Promover estilos de vida saudáveis nas crianças e adolescentes açorianos é o grande objetivo do DESpertar, um projeto coordenado por José Maia, professor catedrático da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), e cujos resultados foram recentemente apresentados no II Congresso Internacional “DESpertar no combate à pandemia motora – Os Resultados”, realizado no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, nos Açores.
Num contexto em que a pandemia de Covid-19 trouxe desafios sem precedentes, impactando a saúde física e mental dos jovens e exacerbando problemas já existentes como a obesidade, o sedentarismo e a redução dos níveis de desempenho motor, o Projeto DESpertar procurou mitigar as consequências a longo prazo da pandemia, fornecendo uma base de dados robusta sobre o crescimento, o desempenho motor, comportamentos de saúde e aspetos psicológicos da população jovem açoriana.
Ao longo de três anos, a equipa de investigadores reuniu dados essenciais sobre o crescimento físico, o desempenho motor, os hábitos de atividade física, a atenção e a memória, bem como a destreza motora fina e aspetos de natureza psicológica e estado nutricional de 5.330 alunos de escolas açorianas, entre os 3 e os 18 anos.
De acordo com os resultados obtidos, uma em cada seis crianças entre os 3 e os 5 anos de idade tem sobrepeso ou é obesa. Dos 6 aos 10 anos, a frequência passa para uma em cada duas e, dos 11 aos 18 anos, passa para um em cada três. Estas crianças/jovens em risco são as que têm hábitos alimentares menos saudáveis.
As crianças do pré-escolar apresentam baixo nível de desempenho motor, o mesmo ocorrendo nas crianças do 1.º ciclo do ensino básico. Nestas, a proficiência motora em habilidades fundamentais é reduzida. A taxa de sucesso nas provas de aptidão física revelou-se igualmente inferior à verificada no arquipélago há 15 ou 20 anos atrás.
Constatou-se ainda agregação familiar em fatores de risco metabólico, tendo-se concluído que os filhos têm níveis de atividade física inferiores aos pais.

O DESpertar foi um dos projetos que valeu a José Maia a conquista do Prémio Investigação Científica do Comité Olímpico de Portugal (COP), em 2023. (Foto: COP)
Resultados “não poderão ser um fim”
A propósito dos resultados do DESpertar, a Secretária Regional da Educação Cultura e Desporto do Governo dos Açores, Sofia Heleno Ribeiro, afirmou que o projeto “conduz a uma profunda reflexão da sociedade açoriana onde, obviamente, se inclui a família, a escola, o movimento associativo desportivo e todos os outros agentes que interagem com crianças e jovens durante o seu processo de desenvolvimento”
Perante uma plateia onde se contavam o Diretor da FADEUP, António Manuel Fonseca, o coordenador do Projeto e membros da equipa de investigação de várias universidades do país e do estrangeiro, e decisores políticos da Região Autónoma dos Açores, Sofia Helena Ribeiro sublinhou que os resultados obtidos “não poderão ser um fim, mas sim o início de um processo mais interventivo, socialmente mais denso e, fundamentalmente, mais eficaz na procura de oportunidades de atividade física e/ou desportiva que invertam o cenário atual”.
A responsável pela área da educação, cultura e desporto açorianos continuou, não deixando de referir que “o Governo dos Açores se encontra comprometido com a causa”, para depois concluir acrescentando que este “se encontra a trabalhar ao nível da conceptualização e da operacionalização de medidas que contribuam para dar resposta ao desafio”.
Paralelamente ao DESpertar, foram já implementados programas como “Dos Zero aos Jogos Olímpicos” e “Açores Ativos”, que abrangem vários ciclos de escolaridade, “num verdadeiro processo de evolução e desenvolvimento”.
Um exemplo para o futuro
Com os resultados disponibilizados a encarregados de educação, professores e decisores políticos, o Projeto DESpertar apresentou um conjunto variado de sugestões em termos de políticas públicas que incentivem estilos de vida ativos e saudáveis nas crianças e adolescentes açorianos, com o objetivo de reduzir os impactos negativos da pandemia.
Espera-se que as recomendações do projeto possam ser implementadas não apenas na Região Autónoma dos Açores, mas também noutros locais onde se sentiu o impacto da pandemia em termos físicos, motores e psicológicos e que exijam programas adequados de intervenção.
Para mais informações, consultar a página online do Projeto DESpertar.