O uso de antidepressivos não só diminui o risco de tentativas de suicídio em jovens adultos tratados com estes medicamentos, como é crucial para prevenir ideias e comportamentos deste tipo em pessoas que sofrem de depressão. Esta é a principal conclusão de um trabalho desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e publicado no European Psychiatry, jornal oficial da European Psychiatric Association.
O objetivo era avaliar se o tratamento com antidepressivos, nomeadamente com inibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina, está associado a um risco maior de comportamentos suicidas em jovens medicados. Os resultados mostram que esses receios não têm fundamento.
Os investigadores da FMUP averiguaram o que aconteceu numa série de ensaios clínicos e concluíram, pelo contrário, que o tratamento com estes fármacos reduz o risco de suicídio em doentes diagnosticados com depressão, muitas vezes grave.
Mais do que isso, os cientistas sublinham que evitar a toma de antidepressivos devido a estes receios infundados pode, na verdade, ter o efeito contrário. Isto é, pode efetivamente aumentar o risco de surgirem essas ideias e esses comportamentos que ameaçam a própria vida. Este perigo dever-se-á a um tratamento inadequado da depressão.
“A escolha do tratamento quando se prescrevem antidepressivos é muito influenciada pelo seu perfil de segurança e de tolerabilidade. Embora sejam muito raros, certas ideias e comportamentos detetados em doentes em fases iniciais do tratamento continuam a ser uma preocupação, sobretudo pela imprevisibilidade e pelas suas consequências”, indicam os autores, reforçando a importância de uma vigilância clínica atenta, especialmente nas primeiras semanas de tratamento.
Antidepressivos são seguros em qualquer idade
Em 2004, a Food and Drug Administration (FDA) lançou um alerta face a potenciais riscos em adolescentes e, mais tarde, também em jovens adultos. Os estudos mostram que esses riscos estão associados, principalmente, a uma fraca resposta do doente ao tratamento, à própria gravidade da depressão e a componentes emocionais.
No entanto, estes receios, amplamente difundidos, podem estar a privar muitos adolescentes e jovens de medicamentos que são considerados de primeira linha para o tratamento eficaz e seguro da depressão, prolongando os sintomas e o sofrimento causado pela doença, de forma desnecessária.
Por isso, os investigadores da FMUP realçam que existe evidência crescente de que os fármacos para a depressão são seguros nas diferentes idades e aconselham a realização de estudos que possam confirmar a importância de iniciar o tratamento mais precocemente.
Este trabalho envolveu as investigadoras Inês Fonseca Pinto, Alexandra Elias de Sousa e Maria Augusta Vieira-Coelho, da FMUP.