O Granito do Porto, presente em edifícios históricos da cidade invicta como a Reitoria da Universidade do Porto, o Hospital de Santo António e a Sé do Porto, foi reconhecido como Pedra Património Mundial, num processo gerido pela Subcomissão da Pedra Patrimonial, da União Internacional das Ciências Geológicas, IUGS, (International Union of Geological Sciences) e apadrinhado pela UNESCO.
O anúncio oficial decorreu recentemente no Congresso Geológico Internacional, organizado pela IUGS e no qual a UNESCO atribuiu ao Granito do Porto um diploma que assim o certifica.
A trabalhar nesta candidatura desde 2013, Maria Ângela Almeida, geóloga e professora da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), foi a responsável por este feito. O facto de não existirem pedreiras ativas com granito na cidade do Porto, um dos requisitos solicitados, dificultou esta missão, mas a docente não desistiu.
Com um artigo publicado em 2015, juntamente com o investigador e professor Arlindo Begonha, da Faculdade de Engenharia (FEUP), sobre a importância histórica e cultural do Granito do Porto, Maria Ângela Almeida voltou a tentar, em 2023, com uma candidatura mais detalhada, tendo conseguido que esta pedra integrasse a lista das 55 primeiras pedras mundiais consideradas Património da UNESCO.
A designação de “Pedra Património da UNESCO” pretende realçar o conhecimento geológico, uso e conservação da pedra natural com importância histórica em todo o mundo. Consiste no reconhecimento internacional de pedras naturais cuja aplicação contribui para a compreensão da evolução de diferentes civilizações ao longo da História, em particular através da identificação da pedra local aplicada no património construído, explorada em pedreiras históricas.
Como tudo começou…
Foi Fernando Noronha, professor da FCUP e reconhecido geólogo do Porto, quem desafiou Maria Ângela Almeida a trabalhar com esta pedra natural. “Entrou no meu gabinete com uma caixa de amostras de granito e perguntou-me se estava interessada em estudar o granito do Porto”, recorda a professora do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da FCUP.
A resposta foi positiva e daí resultou um trabalho que a fez mergulhar, também, na história da cidade.
“É um granito de duas micas, que se instalou há cerca de 310-320 milhões de anos”, descreve a professora, que estudou, ao pormenor, este granito e as suas características petrográficas, geoquímicas e petrogenéticas. “Quisemos compreender a relação das propriedades intrínsecas do granito com a riqueza e diversidade do património construído na cidade, pois grande parte da cidade do Porto se desenvolveu sob este maciço”, acrescenta Maria Ângela Almeida.
“Chama-se Granito do Porto porque foi, pela primeira vez, na cidade do Porto, nos anos 30, que este tipo de granito recebeu uma atenção diferente. O estudo de granitos semelhantes em outras regiões do norte do país teve início neste granito do Porto”, conta. Apesar do nome, não é exclusivo do Porto, existindo noutras cidades como a Póvoa de Varzim, e parte de Vila Nova de Gaia, por exemplo.
A ratificação de 13 novas candidaturas a nível mundial em 2024 decorreu em junho. Assim, em Portugal, o Granito do Porto e o Calcário de Ançã, este ano distinguidos, juntam-se aos mármores de Estremoz (2017), ao calcário Lioz (2019) e à brecha da Arrábida (2022), que já contavam com as designações de Pedra Património Mundial.
O processo é gerido pela Subcomissão da Pedra Patrimonial, HSS, (Heritage Stone Subcommission) da União Internacional das Ciências Geológicas, IUGS, (International Union of Geological Sciences) em parceria com a UNESCO.