A investigadora Ana Magalhães, do grupo do i3S «Glycobiology in Cancer» do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), é a vencedora do Prémio Pfizer 2024, na categoria de investigação clínica. O galardão, no valor de 30 mil euros, premeia o trabalho que levou à identificação de um novo alvo que permitirá desenvolver novas terapias para travar a formação de metástases e melhorar o prognóstico de doentes com cancro do estômago.

O projeto liderado pela também Professora Associada do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) “centra-se no estudo de alterações à superfície das células que sejam exclusivas das células tumorais, particularmente, no estudo das proteínas e lípidos do chamado glicocálice das células, que quando alterados podem desempenhar um papel determinante na progressão dos tumores”.

A equipa coordenada por Ana Magalhães descobriu que “o proteoglicano Syndecan-4 (SDC4) está muito presente em tumores do estômago do subtipo intestinal e que o aumento da sua expressão está associado a uma maior invasão das células tumorais e a um pior prognóstico dos doentes”.

O estudo, adianta a investigadora, “demonstra ainda que o SDC4 é transportado por vesículas extracelulares, produzidas pelas células tumorais, e consegue direcioná-las para o fígado e para o pulmão, precisamente os órgãos onde é comum aparecerem metástases de cancro do estômago”.

Com estas descobertas, “a nossa equipa contribuiu para a compreensão de um novo mecanismo de comunicação das células tumorais, identificando um potencial alvo para o desenvolvimento de novas terapias que possam travar a formação de metástases e melhorar o prognóstico de doentes com cancro do estômago”, sublinha Ana Magalhães.

Este trabalho assume particular importância num contexto em que o cancro do estômago persiste como um desafio de saúde global, com mais de um milhão de novos casos diagnosticados anualmente e com o aparecimento de sintomas numa fase muito avançada da doença.

O trabalho publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (doi/10.1073/pnas.2214853120) uniu esforços de uma equipa multidisciplinar constituída por investigadores e clínicos de cinco instituições nacionais e uma internacional: Juliana Poças (i3S e ICBAS), primeira autora deste trabalho, Catarina Marques (i3S e ICBAS), Catarina Gomes (i3S), Andreia Hanada Otake (Fundação Champalimaud), Filipe Pinto (i3S), Mariana Ferreira (i3S), Tiago Silva (i3S), Isabel Faria-Ramos (i3S), Rita Matos (i3S), Ana Raquel Ribeiro (i3S), Emanuel Senra (i3S), Bruno Cavadas (i3S), Sílvia Batista (Fundação Champalimaud), Joana Maia (Fundação Champalimaud), Joana A. Macedo (i3S) Luís Lima (IPO-Porto), Luís Pedro Afonso (IPO-Porto), José Alexandre Ferreira (IPO-Porto), Lúcio Lara Santos (IPO-Porto), António Polónia (i3S, Ipatimup), Hugo Osório (i3S), Mattias Belting (Lund University), Celso A. Reis (i3S e ICBAS) Bruno Costa-Silva (Fundação Champalimaud) e Ana Magalhães (i3S e ICBAS).

“Uma grande honra e motivo de alegria”

Atribuídos pela farmacêutica Pfizer e pela Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa desde 1956, os Prémios Pfizer – o mais antigo galardão na área da investigação biomédica em Portugal – têm como objetivo apoiar e promover a investigação científica, destacando a excelência dos investigadores portugueses.

Para Ana Magalhães, esta distinção representa, por isso, “uma grande honra e motivo de alegria para toda a equipa envolvida neste trabalho, e será certamente uma motivação para continuarmos a desenvolver esta linha de investigação e aproximarmos o conhecimento científico de uma possível aplicação na prática clínica”.

Nesta 68.ª edição dos Prémios Pfizer, foram também distinguidos os investigadores Caren Norden, da Fundação GIMM, e Filipe Pereira, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC), na categoria de investigação básica.

Paulo Teixeira, Diretor Geral da Pfizer Portugal, salienta a pertinência dos trabalhos premiados: “Os projetos representam um contributo valioso para a melhoria da qualidade de vida das populações, reiterando a necessidade de que a saúde e a ciência permaneçam indissociáveis na procura por novas soluções terapêuticas”.