Uma investigação internacional, em que participou a docente Milena Paneque Herrera, do Departamento de Patologia e Imunologia Molecular do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), fez um retrato daquilo que vem sendo feito, nos últimos 30 anos,  ao nível da formação em Aconselhamento Genético na Europa. O trabalho englobou igualmente a realidade portuguesa, na qual o ICBAS foi pioneiro e continua a oferecer, desde 2009, o único programa nacional de formação neste âmbito.

O artigo agora publicado, do qual Milena Paneque Herrera é primeira autora e correspondente, incide sobre “como evoluiu a educação em aconselhamento genético a nível europeu”. Para além de descrever os programas de formação em aconselhamento genético na Europa desde 1992, o estudo fornece uma breve caracterização dos cursos de mestrado existentes e discute alguns dos desafios atuais para a formação em aconselhamento genético a este nível.

O primeiro mestrado na Europa surgiu em 1992, em Inglaterra, 17 anos antes da criação do Mestrado em Aconselhamento Genético do ICBAS. “Continua a ser interessante que apenas existam 10 cursos ativos e acreditados quanto à competência, qualidade com que formam os aconselhadores e um deles é o do ICBAS”, nota Milena Paneque Herrera.

A nível nacional, além de pioneiros, “continuamos a ser a única oferta formativa”, acrescenta a investigadora. O ICBAS surge também como a “porta de entrada” para a certificação europeia, dando equivalência e reconhecimento do curso, já que está acreditado pelo European Board of Medical Genetics (EBMG).

Segundo os resultados do inquérito realizado aos diretores dos programas de mestrado em aconselhamento genético a funcionar na Europa, em 2022, existiam 710 profissionais formados naquela área. Destes, 670 estudantes tinham feito o ciclo de estudos em programas acreditados pelo EBMG.

A organização de estágios clínicos, a supervisão clínica e de aconselhamento dos estudantes e a incorporação da genómica no currículo foram identificados, por sua vez ,como os maiores desafios que se colocam atualmente ao nível do ensino do aconselhamento genético.

Uma área “cada vez mais reconhecida em todo o mundo”

Para Milena Paneque, que é também psicóloga clínica no Centro de Genética Preditiva e Preventiva (CGPP-IBMC) do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde  da U.Porto (i3S), o termo “aconselhamento genético” (AG) significa que “há todo um serviço de apoio ao utente que tem uma determinada condição genética ou para a qual está em risco”. Como tal,  o AG “ajuda o utente a compreender melhor essa condição, sejam as características da doença, prognóstico e alternativas terapêuticas, fontes de apoio, ajudando-o dessa forma a compreender e adaptar-se à doença”.

A investigadora nota ainda que o AG é “uma área cada vez mais reconhecida em todo o mundo”, nomeadamente na implementação da medicina personalizada e a genómica, uma vez que ajuda a “tentar compreender, a entender, a capacitar, a promover a literacia junto da população em geral, mas também junto de outros profissionais de saúde.”

Milena Paneque, dá como exemplo desta aposta a Inglaterra, que criou um programa de formação científica no sistema nacional de saúde, denominado Scientific Training Program, de três anos, profissionalizante e com financiamento. “Ou seja, pagam e formam profissionais para serem a resposta como ‘genetic counsellors” nos cuidados de saúde’.

No que toca ao Mestrado em Aconselhamento Genético do ICBAS, a investigadora lembra que, apesar de se  tratar de um grupo pequeno, os estudantes do Instituto são hoje reconhecidos pelos pares nacionais e internacionais, graças à participação e apresentação de comunicações científicas nos “maiores ‘palcos’ do aconselhamento genético do mundo – no World Congress on Genetic Counselling e na conferência da Sociedade Europeia de Genética Humana ESHG – já por duas vezes”.

“Há capacidade e qualidade na investigação que fazem”, remata a autora do estudo.

O Mestrado em Aconselhamento Genético do ICBAS abre novas edições de dois em dois anos. A edição 2024/2025 já tem as candidaturas encerradas.