Como forma de responder aos desafios prementes que as atividades humanas e as alterações climáticas colocam aos ecossistemas marinhos, a União Europeia atribuiu um financiamento de 8 milhões de euros ao projeto BioProtect, cujo objetivo passa por proteger e restaurar a biodiversidade marinha no Oceano Atlântico e no Ártico.

O projeto é coordenado pela instituição de investigação Matís (Islândia) e reúne 18 parceiros de oito países, dos quais se destacam cinco instituições portuguesas: o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), o INESC TEC Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, a Universidade de Aveiro, o Okeanos da Universidade dos Açores e o AIR Centre.

Segundo Sophie Jensen, investigadora no Matís e coordenadora do BioProtect, trata-se de “um projeto inovador que visa responder à necessidade urgente de soluções globais e sustentáveis para atenuar os efeitos das pressões induzidas pelo homem e das alterações climáticas nos ecossistemas marinhos”.

“Através da investigação, da inovação e de parcerias estratégicas, pretendemos criar soluções que não só preservam como também recuperam a biodiversidade marinha”, acrescenta.

O que distingue o BioProtect?

No passado foram implementadas abordagens de proteção e restauro de biodiversidade marinha centradas na gestão sectorial e desenhadas para escalas espaciais únicas que não representavam as características de diferentes locais. Estas abordagens one size fits all não refletiam, contudo, a diversidade dos ecossistemas marinhos e por isso não foram capazes de travar a perda de biodiversidade.

A estratégia do projeto BioProtect é não só inovadora como flexível ao integrar diferentes escalas espaciais e fontes de dados, permitindo o ajuste ideal a diferentes regiões. Para isso, o BioProtect considerará um conjunto de cenários, incluindo alterações climáticas, estratégias de proteção e exploração, e avaliará os seus impactes ecológicos e socioeconómicos.

O projeto irá ainda colaborar ativamente com a sociedade e com um vasto leque de partes interessadas, de gestores de recursos naturais a decisores políticos, para garantir a implementação efetiva e a utilização das suas soluções. Ao aumentar a sua consciencialização e permitir que estas entidades, assim como os cidadãos, participem no processo de tomada de decisão, o BioProtect capacita-os para proteger e restaurar os ecossistemas marinhos e a biodiversidade.

O BioProtect irá consolidar as soluções de proteção e restauro de biodiversidade marinha desenvolvidas no âmbito do projeto num quadro de apoio à decisão que será apresentado em cinco locais de estudo em toda a Europa, incluindo Portugal.

Este quadro incluirá métodos para monitorizar e prever alterações na biodiversidade marinha, mapear as pressões humanas, dar prioridade a áreas de proteção e restauro e medir os impactes ecológicos e socioeconómicos das ações de conservação. Ao capacitar o público e entidades locais com impacto no sector, este quadro incorporará também as suas perspetivas e conhecimentos para apoiar a sua implementação e explorar ao máximo as soluções de conservação.

O papel de Portugal

Desenhado tendo em conta os objetivos da UE para 2030 e o Pacto Ecológico Europeu, o BioProtect reuniu uma rede de parceiros robusta e desenhou uma abordagem colaborativa para caminhar para uma nova era de conservação e recuperação da biodiversidade marinha nos mares europeus. Portugal, com a sua vasta ligação ao mar e um espaço marítimo nacional tão extenso, tem um papel preponderante quando se considera a conservação e restauro da biodiversidade marinha no Atlântico.

Joana Xavier, investigadora do CIIMAR, materializa a dinâmica do BioProtect em Portugal destacando o potencial conjunto das competências de todos os parceiros: “Para além da dimensão internacional, este projeto também permitirá consolidar a colaboração entre os parceiros nacionais que possuem competências complementares nas áreas da exploração e observação de habitats marinhos, experimentação com organismos de mar profundo, desenvolvimento de tecnologia e robótica marinha, bem como socio-ecologia e governança marinha.

Ainda segundo a investigadora, “este trabalho em rede é crucial para avançarmos não só o conhecimento mas também soluções e estratégias que apoiem a gestão sustentável deste bem comum que é a biodiversidade marinha“.

Os cinco parceiros portugueses esperam ter impacto no mapeamento de biodiversidade de ambientes do mar profundo e implementação de áreas marinha protegidas resilientes às alterações climáticas em estreita colaboração com os principais utilizadores do meio e recursos marinhos.

“Por exemplo, o mapeamento será feito a partir de embarcações de pesca permitindo uma co-aquisição de dados científicos para uma tomada de decisão política que a todos diz respeito” refere Ana Hilário, Investigadora no CESAM da Universidade de Aveiro.

Serão também desenvolvidas ferramentas de baixo-custo (câmaras de vídeo, sensores de ADN ambiental), cuja aplicabilidade será demonstrada na região dos Açores e na região centro-norte do continente e replicadas noutras regiões oceânicas através de uma coordenação de sinergias com outros projetos da Missão “Oceano” que será assegurada pelo AIR Centre, enquanto farol da BlueMission Atlantic & Arctic e responsável pela chamada BioProtect para Regiões Associadas.

Alfredo Martins, investigador do INESC TEC, realça ainda o potencial da tecnologia aliada às ciências do mar para a protecção da biodiversidade: “A tecnologia marinha inovadora que desenvolvemos em Portugal está ao mais alto nível em termos internacionais e tem um papel crucial que em conjunto com a ciência de excelência na área ciências do mar produzida nas instituições nacionais evidencia neste projeto as elevadas competências nacionais que sustentam o “desígnio do Mar de Portugal” no qual o problema da proteção da biodiversidade é um eixo fundamental de atuação.”

Marina Carreiro-Silva, do Okeanos, remata alertando que “os efeitos cumulativos das atividades humanas estão a degradar os ecossistemas marinhas, colocando em risco a biodiversidade marinha e os serviços ecossistémicos prestados pelo oceano”.

Assim, o projeto visa também compreender os impactos cumulativos das alterações climáticas, pesca e poluição do lixo marinho através da experimentação em aquário, e da identificação de áreas mais suscetíveis a estes impactos, a fim de apoiar o desenvolvimento de políticas de gestão para o uso sustentável dos oceanos e a preservação de zonas de refúgio climático.

O consórcio do projeto BioProtect reuniu pela primeira vez a 22 e 23 de maio de 2024 em Copenhaga, Dinamarca. Este evento reuniu todos os parceiros do projeto num esforço de colaboração para planear os próximos passos do projeto e começar a desenvolver soluções orientadas para o impacto, que abordem eficazmente a perda de biodiversidade e as alterações climáticas.