É a primeira vez que corais do mar profundo são incluídos de forma global na Lista Vermelha de conservação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), cuja mais recente versão foi agora publicada. Entre eles estão dois octocorais avaliados pela investigadora Íris Sampaio, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP).
Foi no âmbito de um workshop financiado pela Senckenberg Ocean Species Alliance (SOSA) – um projeto promovido pelo Senckenberg Research Institute, que lidera o IUCN Marine Invertebrate Red List Authority (MIRLA) – que a cientista do CIIMAR fez um estudo de avaliação de octocorais do mar profundo para a IUCN.
Das espécies avalidas, duas surgem agora na última versão da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas publicada no passado dia 28 de outubro, entrando para o rol crescente de novas espécies que reforçam o fenómeno da última extinção em massa do nosso planeta.
Apesar de serem pouco conhecidos, os corais de mar profundo são espécies determinantes na formação de habitats e albergam uma grande diversidade de espécies nos recifes e jardins de coral que formam. As duas espécies de octocorais analisadas por Íris Sampaio – Gyrophyllum hirondellei Studer, 1891 e Paragorgia johnsoni Gray, 1862 – foram avaliadas com estados de conservação global nos níveis de “pouco preocupante” e “quase ameaçada”, respetivamente. Ambas habitam a Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa, sendo que uma delas forma jardins de coral na Crista Médio-Atlântica perto dos Açores.
O estado atual das espécies de octocorais analisados não era conhecido até ao momento. A maioria dos animais na na Lista Vermelha da IUCN eram vertebrados marinhos e invertebrados como corais tropicais. Assim, esta “é a primeira vez que invertebrados marinhos do mar profundo, com exceção dos moluscos, são incluídos na Lista Vermelha de conservação da IUCN à escala global”, explica Íris Sampaio, gestora científica do Biobanco Azul Português, liderado pelo CIIMAR.
No contexto do workshop da SOSA, o grupo de investigadores envolvidos realizou um total de 34 avaliações de invertebrados marinhos selecionados para integrar a Lista Vermelha. Além dos dois octocorais avaliados com a colaboração do CIIMAR, estão nesta lista mais 20 corais do mar profundo e 12 espécies de ameijoas gigantes.
A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas
A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN é a fonte de informação mais completa do mundo sobre o risco de extinção global. É uma ferramenta importante para a proteção e conservação de espécies individuais e de biodiversidade global, fornecendo informações e dados objetivos que comunicam ameaças, informam políticas, influenciam a afetação de recursos e moldam a tomada de decisões no âmbito dos esforços de conservação em todo o mundo.
Segundo Anne Helene Tandberg, zoóloga que lidera a equipa da Autoridade para a Lista Vermelha dos Invertebrados Marinhos, “a Lista Vermelha é uma avaliação de risco fidedigna do potencial de extinção de uma espécie. É importante que esta informação seja utilizada para apoiar o planeamento e a ação de conservação.”
A cientista acrescenta que, “atualmente, o processo de avaliação de uma espécie demora cerca de um ano desde a avaliação até à publicação na Lista Vermelha da IUCN, mas para muitas espécies é muito, muito mais longo. Queremos servir de recurso – tanto para a Lista Vermelha da IUCN como para os investigadores que pretendem avaliar as suas espécies, para ajudar a simplificar e acelerar este processo, assegurando, em última análise, que estes animais importantes estão representados nos esforços de conservação”.
Íris Sampaio reforça este ponto de vista, indicando que “a diversidade da lista vermelha tem de aumentar de forma a se tomarem decisões fidedignas sobre conservação e estudo de biodiversidade.”