A evolução histórica, as vantagens e os desafios do Ensino Profissionalizante para jovens em Portugal estão no centro de um seminário de dois dias a decorrer a 24 e 25 de outubro na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).
Organizado pela comunidade de prática de investigação Jovens, Educação, Diversidade e Inovação (JEDI) do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE), e pela Comissão de Ensino e Internacionalização do Conselho Geral da U.Porto, o seminário intitula-se O ensino profissionalizante para jovens em Portugal: tensões, desafios e oportunidades em 50 anos de democracia e contará, para além de painéis, com uma Mostra de trabalhos de alunos de várias entidades formadoras da região Norte.
Combater a desvalorização
O ensino profissionalizante foi, desde o 25 de abril, objeto de várias alterações, espelhando as crescentes necessidades de qualificação de um país em processo de democratização e abertura à Europa. Segundo Alexandra Doroftei, investigadora do CIIE e membro das comissões organizadora e científica do Seminário, “após uma rutura com o ensino profissionalizante no pós-25 de abril, este foi reintroduzido em 1983, tendo passado por diversas revisões, com a introdução de novas modalidades como sejam o Sistema de Aprendizagem, em 1984, e a criação das Escolas Profissionais e dos cursos profissionais como os conhecemos hoje, em 1989″.
Desde então, o ensino profissionalizante para jovens tem vindo a crescer, abarcando atualmente cerca de 45% dos alunos do ensino secundário. Apesar dessa adesão, persistem crenças desvalorizadoras relativamente a este tipo de ensino.
“Em Portugal, qualquer trabalho de natureza mais prática tende a ser socialmente desvalorizado. Esta é uma situação bastante diferente de outros países, como a Alemanha, onde o ensino profissionalizante (VET) é, desde há décadas, reconhecido socialmente, e onde existe inclusivamente formação universitária específica para docentes VET”, relembra a investigadora, sublinhando, no entanto, que as autoridades políticas portuguesas pretendem valorizar este tipo de ensino: “Por exemplo, um dos objetivos para 2030 é ter 55% dos estudantes do Ensino Secundário a frequentar cursos profissionalizantes”.
Do ensino profissionalizante à Universidade
Um aluno saído do Ensino Profissionalizante pode concorrer ao Ensino Superior através de um concurso especial. No entanto, são maioritariamente os politécnicos que se abrem a esta possibilidade.
“Atualmente, na U.Porto, o único curso que o faz é Ciências da Educação. Parece-me pouco compreensível que as Instituições de Ensino Superior não abram vagas para este concurso especial, até porque este implica um exame feito na própria universidade à qual a pessoa se candidata, e só o pode fazer na mesma área de educação e formação em que se enquadra o curso de Ensino Superior. Para além de que os alunos formados no ensino profissionalizante também podem concorrer pelo Concurso Nacional de Acesso”, refere Alexandra Doroftei.
Ainda segundo a investigadora, “esta posição sobre o concurso especial parece assentar em representações de que estes estudantes são menos capazes de aprender. Neste seminário, pretendemos contextualizar o ensino profissionalizante nos últimos 50 anos, mas este é um fenómeno mais enraizado. Vem muito de trás, por exemplo, da forma como a sociedade (des)considera determinadas profissões”.
Uma Mostra em prol da qualidade
O Cindor, a Academia Contemporânea do Espetáculo, a Escola Artística e Profissional Árvore ou a Escola Profissional Raul Dória estão entre as instituições que participam numa Mostra que acontece em paralelo ao Seminário.
“A intenção é exibir os trabalhos de final de curso dos alunos para que se possa perceber o seu nível de exigência e qualidade e, assim, contribuir para a valorização deste tipo de ensino”, antecipa Alexandra Doroftei.
As inscrições para o Seminário estão abertas até 23 de outubro de 2024.