É esguia, viçosa e está representada com frequência na arquitetura e no design. De quem falamos? O Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP) mergulhou nas suas coleções e, para o Breviário deste mês de julho, apresenta não um, mas dois objetos: uma espécie de herbário e uma peça em gesso. Para ver de perto no átrio de entrada do edifício da Reitoria da U.Porto.

Espevitada, elegante e altiva, já a viu por aí a emoldurar jardins. Ou a espreitar por cima dos muros. Tem uma folha robusta e pontua os espaços verdes de um delicado rosa esbatido, ou lilás nas flores que se erguem num constante exercício de equilibrismo. Motivo de inspiração de tantas colunas romanas, a acanto está, durante estes meses, no auge da sua exuberância.

Sobre esta iconografia orgânica, Cristina Vieira, Curadora do Herbário do MHNC-UP, recorda que grande parte dos motivos que são usados nas artes decorativas ou na arquitetura são inspirados nas flores e plantas “que se dão nesta altura do ano”, quando “estão ao rubro”. É por estes dias que pode “sair à rua e observar não só os elementos florais como os elementos arquitetónicos que neles se inspiraram”.

Representada em peças de arquitetura, na literatura, em tapeçarias, brasões e padrões de papel de parede, a acanto representa um motivo tão repetido “que é encarado como um clássico em várias correntes arquitetónicas”, afirma Cristina Vieira.

É “uma planta herbácea bastante rija, com umas flores muito lustrosas, organizadas em caules altos”, e que floresce em climas mediterrâneos. Espinhosa, tem uma flor roxa e branca. É polinizada por abelhas e abelhões, insetos com força suficiente para aceder ao seu néctar.

A polinização da “Acanthus mollis”. (Foto: DR)

A peça em gesso que fará companhia à “Acanthus mollis” é um elemento decorativo, uma sanca para teto que representa uma folha de acanto. Foi encontrada numa ruina, na zona da Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga, “embora peças semelhantes possam ser encontradas noutras zonas do norte do país”, sublinha a curadora do Herbário. A zona de Afife, por exemplo, em Viana do Castelo, é conhecida pela arte dos seus estucadores e pela decoração de interiores das casas apalaçadas com recurso a estuque.

O espécime do Herbário resulta de uma colheita de sementes. A recolha de campo foi realizada, em 1998, por João Gonçalves da Costa que, nas colheitas de sementes que fazia um pouco por todo o país para distribuir pelos jardins botânicos, apanhou esta planta que deu origem a sementes que depois foram distribuídas.

Breviário: Um olhar sobre os tesouros da U.Porto

“Inaugurado” em abril de 2023, o Breviário é uma iniciativa que tem como objetivo partilhar a beleza, as particularidades e as origens de animais e objetos que habitam o espólio do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto, abrindo assim uma janela para o vasto património das reservas do MHNC-UP.

Todos os meses, quem passar pelo átrio de entrada da Reitoria da U.Porto (Praça Gomes Teixeira), vai então encontrar um “tesouro” proveniente do MHNC-UP. Quando estiver junto da(s) peça(s) em exposição, basta apontar o telemóvel para o QR Code e ficar a conhecer o/a respetivo/a curador/a e as histórias que tem para contar.

Quem quiser conhecer “os bastidores do museu” pode também inscrever-se e fazer uma visita às reservas do MHNC-UP.