda, uma entidade que valoriza a Ciência e quem trabalha nela”.
Sobre as bolsas INPhINIT Retaining
O programa INPhINIT Retaining é altamente competitivo, dispondo apenas de 30 bolsas para investigadores em início de carreira de qualquer nacionalidade que pretendam realizar um programa de doutoramento em qualquer área científica em Espanha ou Portugal.
Na edição de 2024, foram submetidas 798 candidaturas. A taxa de sucesso foi de 4,38%, sendo que Portugal conquistou três bolsas.
A dotação económica destina-se a cobrir os custos do bolseiro, incluindo: custos laborais que a instituição de acolhimento irá gastar na contratação do bolseiro (35.800 euros/ ano); custos de investigação (3.500 euros/ano) para despesas diretamente relacionadas com o desenvolvimento do projeto, incluindo inscrições em conferências, cursos, estadias, consumíveis, equipamento, custos de propriedade intelectual, entre outros; e propinas para o programa de doutoramento em que o bolseiro será admitido.