Deserdados da Sorte no Espaço Público nasceu da pandemia de Covid-19. Durante aquele período, o autor, Mário Mesquita – arquiteto, urbanista e professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) – passava os dias a percorrer as ruas do Porto, de bicicleta, registando o “novo” quotidiano com a sua máquina fotográfica.

Publicado recentemente pela U.Porto Press, na Coleção Fora de Série, este livro, que vem revelar invisibilidades urbanas portuenses, será apresentado publicamente no próximo dia 25 de junho, a partir das 18h00, no Auditório da Casa Comum (à Reitoria da U.Porto).

A apresentação ficará a cargo de Pedro Ferreira, doutorado em Psicologia, Professor Associado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP) e investigador do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE).

A entrada é livre.

O Porto, as suas “feridas sociais” e invisibilidades

Deserdados da Sorte no Espaço Público é sobre solidão, pobreza e desigualdades. Mas é, também, sobre exclusão, indiferença e uma certa cegueira. Cegueira de quem passa e não vê.

Como argumenta Mário Mesquita no Ensaio com que abre esta obra, “as cidades são feitas de pessoas, para as pessoas, com as pessoas. (…) Contudo, mesmo no epicentro da multidão, (…) somos cegos a tanta e dura realidade e surdos a tanto ruído. Olhamos, mas não vemos, ouvimos, mas não escutamos. A morte e vida da cidade passa-nos ao lado pois temos sempre destino, pois temos sempre refúgio, pois temos sempre um lar”.

Mário Mesquita alerta para “um rápido processo de transformação social e urbana” da cidade do Porto, que evidencia preocupantes “ambientes e atmosferas de desumanidades do espaço público (…), uma dolorosa ferida social”.

Da pandemia resultou “uma ‘nova’ e ‘outra’ cidade”, cujo espaço coletivo revelou “uma cidade de excluídos”. Na perspetiva do autor, “Os anos da Covid-19 deixaram cair essa cortina de névoa que transformava gente em sombras e vultos indefinidos”.

“Deserdados da Sorte no Espaço Público” é uma das mais recentes publicações da coleção “Fora de Série”, da U.Porto Press. (Foto: DR)

Embora as debilidades sociais já fossem parte do ambiente urbano, com a pandemia “ficaram mais expostas, revelando invisibilidades urbanas no campo social e humano”.

A verdade é que, apesar de “a cidade [ser] feita de gente como nós”, as vivências são distintas. Quando a noite faz parar “o bulício da urbe”, expõe outras realidades, “outra cidade por trás da cidade por onde nos movemos”. Para a gente que a habita, “a casa é o portal, o recanto abrigado, a casa de cartão roto, a manta enrolada três vezes”. A cidade é feita dos restos dos outros, onde há privações, perigos e “onde se disputa o lugar, onde se arruma cada dia um sítio para o voltar a usar (…), onde o contraste do dia se esbate e se funde na opacidade da noite”.

Este é também um livro sobre a urgência de se repensar a urbanidade, “determinante na construção das sociedades contemporâneas, através das suas ‘feridas sociais’” – defende Mário Mesquita.

Deserdados da Sorte no Espaço Público está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.

Sobre o autor

Mário Mesquita é arquiteto, urbanista, artista e professor na FAUP, lecionando também nas faculdades de Belas Artes (FBAUP) e de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP). É investigador no i2ADS – Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade, no CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, e no R3IAP – Rede de Informação, Investigação e Intervenção em Arte Pública.

É consultor/investigador do Património na Águas e Energia do Porto e consultor/colaborador do Museu do Porto. Coordena a Comunidade de Inovação Pedagógica da U.Porto PTRI – Porto: Territórios e Redes da Invisibilidade.

Especialista na cidade do Porto e no seu território, publicou vários livros e artigos sobre Arquitetura, Património e Urbanismo e tem obra pública em Arquitetura, Design e Projeto/Planeamento Urbano.