Um estudo conduzido por  investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), em colaboração com a Fundacíon Medina, em Espanha, abre mais uma porta na descoberta de novos produtos naturais em actinobactérias. O trabalho, de grande relevância para a comunidade científica, foi selecionado para a capa da mais recente edição da revista Marine Drugs, uma referência na área dos produtos naturais marinhos.

As actinobactérias são já conhecidas pela comunidade científica pela sua elevada capacidade de produzir compostos bioativos que, devidamente explorados pela biotecnologia, podem ser úteis para as mais variadas aplicações que vão desde a saúde, cosmética, indústria e a agricultura.

O trabalho “Cellulamides: A New Family of Marine-Sourced Linear Peptides from the Underexplored Cellulosimicrobium Genus” teve como principal resultado a descoberta de uma nova família de compostos naturais, as celulamidas, que são produzidas por um género de actinobactérias do qual nunca tinha sido reportado nenhum produto natural, o género Cellulosimicrobium.

O artigo agora publicado na Marine Drugs resultou do trabalho de doutoramento de Mariana Girão, estudante do Programa Doutoral em Ciências Biomédicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), realizado sob orientação dos investigadores do CIIMAR Fátima Carvalho, Pedro Leão e Ralph Urbatzka.

Mariana Girão é a primeira autora do artigo destacado pela Marine Drugs. (Foto: DR)

Uma descoberta com dupla importância

Capa da Revista Marine Drugs, Volume 22, Issue 6. (clicar para aumentar)

Esta descoberta tem dupla importância uma vez que “introduz dois elementos de grande relevo: uma nova família de péptidos que pode agora ser explorada para diversas aplicações biotecnológicas e um género de actinobactérias, Cellulosimicrobium, até ao momento nunca explorado em termos de produção de produtos naturais, e que revelou capacidade efetiva para produzir novas moléculas” refere Fátima Carvalho, líder da equipa Biodegradação e Bioprospecção Microbiana do CIIMAR e também docente do ICBAS.

O trabalho pode abrir novas portas para a área da biotecnologia, que conta agora com mais duas novas moléculas de origem marinha para explorar. Mariana Girão atesta que “este trabalho não só destaca que os ecossistemas marinhos são uma valiosa fonte de bactérias inexploradas e de novas moléculas, mas também sublinha a relevância da biotecnologia marinha na procura por novos compostos com aplicações biotecnológicas.”

O que significa ser “capa de revista” no contexto científico

A revista Marine Drugs é uma referência na área dos produtos naturais marinhos. A escolha para capa desta edição reflete ainda mais o valor estratégico desta área e o potencial biotecnológico que está “escondido” nos microrganismos associados a diferentes nichos marinhos, neste caso em particular, dos ecossistemas de macroalgas da costa norte do nosso país que são os hospedeiros das actinobactérias destacadas neste trabalho.

Além disso, na visão de Fátima Carvalho, “esta é uma valorização da nossa investigação e uma oportunidade de destacar e divulgar mais eficazmente o nosso trabalho junto da comunidade científica”.

Da bioprospecção microbiana à biodegradação de poluentes

A equipa Biodegradação e Bioprospecção Microbiana do CIIMAR dedica-se a duas grandes linhas de trabalho: a biodegradação de poluentes ambientais, com foco nos compostos fluorados, para desenvolvimento de estratégias biotecnológicas contra a poluição, e a bioprospecção de actinobactérias (marinhas e terrestres) para a produção de novas moléculas com possíveis aplicações biotecnológicas, onde se insere o trabalho agora destacado pela revista Marine Drugs.

“No fundo, o trabalho realizado na minha equipa está centrado não só na descoberta de novas moléculas bioativas, mas também nos preocupamos com a degradação e remoção de moléculas que são, ou podem vir a ser, uma ameaça para o ambiente”, resume Fátima Carvalho.