Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) analisou 300 estudos científicos sobre lesões neurológicas ocorridas em contexto desportivo, tendo concluído que a lesão direta dos nervos periféricos, as lesões medulares e as lesões crânio-encefálicas são as mais reportadas pela comunidade médico-científica.

Neste trabalho de revisão, os investigadores identificaram 33 modalidades com publicações científicas que relacionam a prática desportiva a lesões neurológicas.

É o caso do atletismo, sobretudo com lesões de natureza periférica e transitória e algumas situações de risco de vida associadas ao esforço físico extremo, o beisebol, com lesões neurológicas associadas ao arremesso, e o futebol, com casos de concussão e síndrome pós-concussão.

“É um facto que a maioria das lesões são benignas e transitórias, mas existem situações que podem tornar-se permanentes e que podem ter impacto na mobilidade e na mortalidade dos atletas”.

E é precisamente por isso que o médico e investigador Rui Araújo, um dos autores deste estudo, considera que as conclusões que resultam da investigação são “relevantes” para as pessoas envolvidas na prática desportiva, nomeadamente as equipas médicas e os próprios atletas.

Estudo é importante para agir com eficácia

É importante que as equipas médicas tenham conhecimento da variedade e extensão destas lesões para prestarem o auxílio mais eficaz. Aos atletas, importa estarem informados de eventuais riscos, cumprir as instruções técnicas de segurança de treinadores e equipas médicas, bem como a utilização de equipamento protetor de forma rigorosa”, esclarece o professor da FMUP.

Embora o estudo “não permita afirmar que um ou outro desporto tenha maior frequência de lesões neurológicas”, as suas conclusões “podem ser úteis e servir como um guia de consulta rápida” para médicos e outros profissionais de saúde que abordem doentes com queixas neurológicas no contexto desportivo.

“O facto de agora sabermos que tipo de lesões estão mais associadas a determinadas práticas desportivas poderá colocar em marcha manobras ou gestos preventivos como, por exemplo, o uso de proteções adequadas para evitar ou reduzir o impacto do traumatismo crânio-encefálico”, exemplifica o médico neurologista.

Os autores dão como exemplo uma condição específica que afeta, sobretudo, os praticantes profissionais de golfe e beisebol, os denominados yips, que “acontecem quando há uma perda repentina e inexplicável da capacidade de executar certas habilidades”.

Intitulado “It’s in the game: A review of neurological lesions associated with sports”, o artigo publicado no Journal of the Neurological Sciences é da autoria dos médicos e investigadores Mariana Pedrosa, Bárbara Martins e Rui Araújo.