A afluência de público na inauguração da exposição “Mais do que Casas: Como vamos habitar em abril 2074?” superou largamente as expectativas, com 4.292 pessoas a marcarem presença na sessão realizada, no passado dia 27 de setembro, no MUDE – Museu do Design, em Lisboa.
Uma iniciativa da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), em parceria com o MUDE – Museu do Design, esta exposição apresenta a investigação produzida no ano letivo de 2023/2024 pelos estudantes e docentes das faculdades de Arquitetura, Arquitetura Paisagista e Belas Artes em Portugal.
A cerimónia de inauguração da exposição contou com intervenções da Vereadora da Habitação e Obras Municipais da Câmara Municipal de Lisboa, Filipa Roseta, a Diretora do MUDE, Bárbara Coutinho, em representação do Diretor da FAUP, Filipa Guerreiro, e dos curadores Teresa Novais e Luís Tavares Pereira.
Reunião de saberes
Como enfrentar a crise habitacional, adaptando cidades e territórios ao contexto económico e social, a mudanças climáticas e tecnológicas? Foi a pergunta que mobilizou as 60 propostas dos 1.751 estudantes e 281 docentes de 25 cursos de Arquitetura, Arquitetura Paisagista e Belas Artes de todo o país representados em “Mais do que Casas: Como vamos habitar em abril 2074?”.
Com curadoria dos arquitetos Teresa Novais e Luís Tavares Pereira, a exposição decorre de um programa mais vasto que a FAUP promoveu para celebrar os 50 anos da Revolução de abril de 1974, criando um espaço de união e debate entre estudantes e docentes das instituições de ensino superior de Arquitetura, Arquitetura Paisagista e Belas Artes de Portugal.
O MUDE acolhe esta iniciativa, nas palavras da diretora do Museu, Bárbara Coutinho, pela “relevância do tema, as questões lançadas e, principalmente, a metodologia colaborativa entre as várias faculdades”.
“É fundamental que a perspetiva do design como disciplina projetual, em estreita relação com as outras disciplinas de projeto e saberes, em especial a arquitetura, deva fazer parte do debate e das questões estruturantes sobre os problemas centrais da atualidade, contribuindo, assim, para o seu conhecimento, disseminação e partilha com o público, gerando intercâmbios intergeracionais e multiculturais que permitam um desenvolvimento sustentável”, acrescenta a responsável.
Como vamos habitar em abril de 2074?
Tomando como ponto de partida a inquietação sobre o problema da habitação que hoje se vive, “Mais do que Casas” propõe uma reflexão crítica sobre três princípios fundamentais: a diversidade do tecido social como norma e a inevitabilidade da transformação urbana para garantir o “direito à cidade”, a consciência de que as melhores e novas ideias em arquitetura devem e podem operar esta transformação e a lembrança da energia irradiante e transformadora do 25 de abril de 1974 para nortear as ações de hoje e do futuro.
Com cerca de 60 propostas desenvolvidas por cerca de 1751 estudantes e 281 docentes ao longo do ano letivo 2023/2024, a exposição espelha a capacidade de a academia contribuir com matéria que informa, questiona e labora para a construção de um país melhor.
A exposição organiza-se em torno de oito núcleos, correspondentes a oito questões: Como pensar a cidade inclusiva? Como habitar territórios de baixa densidade? Como desbloquear inovação de modelos de habitação? Como dar resposta à crise da habitação? Como promover habitação sustentável? Como aplicar a participação dos cidadãos? Como adaptar a cidade às alterações climáticas? Como operacionalizar os avanços tecnológicos?
Para os curadores, “nem sempre as respostas a estas questões se fazem olhando apenas para a frente”, sublinhando que é “importante retirar ensinamentos de processos anteriores”.
É nesse contexto que a exposição destaca também três obras públicas do período pós-revolução como exemplos de superação do problema da habitação: Casal das Figueiras de Gonçalo Byrne, em Setúbal (312 habitações construídas, 1975-79), Quinta da Malagueira de Álvaro Siza, em Évora (1100 habitações, 1977-98), e Edifício das Lameiras de Noé Diniz, em Famalicão (290 habitações, 1978-83). As três obras correspondem a modelos de futuro que importa recuperar como objeto de reflexão para as atuais e futuras políticas de habitação.
O desenho expositivo foi concebido por Diogo Aguiar Studio (Diogo Aguiar é docente convidado da FAUP), que criou, no segundo piso do renovado MUDE, uma grande linha com cerca de 50 metros de comprimento e vários núcleos que agregam o conjunto das cerca de sessenta propostas de trabalho, formados a partir de tijolo, um material que será reutilizado posteriormente e que, segundo o arquiteto, “expressa a ideia de unidade e conjunto, de (re)começo, de jogo, de possibilidade, de laboratório e de abrigo, e, por isso mesmo, do direito à casa e à liberdade”.
Mais do que Casas: Como vamos habitar em abril 2074?” ficará patente ao público até 15 de janeiro de 2025, no MUDE.
A exposição conta ainda com um programa paralelo que irá desenvolver-se ao longo da sua abertura ao público, incluindo visitas orientadas pelos curadores e convidados, apresentações e debates que irão decorrer no auditório do Museu ou num espaço contíguo à própria mostra.
Sobre o Programa “Mais do que Casas”
Para celebrar o 50.º aniversário do 25 de abril de 1974, a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto organiza o programa “Mais do que Casas”. Esta efeméride merece ser comemorada com uma reflexão sobre temas que então e hoje permanecem como um desafio e uma necessidade por cumprir.
Com este intuito, esta iniciativa reúne as Escolas de Arquitetura, de Arquitetura Paisagista e de Belas Artes em Portugal, procurando contribuir com uma reflexão crítica e propositiva sobre os desafios contemporâneos da habitação e do espaço público na construção de uma sociedade intercultural e de promoção da cidadania global.
O programa, que se iniciou em abril de 2023, integra seminários, mostra, publicações, conferência internacional para instigar, informar e comunicar a investigação produzida pelos estudantes nas instituições universitárias no ano letivo de 2023/2024.
Tendo como referência a memória da experiência dos programas de habitação que ocorreram imediatamente após o 25 de abril de 1974, nomeadamente o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), pretende-se perspetivar um contributo para o futuro que pretendemos para 2074, 100 anos depois do 25 de abril.
A FAUP dedica esta iniciativa ao Professor Arquiteto Nuno Portas e, na sua pessoa, a todos os participantes no processo SAAL.