É um trabalho de mãe e filho e ilustra bem como a matemática tem arte (e a arte tem matemática) e se pode transformar numa exposição. A partir do próximo dia 19 de novembro, estarão à vista, na Biblioteca da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), desenhos, pinturas e esculturas da docente do Departamento de Matemática da FCUP, Zélia Rocha e do seu filho, Vincent da Rocha Dioh.

Depois de organizar mais de 20 exposições de Vincent, que começou a pintar de forma espontânea aos três anos, Zélia Rocha vai, pela primeira vez, mostrar à comunidade dos seus trabalhos. A docente da FCUP dedica-se a diferentes atividades artísticas desde 2005, mas nunca divulgou o seu trabalho. “Desenhava no sigilo do meu lar quando tinha tempo e vontade para tal, sem pretender levar ao público o resultado do meu trabalho artístico”, conta.

A exposição surgiu de uma conversa no seu gabinete do Departamento de Matemática em que mostrou os desenhos que tinha consigo para digitalizar. A conversa, que era por outros motivos, deu mote à pergunta: “E se expusesse as suas obras na FCUP?”.  Zélia Rocha decidiu aceitar o desafio que lhe então foi lançado pela Biblioteca da Faculdade de Ciências.  “Estou curiosa de saber de que forma o universo FCUP vai reagir à minha expressão plástica. Será que vai apreciá-la, ou não? Uma exposição é sempre uma prova de fogo, é preciso estar preparada para aceitar a reação dos outros ao nosso trabalho”, conta a docente.

Zélia Rocha espera que esta exposição possa ser também um incentivo para que outros colegas possam também se aventurar a fazer algo “para além da sua disciplina de formação”.

“Fazer algo diferente da nossa atividade principal tem o efeito de retemperar a mente e o espírito. É como ir de férias, mas sem precisar de sair de casa”, destaca.

Do papel para a matemática…até ao infinito

Em exposição estarão desenhos baseados em formas e curvas geométricas. A docente da FCUP, também investigadora no Centro de Matemática da Universidade do Porto, conta que tudo começou com um “traçado de certas curvas regulares com simetria de rotação realizadas a esferográfica sobre papel, o mesmo material que tinha nas mãos para fazer matemática”.

Depois dos desenhos, seguiram-se as cores, “tão importantes”. Zélia Rocha dedicou-se a repetir o mesmo modelo em várias tonalidades diferentes, cobrindo o espetro das cores visíveis. “O negro permite definir os contornos e fornece a direção do movimento. Estas são algumas das caraterísticas das minhas obras”, descreve.

A exposição de desenhos é complementada por esculturas realizadas em conjunto por Zélia e o filho Vincent, portador do espetro autista e que, desde os seis anos expõe os seus trabalhos, tendo sido selecionado para três bienais de arte em Portugal. “Trata-se de pequenas peças constituídas por cartolinas e clipes que exibem simetria, algumas das quais inspiradas na coleção de pintura intitulada “Símbolos”. Outras resultam da dobragem de livros ou de catálogos”, conta Zélia Rocha.

Entre os trabalhos em destaque estarão, por exemplo, desenhos sob o título “Vórtices Energéticos”, espirais que, nas palavras da docente, traduzem “algo que começa, digamos, de um ponto, e que vai se desenvolvendo aos poucos, movimentando-se, atraindo mais do mesmo, girando, fortalecendo-se cada vez mais, e cada vez mais…até ao infinito”.

Já no que diz respeito a obras de escultura, os visitantes poderão encontrar, por exemplo,  a “Estrela do Amor”, com destaque para a delicadeza e a beleza das suas formas simétricas e arredondadas.

A exposição “Ensaios” estará patente até 21 de março de 2025, no piso 0 da Biblioteca da FCUP, de segunda a sexta-feira entre as 8h30 e as 18h30.

A entrada é gratuita.