O arquiteto Gabriel Weber, estudante do Programa de Doutoramento da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), é o vencedor da a 20.ª edição do Prémio Fernando Távora, com a proposta “Do Benim ao Benim: Projetos Marginais, Arquiteturas Radicais”.

Numa decisão tomada por unanimidade, o júri do galardão reconheceu neste “périplo pela Nigéria, Benim e Brasil, mais como uma expedição, pelo elemento aventura e descobertas, neste caso de vestígios de uma arquitetura local, que, por obedecer a circunstâncias históricas, geográficas não deixa de estar inscrita num quadro global, e de constituir um contributo inspirador e científico para um reconhecimento de um povo com as suas características, leis e sabedorias”.

O júri considerou ainda que “há uma memória e conhecimentos que devem ser preservados, respeitados, e trazidos à luz de uma nova leitura perante novos cenários. Não é do etnográfico que falamos, que esse situa-se numa superficialidade decorativa. São muito mais profundas as raízes que aqui se procuram e interpretam. Penetrar nesse encantamento é um projeto notável de viajante /arquiteto”.

A proposta vencedora centra-se na arquitetura Agudá, com origem no retorno de escravizados libertos do Brasil rumo ao Golfo do Benim. Os Agudás estabeleceram-se em África, numa área que percorre todo o Golfo do Benim, da atual cidade de Lagos, na Nigéria, até Acra, no Gana, na qual organizam comunidades em torno de uma identidade brasileira inventada, materialmente expressa pela arquitetura.

O júri da 20.ª edição do Prémio foi presidido pela pintora e escritora Mónica Baldaque, nomeada enquanto figura de relevo cultural, externa ao campo disciplinar da arquitetura, e constituído também pelos arquitetos Andrea Soutinho (indicada pela Fundação Marques da Silva), Carlos Prata (indicado pela Casa da Arquitectura),  Teresa Fonseca (em representação da Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitetos) e, também, Luísa Távora (designada pela família do Arquiteto Fernando Távora).

Com este prémio,

A proposta “Do Benim ao Benim: Projetos Marginais, Arquiteturas Radicais” debruça-se sobre a arquitetura Agudá, com origem no regresso de escravizados libertos do Brasil para o Golfo do Benim. Na imagem, a Grande Mesquita de Porto Novo no Benim (Foto: tatewakinio_2018)

A cerimónia de anúncio do vencedor decorreu no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos e incluiu uma conferência pela pintora e escritora Mónica Baldaque, membro de júri da presente edição do Prémio e Presidente do Círculo Literário Agustina Bessa-Luís. Sob o título “Não faço férias, faço viagens”, a conferência abordou os cruzamentos no tempo e na amizade entre Agustina Bessa-Luís, Alberto Luís (seu marido) e Fernando Távora.

Na sua conferência, Mónica Baldaque assinalou a coincidência de três centenários que se cruzam no tempo e na amizade: Agustina Bessa-Luís (2022/23), o seu marido Alberto Luís (2023/24) e o arquiteto Fernando Távora (2023/24).

Durante a sessão, a pintora e escritora fez uma reflexão sobre os percursos de vida destas três figuras e destacou a viagem conjunta que realizaram ao Brasil em março de 1989, no âmbito do ciclo “Os Portugueses ao Encontro da sua História”. Desta viagem, resultaram dois diários – um escrito e outro desenhado – que documentam a experiência.

Sobre Gabriel Weber

Natural do Rio de Janeiro, é arquiteto, mestre pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (2022). Logrou o Prémio Viana de Lima em 2023 de melhor média do curso às disciplinas de Projeto. Transferiu e reiniciou a formação na FAUP em 2017, após um incêndio atingir o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde cursava o segundo ano. É autor do livro “Manual de prácticas del autobús – 474 Jacaré Copacabana” (Barcelona: NoLibros, 2024), desdobramento da sua dissertação de mestrado, finalista do Archiprix Portugal em 2023.

Atualmente, é estudante no Programa de Doutoramento da FAUP, no qual desenvolve a investigação sobre o Projeto Agudá, orientada pelos professores Carla Garrido de Oliveira, da Universidade do Porto, e Roberto Conduru, da Southern Methodist University-Texas. É bolseiro pela FCT – Fundação para Ciência e Tecnologia.

Estagiou no atelier portuense MeroOficina e colaborou com o escritório do arquiteto Adalberto Dias. Em paralelo, participou como freelancer na elaboração de desenhos para o livro “Arquitectura do Bacalhau & Outras Espécies”, de André Tavares e Diego Inglez de Souza (Porto: Dafne, 2022); e para a exposição “Marina Tabassum. Materiais, Movimentos e Arquitetura no Bangla-desh”. (Lisboa: CCB, 2024).

Sobre o Prémio Fernando Távora

O Prémio é organizado pela Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos (OASRN) em parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos, a Casa da Arquitectura, a Fundação Marques da Silva, contando com o patrocínio, nesta 20ª edição, da Ageas Seguros.

Surge como homenagem ao arquiteto Fernando Távora que, enquanto arquiteto e pedagogo, foi uma influência para sucessivas gerações de arquitetos. Relaciona-se com os hábitos do arquiteto que, durante toda a vida, viajou pelos vários continentes para estudar a arquitetura de todas as épocas. É um prémio anual e nacional destinado a todos os arquitetos inscritos na OA, para a melhor proposta de viagem. O objetivo é incentivar e valorizar a Viagem, enquanto instrumento de formação e de apoio à prática profissional do arquiteto.

Esta é a décima segunda vez que o galardão é entregue a antigos estudantes e/ou investigadores da FAUP. Em edições anteriores, venceram Maria Moita, Paulo Moreira, Sidh Mendiratta, Susana Ventura, André Tavares, Maria Neto, Isa. Clara Neves, e as equipas Carla Garrido de Oliveira, Filipa de Castro Guerreiro e Pedro Bragança, Margarida Quintã e Luís Ribeiro da Silva, Carlos Machado e Moura e Pedro Abranches Vasconcelos, e Inês Vieira Rodrigues.

Esta 20.ª edição integra o programa de Comemorações do Centenário de Nascimento do Arquiteto Fernando Távora, organizado pela Ordem dos Arquitectos, a Fundação Marques da Silva, a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, o Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra e a Escola de Arquitectura, Arte e Design da Universidade do Minho.