O projeto «HD CHIP», coordenado pelo investigador Daniel Ferreira, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), e centrado no estudo do Cancro Gástrico Difuso Hereditário (HDGC), é um dos vencedores da primeira edição do Concurso NCH-PT 2024.
Criado pelo National Cancer Hub-PT (NCH-PT), que é coordenado pela Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB) e pela Direção-Geral da Saúde (DGS) através do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas (PNDO), este concurso atribuiu um financiamento total de 103 mil euros a quatro projetos de investigação clínica e inovação biomédica na área do Cancro. Para o i3S seguirão 36 mil euros.
O projeto de Daniel Ferreira pretende melhorar o diagnóstico precoce e reduzir a morbilidade associada ao tratamento do Cancro Gástrico Difuso Hereditário (HDGC), contribuindo, ao mesmo tempo, para uma abordagem mais personalizada a uma doença que afeta anualmente cerca de 50 mil pessoas.
O HDGC causado pela perda de função do gene CDH1 é um síndrome de cancro mortal que predispõe os indivíduos afetados a uma forma altamente agressiva de cancro gástrico difuso e/ou cancro da mama lobular. A única abordagem terapêutica eficaz disponível é a cirurgia de remoção do estômago e das mamas, antes da apresentação clínica da doença. O crescente número de cirurgias profiláticas previne a doença, mas dificulta o estudo do início da doença.
Para superar a falta de órgãos-alvo dos pacientes para estudar biomarcadores da iniciação da doença, Daniel Ferreira, que integra o grupo «Expression Regulation in Cancer», liderado por Carla Oliveira, em colaboração com o Centro Hospitalar Universitário São João, no Porto, e o Center for Regenerative Medicine, em Boston, vai desenvolver um “modelo que mimetiza o HDGC através da combinação da tecnologia de órgão-em-chip com células estaminais pluripotentes induzidas derivadas de pacientes com HDGC”.
Esta plataforma in vitro, explica Daniel Ferreira, “atuará como um avatar de HDGC” com o objetivo de “identificar uma assinatura molecular de iniciação de cancro gástrico difuso que nos permita diferenciar os que têm lesões invasivas assintomáticas, daqueles que têm lesões pré-malignas ou nenhuma lesão”.
Os biomarcadores de iniciação da doença, acrescenta, “têm o potencial de informar sobre a necessidade e urgência da cirurgia redutora de risco e podem ser usados no futuro para desenvolver um dispositivo médico que permitirá uma gestão mais eficiente dos pacientes com HDGC”.
Projeto-piloto de rastreio e erradicação da Helicobacter pylori
Para além do projeto do i3S ,foram financiados outros três projetos, nomeadamente o «POHp – Programa de rastreio oportunista de Helicobacter pylori», coordenado pelo Centro de Oncologia dos Açores (COA) e em que o Ipatimup é um dos parceiros. A infeção por Helicobacter pylori (Hp) é responsável por cerca de 90 por cento dos cancros gástricos e a prevalência em Portugal é a maior entre os países da Europa Ocidental, estimando-se entre 65 e 80 por cento na população adulta.
A erradicação da infeção por Hp pode reduzir o risco de cancro gástrico na população, mas nunca foi testada em Portugal uma estratégia de rastreio e erradicação desta bactéria, pelo que este projeto propõe-se testar um programa-piloto de prevenção na ilha Terceira (Açores), com o apoio das farmácias comunitárias da ilha. O objetivo é rastrear dois mil utentes e proceder à erradicação dos casos positivos.
Este projeto permitirá reunir evidências científicas que serão úteis para a tomada de decisões relativamente a políticas de saúde de prevenção de cancro a nível nacional, em linha com os objetivos da Estratégia Nacional de Luta Contra o Cancro e do Plano Europeu de Luta Contra o Cancro.
Os dois outro projetos financiados são: «Desenvolvimento de novos modelos pré-clínicos de cancro cerebral pediátrico – uma estratégia eficaz e robusta para acelerar o desenvolvimento de novos fármacos», do IMM, e «Biópsia líquida no diagnóstico de gliomas de alto grau», do Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve (ADABC).
Sobre o Concurso NCH-PT 2024
Este concurso surgiu no âmbito da colaboração entre a AICIB e a DGS com a missão de coordenar, promover e apoiar a implementação das iniciativas europeias na área das doenças oncológicas em Portugal, definindo as estratégias de ação e financiamento, alinhadas com o PNDO e a Estratégia Nacional de Luta Contra o Cancro, Horizonte 2030.
De um total de 22 candidaturas recebidas foram selecionados quatro projetos, o que representa uma taxa de sucesso de 20% e corresponde a um financiamento total de 103 626,76 euros.
A segunda edição do concurso NCH-PT está prevista para o próximo ano, sendo que a publicação do anúncio oficial deverá acontecer no primeiro trimestre de 2025.