A investigadora Inês Alves, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), conquistou uma das duas «Bolsas de Investigação Exploratórias» de 2024, no valor de dez mil euros, atribuídas pela Sociedade Europeia de Investigação Clínica (ESCI). O objetivo do projeto é encontrar biomarcadores que permitam melhorar o diagnóstico precoce e a monitorização clínica e terapêutica de doentes com Lúpus Eritematoso Sistémico.
Com maior prevalência em mulheres jovens em idade ativa, entre os 16 e os 49 anos, o Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença autoimune debilitante com grande impacto na qualidade de vida dos doentes. O LES caracteriza-se por uma perda global da tolerância imunológica, com produção de autoanticorpos que podem levar à inflamação e lesão de múltiplos órgãos. A nefrite lúpica (inflamação renal) é uma das manifestações clínicas mais comuns e graves do LES, afetando até 60% dos doentes, podendo evoluir para doença renal crónica ou doença renal terminal (insuficiência renal) em cerca de 25% dos doentes.
Segundo Inês Alves, “o diagnóstico precoce e a monitorização clínica e terapêutica destes doentes continuam a ser um desafio, uma vez que não existem biomarcadores capazes de prever quais os doentes que irão progredir para uma doença complicada, pelo que não é possível identificar estes doentes e selecioná-los para terapias mais direcionadas”.
Num estudo anterior, realizado no grupo «Immunology, Cancer & Glycomedicine», liderado por Salomé Pinho, que Inês Alves integra, a equipa descobriu uma assinatura específica (atípica) de glicanos (açucares) na superfície de células renais em doentes com lúpus (normalmente encontrados em microorganismos como fungos e vírus), o que permitiu identificar um novo mecanismo molecular que pode contribuir para a perda de tolerância imunitária associada ao lúpus. No estudo agora distinguido pela ESCI, Inês Alves pretende «esclarecer se os doentes com lúpus produzem anticorpos especiais que estão envolvidos na perda de tolerância dos tecidos e na lesão renal».
Para cumprir este objetivo, adianta a investigadora, “propomo-nos identificar a presença de anticorpos específicos no sangue de doentes com Lupus , estudar as células B responsáveis pela sua produção e testar o efeito patológico destes anticorpos, ou seja, verificar se são responsáveis pela gravidade e suscetibilidade da doença”.
Para Inês Alves, “é uma grande honra receber a Bolsa de Investigação Exploratória ESCI 2024”, já que lhe permitirá “testar uma nova perspetiva sobre os auto-anticorpos, nomeadamente explorar a presença de auto-anticorpos anti-glicanos que se formam e acumulam na patogénese da doença. Isto permitirá não só trazer um novo mecanismo para as doenças autoimunes, mas também melhorar a qualidade de vida dos doentes, desenvolvendo um novo marcador de prognóstico e monitorização da doença (menos invasivo do que uma biópsia renal e mais seguro)”.
A investigadora faz ainda questão de salientar que se trata de “um projeto verdadeiramente translacional”, já que, além dos investigadores do grupo liderado por Salomé Pinho, conta também com a participação de clínicos do Centro Hospitalar Universitário do Porto-Hospital de Santo António e da Leiden University Medical Center para responder a um desafio particular na prática clínica – o diagnóstico, prognóstico e monitorização da doença lúpica”.
Sobre a Sociedade Europeia de Investigação Clínica
A Sociedade Europeia de Investigação Clínica (ESCI) atribui duas Bolsas Exploratórias por ano para apoiar a investigação translacional que abranja uma das áreas de interesse da sociedade e que seja realizada numa instituição europeia.
Os candidatos, investigadores básicos ou clínicos, devem ter menos de 40 anos de idade no momento da apresentação da candidatura e residir na Europa.
Sobre Inês Alves
Licenciada em Bioquímica pela Universidade de Aveiro e doutorada em Biomedicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em 2022, Inês Alves é atualmente investigadora de pós-doutoramento no i3S, no grupo «Immunology, Cancer & Glycomedicine», liderado por Salomé Pinho.
Em 2021 foi distinguida pela prestigiada European Molecular Biology Organization (EMBO) com uma “EMBO Scientific Exchange Grant” e em 2023 foi uma das vencedoras da 3.ª edição do Prémio Maria de Sousa, promovido pela Ordem dos Médicos e pela Fundação BIAL.
A investigadora integra também a equipa liderada por Salomé Pinho que recebeu o prémio de inovação atribuído pela associação americana Lupus Research Alliance (LRA), no valor de 280 mil euros, e o projeto europeu GlycanTrigger, também liderado pela investigadora Salomé Pinho, financiado com sete milhões de euros pelo Programa Horizon Europe da Comissão Europeia para estudar uma outra doença autoimune, a Doença de Crohn.