No passado dia 21 de maio, a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) testemunhou um momento emocionante durante a Última Aula de Carlos Gonçalves, professor do departamento de Psicologia. Enquanto o docente conduzia a sua aula habitual, já decorridos 30 minutos da sessão, e de uma forma inesperada, um grupo considerável de alumni, docentes, estudantes de diferentes anos e técnicos da FPCEUP entrou na sala, criando uma atmosfera de surpresa entre os presentes.
Esta intervenção resultou, em grande medida, da mobilização de um conjunto significativo de pessoas oriundas de diferentes contextos profissionais, à qual se associaram docentes e técnicos da FPCEUP. O objetivo passou por expressar a gratidão e reconhecimento pela notável contribuição de Carlos Gonçalves para a comunidade académica da FPCEUP ao longo de 25 anos de dedicação como docente e investigador.
Representando diferentes áreas e anos letivos, as pessoas presentes uniram-se para celebrar não apenas a carreira de Carlos Gonçalves, mas também a sua influência positiva como mentor, colega e amigo.
Neste contexto, foi organizado um álbum memorial com testemunhos pessoais. Proferiram-se também palavras de estima e admiração, destacando não apenas as importantes contribuições académicas do homenageado, mas também a sua humanidade, empatia e compromisso com a excelência no ensino e na investigação.
“Este gesto simboliza não apenas o reconhecimento institucional da FPCEUP pela notável trajetória de Carlos Gonçalves, mas também a profunda gratidão e estima da comunidade académica por um colega cujo legado transcende as fronteiras da sala de aula”, refere a faculdade.
Já a Ordem dos Carmelitas Descalços também assinalou a despedida de Carlos Gonçalves à carreira docente. Numa nota publicada no seu website, a instituição nota que “o momento que, cremos lhe ficou profundamente gravado no coração, tornou-se ainda mais significativo pela sua singeleza e espontaneidade. Já nós que o conhecemos e temos por Irmão estamos-lhe também muito agradecidos pelo seu exemplo de serviço à causa do Evangelho que ele sempre almejou e soube entrecruzar e pôr em diálogo com os saberes das ciências sociais.
Sobre Carlos Gonçalves
Natural de Ervedosa, freguesia de Vinhais (Bragança), Carlos Manuel Gonçalves (1954) licenciou-se em Teologia na Universidade Pontifícia de Salamanca, em 1977. Dez anos depois, aos 33 anos, e já após ter sido ordenadocomo sacerdote, ingressou na licenciatura em Psicologia da FPCEUP, no que viria a ser “uma decisão não alinhada com a Instituição a que pertenço desde o ano 1973: A Ordem dos Padres Carmelitas Descalços!, como viria a confessar num artigo publicado na Revista Universitária de Psicologia (RUP).
“A experiência inicial na FPCEUP foi surpreendente para os meus colegas de curso, jovens entre os 18 e 19 anos, e para os próprios docentes, ao confrontarem-se com um estudante adulto, nada comum nesses tempos! Obviamente que a minha presença diária nas aulas era fator de questionamento! Mas nem colegas nem professores me identificavam como frade e sacerdote! Intencionalmente não me auto revelei aos colegas e aos professores. Foram-me identificando progressivamente através na minha forma singular de ser e estar”, recorda.
Após terminar a Licenciatura, em 1994, foi selecionado para lecionar as aulas práticas de Psicologia Orientação Vocacional, área de investigação a que dedicaria, mais tarde, o Mestrado (1997) e o Doutoramento (2006), ambos na FPCEUP. Uma ligação que se mantém até hoje: “”Ao longo dos 25 anos da minha carreira de docente e investigador na FPCEUP, sinto uma forte integração nesta Comunidade, onde fui construindo profundas amizades com os colegas de várias mundividências”.
Ao longo do seu percurso, Carlos Magalhães nunca deixou de conjugar a atividade docente e científica com as responsabilidades como sacerdote. Dois “mundos” distintos, mas que soube cruzar com harmonia: “Na minha relação com os estudantes, intencionalmente nunca me auto revelei nas minhas convicções religiosas nem na minha missão de sacerdote, mas procurei ser, de forma persistente, respeitador das múltiplas formas de estar e ler o mundo. Alguns estudantes foram-me descobrindo na minha dupla missão, sobretudo nas orientações de estágios curriculares e nas dissertações de mestrado e espontaneamente quando, de forma surpreendente e inesperada, participaram em atividades pastorais a que presidi”, termina.