O projeto SHAPES (Smart and Health Ageing through People Engaging in Supportive Systems), que teve como parceiros o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) o CINTESIS – Center for Health Technology and Services Research e o Porto4Ageing, concebeu e criou um ecossistema de cuidados de saúde e bem-estar interligados, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e o apoio social de idosos com diferentes condições de saúde, sociais e culturais.
Financiado pelo programa-quadro comunitário Horizonte 2020 e finalizado em 2023, este projeto visou o desenvolvimento de soluções digitais especificamente para cuidar de idosos com declínio cognitivo ou demência em diferentes fases da doença. Um trabalho que envolveu 14 países europeus e 36 organizações num consórcio – liderado pelo Instituto ALL (Assisting Living & Learning), da Universidade de Maynooth, Irlanda – que permitiu testar a aplicabilidade de várias tecnologias piloto.
Para o gestor do projeto em Portugal e investigador do ICBAS, Pedro Rocha, o SHAPES revelou-se fundamental “para a preparação de caminhos futuros para a digitalização dos cuidados de saúde e apoio social às pessoas mais velhas”.
O envelhecimento é uma realidade muito diversificada nos vários países europeus dos pontos de vista psicológico, social e cultural, “neste sentido, por ser um projeto europeu, o SHAPES conseguiu pilotar protótipos tecnológicos para idosos, adequados a cada uma dessas realidades, incluindo o desenvolvimento de requisitos de usabilidade, de regras de proteção de dados (RGPD), de indicadores de avaliação de impacto, e de um mercado online (SHAPES marketplace) de dispositivos tecnológicos acessível a consumidores individuais (p.e., cuidador informal) e institucionais (p.e., residência sénior)”, reforça.
Segundo Pedro Rocha, uma característica diferenciadora do SHAPES está na capacidade que existiu para desenvolver mecanismos de cocriação com idosos: “Conseguimos ter Câmaras Municipais a recrutar idosos que não estavam nada familiarizados com a tecnologia, para participarem em processos de cocriação de protótipos tecnológicos úteis para o seu dia-a-dia. Os resultados desta participação foram surpreendentes e, da minha perspetiva, foi um objetivo muito bem conseguido”.
Para além de todo o trabalho realizado a desenvolver protocolos científicos de avaliação de impacto que fossem aprovados por Comissões de Ética e Unidades de Proteção de Dados, o recrutamento de pessoas e de organizações não familiarizadas com tecnologias na sua conceção e na experimentação permitiram criar orientações de translação do conhecimento científico para a indústria.
“Com este projeto, conseguimos melhorar tecnologias que já estavam no mercado, nomeadamente, a plataforma de gestão de cuidados de saúde “EHEALTHPASS” da Gnomon SA (empresa grega), um software de gestão de sinais biométricos “Medimonitor” do Hospital Universitário de Olomouc (República Checa) ou o robot cuidador da Kompaï Robotics (empresa francesa)”, descreve o investigador.
O SHAPES arrancou pouco depois do início da pandemia COVID-19 e, apesar de todos os constrangimentos que isso trouxe, “foi um projeto muito desafiante pelo número de parceiros envolvidos, num diálogo, sobretudo digital, entre a academia e as empresas, mediado pelos utilizadores mais velhos, em contexto comunitário. Com estes aprendemos sobre as suas necessidades e como a tecnologia pode ser integrada nas suas casas e rotinas, para otimizar o processo de envelhecimento e aumentar qualidade de vida.”, afirma a investigadora principal do projeto e docente do ICBAS, Constança Paúl.
Sobre o SHAPES
O objetivo do SAHPES consistiu em criar uma plataforma informática integrada, capaz de reunir uma vasta gama de soluções digitais destinadas a melhorar a saúde, o bem-estar e a independência das pessoas à medida que envelhecem.
Este projeto teve a duração de 48 meses (de novembro de 2019 a outubro de 2023) e envolveu um conjunto de atividades desde a criação da própria plataforma digital, ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de 15 soluções tecnológicas e sociais destinadas a apoiar os idosos.