Chama-se PoET (Paranal solar Espresso Telescope, ou Telescópio Solar do Espresso no Paranal) e será um telescópio solar made in Portugal que deverá entrar em funcionamento no verão de 2025. O acordo para a sua instalação no Observatório do Paranal (Chile) do Observatório Europeu do Sul (ESO) foi recentemente assinado pelo diretor geral do ESO e a direção do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), enquanto instituição de acolhimento do polo da U.Porto do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA).
“A assinatura do contrato com o ESO foi um passo fundamental no desenvolvimento do projeto FIERCE, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC), com os fundos a serem administrados conjuntamente pelo CAUP, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências (FCiências.ID)”, explica Nuno Cardoso Santos, investigador do IA e professor catedrático no Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), a quem cabe o papel de investigador principal do PoET.
O projeto FIERCE (FInding Exo-eaRths: tackling the ChallengEs of stellar activity, ou encontrar exo-Terras: abordar os desafios da atividade estelar) tem como objetivo resolver o problema do ruído estelar de um novo ângulo, ruído este que limita bastante a procura e caracterização de outras Terras no Universo .
O PoET está a ser desenvolvido inteiramente por Portugal, quer a nível de hardware, quer a nível de software, e será liderado cientificamente pelo IA.
“Este desenvolvimento resulta da capacidade que o grupo de instrumentação do IA adquiriu na última década, consolidada com a participação em diversos instrumentos para o ESO. É um marco que sempre foi ambicionado pelo IA e que certamente nos levará a futuras colaborações internacionais neste tópico”, nota Alexandre Cabral, investigador do polo do IA na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e gestor de projeto do PoET.
Nuno Cardoso Santos adianta ainda que “o PoET vai-nos permitir observar o Sol e injetar a sua luz no espectrógrafo ESPRESSO, do ESO, instrumento que foi já parcialmente desenvolvido pela equipa do IA. Ao fazê-lo, vai-nos dar acesso a dados únicos sobre a nossa estrela, que nenhum outro telescópio no mundo consegue obter”.
Deste modo, a nossa estrela pode ser usada como exemplo para identificar e compreender melhor as fontes do ruído que afetam os dados obtidos para outras estrelas do tipo solar.
Construção arranca este ano
O PoET está já na fase final de design e a construção da cúpula no Observatório do Paranal deve arrancar ainda este ano, com a instalação do telescópio planeada para antes do verão de 2025. Apesar de ficar fisicamente no Observatório do Paranal, o PoET será operado remotamente a partir do IA.
Em paralelo, a equipa do IA está já a preparar a exploração científica dos dados que vão ser recolhidos. Isto inclui vários investigadores e estudantes de doutoramento de diversas áreas, que vão desde a pesquisa de exoplanetas até à física solar e estelar. “É na interface destas várias áreas que esperamos conseguir encontrar respostas para os vários desafios”, diz Nuno Cardoso Santos.
A estratégia do IA na área da procura e estudo de exoplanetas, atualmente em plena implementação com o espectrógrafo ESPRESSO e com a missão espacial CHEOPS (ESA), irá continuar durante os próximos anos.
Na verdade, os resultados do projeto FIERCE serão essenciais para o sucesso de instrumentos e missões espaciais futuras, com forte envolvimento do IA, que têm como objetivo detetar e caracterizar outras Terras. É o caso das missões espaciais PLATO e ARIEL, da ESA, com lançamentos previstos, respetivamente, para 2026 e 2029, e da instalação do espectrógrafo ANDES, que deverá entrar em funcionamento no início da década de 2030, após a sua instalação no maior telescópio da próxima geração, o ELT (ESO).