O novo programa CaixaImpulse Inovação em Saúde, da Fundação «la Caixa» em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e colaboração do BPI, financiou nove projetos de investigação biomédica portugueses, sendo dois deles do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e um da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

No concurso deste ano do Programa CaixaImpulse Inovação em Saúde, que em Portugal é realizado em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e com a colaboração do BPI, foram atribuídos 3,4 milhões de euros a 29 projetos de Portugal e de Espanha, sendo que o financiamento que virá para as instituições portuguesas é de 850 mil euros.

Em termos de financiamento, os projetos apoiados recebem, consoante o grau de maturidade do projeto, entre 50 mil e 500 mil euros para o desenvolverem nos próximos dois anos. Nesta edição, 16 projetos integram a fase 1 (até 50 mil euros); 11 encontram-se na fase 2 (até 150 mil euros), e 2 na fase 3 (até 500 mil euros). A FCT financia um dos projetos portugueses selecionados na fase 1.

Os três projetos da U.Porto financiados por este Programa encontram-se na fase 1, ou seja estão numa «fase de criação de prova de conceito» na sequência de descobertas científicas.

O i3S, através da investigadora Sílvia Ferreira, do grupo Bioengineered 3D Microenvironments, integra ainda um consórcio liderado por Miguel Gama, da Universidade do Minho, que tem como objetivo o tratamento da artrose.

Melhorar o tratamento com Taxol no cancro da mama

Denominado «Novos medicamentos que modulam as modificações da tubulina para melhorar o tratamento com Taxol no cancro da mama», o consórcio liderado por Sónia Silva, investigadora do grupo «Chromosome Instability & Dynamics» do i3S, integra ainda o investigador Helder Maiato, também do i3S, e Fernanda Borges, docente e investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

O projeto de Sónia Silva centra-se nos microtúbulos, estruturas poliméricas que desempenham um papel crucial nos processos celulares e que estão frequentemente desregulados nas células tumorais, o que os torna um alvo muito eficaz para os tratamentos oncológicos.

De acordo com a investigadora do i3S, “os medicamentos que têm como alvo estas estruturas, como o Taxol, alteram a sua função normal, impedindo a divisão e a proliferação das células tumorais, sendo, por isso, eficazes nos tratamentos de quimioterapia. No entanto, estes medicamentos estão associados a efeitos secundários graves e os tumores desenvolvem frequentemente resistência a este tipo de fármacos, conduzindo a metástases, que continuam a ser a principal causa de mortalidade dos doentes”.

Em investigações recentes, a equipa que vai desenvolver este projeto descobriu uma relação causal entre modificações específicas das tubulinas, os blocos de construção dos microtúbulos, e o grau de sensibilidade das células tumorais ao Taxol. Este projeto, explica Sónia Silva, “visa identificar novos compostos que possam alterar uma modificação crítica sofrida pelas tubulinas, aumentando assim a sua sensibilidade à quimioterapia à base de Taxol”.

O objetivo final, enfatiza a investigadora, “é desenvolver novas estratégias de tratamento personalizadas e mais eficazes para tratar o cancro da mama, reduzindo simultaneamente os efeitos secundários do Taxol”.

Uma plataforma in vitro para o diagnóstico precoce do HDGC

Igualmente financiado com cerca de 50 mil euros, o projeto liderado por Daniel A. Ferreira centra-se no diagnóstico precoce do cancro gástrico difuso hereditário (HDGC), uma doença rara que é diagnosticada em cerca de 50 mil pessoas por ano em todo o mundo, predispondo os indivíduos afetados a formas altamente agressivas de cancro gástrico e da mama que são difíceis de detetar e tratar, resultando num mau prognóstico.

As mutações hereditárias no gene CDH1, explica Daniel A. Fereira, «são a principal causa de doença nos doentes com HDGC. As tecnologias de imagem atuais não são capazes de detetar o início precoce do cancro gástrico relacionado com o CDH1, pelo que, para os portadores destas mutações, a melhor estratégia terapêutica disponível é a remoção preventiva do estômago. Esta abordagem radical salva vidas, mas tem problemas de saúde a longo prazo».

Sónia Silva e Daniel A. Ferreira. (Foto: i3S)

A equipa agora distinguida desenvolveu uma plataforma in vitro que funciona como um “avatar” do doente. Para o conseguir, adianta o investigador do i3S, «combinamos a tecnologia organ-on-a-chip com células derivadas dos próprios doentes. Este tipo de tecnologia simula o microambiente e os principais aspetos funcionais dos órgãos vivos numa escala microscópica». Utilizando esta plataforma, acrescenta, «o projeto tentará identificar um painel de biomarcadores relevantes que possam determinar quais os doentes que estão livres da doença e quais os que já começaram a desenvolvê-la».

O objetivo é melhorar a gestão do HDGC, oferecendo «uma abordagem personalizada para cada doente, melhorando a sua qualidade de vida e ajudando os médicos a decidir sobre o melhor momento de ação, para uma cirurgia de redução de risco». Os resultados esperados deste projeto, sublinha Daniel A. Ferreira, «criarão as bases para o desenvolvimento futuro de um dispositivo de diagnóstico imediato para uma melhor gestão de indivíduos com um risco muito elevado de desenvolver a doença.

Um método inovador para diagnóstico de cancro da bexiga

Por fim, o projeto “An Innovative Approach for Non-Invasive Bladder Cancer Detection and Patient Monitoring”, liderado pelo investigador Raphaël Canadas, da Faculdade de Medicina (FMUP), irá receber 49.999 euros para o desenvolvimento de um método de diagnóstico de cancro da bexiga não invasivo e de baixo custo, com a integração de ultrassons e da imagiologia e recurso a inteligência artificial (IA).

A investigação conduzida por Raphaël Canadas pretende desenvolver um método de diagnóstico não invasivo que terá pelo menos a mesma precisão da cistoscopia, mas será mais económico e permitirá a identificação de células tumorais na urina.

Este projeto deverá focar-se nas características das células tumorais e na utilização de técnicas de imagem, visando a criação de um dispositivo de baixo custo, com recurso à inteligência artificial.

Raphaël Canadas. (Foto: DR)

O tratamento do cancro da bexiga continua a ser um desafio, apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas na investigação do cancro. Atualmente, não existem biomarcadores moleculares nas diretrizes do diagnóstico clínico que identifiquem o cancro na bexiga, cuja taxa de recorrência atinge os 70%.

O método de diagnóstico de referência é a cistoscopia, um procedimento invasivo, realizado em ambiente hospitalar, que torna este tipo de cancro num dos mais dispendiosos para o sistema de saúde.

“A deteção de células tumorais na urina, por serem rarefeitas, conduz a falsos negativos em exames como a citologia, deixando muitos casos com diagnóstico inconclusivo e levando à integração de doentes que podem ser de baixo risco no programa de alto risco, o mais desconfortável e caro, por uma questão de prevenção face ao diagnóstico”, explica Raphaël Canadas.

Sobre o CaixaImpulse Inovação em Saúde

O Programa CaixaImpulse Inovação em Saúde foi criado em 2015 pela Fundação ”la Caixa”. Desde então, foram já atribuídos 24,7 milhões de euros e apoiados 231 projetos, que levaram à criação de 44 spinoffs e à consequente obtenção de cofinanciamento adicional, através de outros concursos ou de investidores privados, no valor de mais de 100 milhões de euros.

Desde a sua associação a este Programa, em 2022, a FCT já apoiou diretamente quatro projetos liderados por instituições nacionais, com cerca de 218 mil euros.

Este Programa tem como objetivo é contribuir para a transferência dos resultados da investigação para a sociedade e para o mercado e fomentar a criação de novos produtos, serviços e empresas relacionados com as ciências da vida e a saúde.