O percurso começa às 15h00, no Laboratório Ferreira da Silva, localizado no polo central do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP), e continua pelo Edifício Histórico da Reitoria, para ir “desaguar” à rua. No próximo dia 20 setembro, é assim que a U.Porto vai dar a conhecer a impressão digital da academia na cidade, através de duas visitas guiadas – e gratuitas -, inseridas nas Jornadas Europeias do Património 2024.
Quem foi Bento de Sousa Carqueja (1860-1935)? É a questão que se vai colocar aos visitantes no arranque. Para além de diretor do jornal O Comércio do Porto e ativista social (promoveu a construção de bairros operários, creches e a Fábrica de Papel do Caima), foi também docente e estudante da academia e é, precisamente, para esta fase da sua vida que se vai chamar a atenção dos participantes da primeira visita, com ponto de encontro marcado para o histórico Laboratório Ferreira da Silva
O jovem Bento Carqueja teve como professor Adriano de Paiva Brandão (1847-1907), nome que se associa à história da televisão. Aproveitando uma recente descoberta (da variação da condutividade elétrica do elemento químico selénio com a frequência da luz incidente), este docente de Física da Academia Politécnica publicou, em 1878, na revista O Instituto, uma ideia para a transmissão de imagens à distância.
Sobre o efeito que esta publicação teve poderemos apenas especular, mas o certo é que, em 1880, Bento de Sousa Carqueja submeteu, em França, tendo-lhe sido atribuída, uma patente para um dispositivo baseado na ideia proposta por Adriano de Paiva. Resta acrescentar que este foi também um período particularmente fértil em invenções como, por exemplo, a máquina magneto-elétrica de Gramme, o telefone de Bell e o fonógrafo de Edison, cujos exemplares vai poder ver, de perto, no Laboratório Ferreira da Silva.
A visita será orientada por Marisa Monteiro, curadora dos instrumentos científicos do MHNC-UP. A participação é gratuita, mediante inscrição prévia através do e-mail [email protected]
A segunda visita tem início às 17h00, no átrio principal do Edifício Histórico, e levará os participantes até alguns dos espaços nobres da Reitoria, para depois os convidar a sair. Tudo para dar a conhecer como “os filhos” da academia ajudaram a “moldar” a cidade.
Dizem que é “dos Leões”, mas como se chama, efetivamente, a praça que dá acesso à entrada principal da Reitoria? Mesmo em frente, é difícil não ver o pavão de asas abertas que se ergue e domina a construção estilo Art Déco, do século XIX, onde ficam os Armazéns Cunha. Poderá não saber, mas o edifício é de autoria do arquiteto Manuel Marques (1890-1956), formado na Escola de Belas-Artes do Porto (antecedente da FAUP e da FBAUP).
Avançando pela direita dos Armazéns Cunha, chega-se à Praça que presta homenagem ao comandante dos Bombeiros Voluntários do Porto que se destacou no combate ao incêndio que, em 1888, destruiu o Teatro Baquet. Por que razão optaríamos por este percurso? Porque o busto de Guilherme Gomes Fernandes tem a assinatura de Bento Cândido da Silva, antigo estudante de Desenho da Academia de Belas-Artes do Porto.
Se decidirmos caminhar até à Praça Carlos Alberto, vamos encontrar, bem no centro, o “Monumento aos Mortos da Grande Guerra” (1914-1918). No entanto, a ideia será fazer um ligeiro desvio para recordar o 14 de maio de 1958, dia em que milhares de pessoas assistiram ao comício do general “sem medo”. O candidato à presidência da República discursou na varanda do Café Luso, durante aquela que terá sido a maior concentração de pessoas na praça. Ficaremos frente-a-frente com a estátua de Humberto Delgado, da autoria do escultor José Rodrigues, antigo estudante da Escola de Belas-Artes do Porto.
Também podemos dar a volta ao edifício da Reitoria até chegar ao Jardim da Cordoaria… Que, já agora, se chama João Chagas. E o que nos levaria a visitar este jardim? Nada como perguntar à mediadora cultural desta visita e historiadora de arte, Susana Pacheco Barros.
As inscrições fazem-se através do e-mail: [email protected].
Sobre as Jornadas Europeias do Património
As Jornadas Europeias do Património são uma iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia que envolve mais de 50 países, com o propósito de sensibilizar os povos europeus para a importância da preservação, salvaguarda e valorização do património.
A edição deste ano tem como tema “Rotas, Redes e Conexões” e será assinalada, em Portugal, com um programa alargado de iniciativas, coordenado pelo Património Cultural, I.P., e a decorrer de 20 a 22 de setembro.