“Tem sido fantástica esta aventura em conjunto e fico extremamente feliz por este título”. Foi assim, que Anne L’Huillier, a 103.ª doutora Honoris Causa pela Universidade do Porto e a décima por proposta da Faculdade de Ciências (FCUP), agradeceu a atribuição deste título, numa cerimónia realizada esta terça-feira, 28 de maio, no Salão Nobre da Reitoria.
Num breve agradecimento, a cientista da Universidade de Lund lembrou a sua longa colaboração científica e tecnológica com a FCUP, que esteve na origem da criação da spin-off Sphere Ultrafast Photonics, por diversas vezes premiada.
“A minha ligação com a Universidade do Porto começou em 2006 quando recebi uma carta do estudante Miguel Miranda”, começou por contar Anne L’Huillier. A Nobel da Física 2023 destacou a criação, em conjunto, da tecnologia dispersion scan (d-scan) que surgiu do trabalho e orientação da tese de doutoramento em Física de Miguel, que viria a ser primeiro em cotutela entre Lund e a U.Porto e o primeiro com estas características para Lund desde a sua fundação.
“Lembro-me muito bem de ver o Miguel a mostrar as suas experiências no nosso laboratório. Foi um grande momento”, frisou. “Esta interação com a Universidade do Porto tem sido extremamente benéfica para Lund e para mim pessoalmente. Abriu-me as portas da investigação aplicada e da inovação”, continuou.
“É uma grande honra”, destacou ainda Anne L’Huillier sobre a atribuição do Doutoramento Honoris Causa pela U.Porto. E trminou o seu discurso com um “obrigada”, bem português, sem deixar de dirigir palavras à equipa da Sphere Ultrafast Photonics, pelo trabalho, dedicação e hospitalidade em todos os momentos que partilharam juntos no Porto.
“Um exemplo brilhante e motivador para as próximas gerações de cientistas”
Antes de Anne L’Huillier receber as insígnias doutorais, compostas pelo escapulário, o anel – símbolo de colegialidade e irmandade com os restantes Doutores -, o Livro – símbolo de sabedoria – e o Diploma de Doutoramento, já Helder Crespo, docente da FCUP e cofundador da Sphere Ultrafast Photonics, tinha proferido o elogio da homenageada.
“As suas contribuições não só lhe valeram o Prémio Nobel da Física de 2023, como também consolidaram o seu papel como líder e inovadora na comunidade científica global”, ressalvou., ao lembrar as importantes descobertas científicas da investigadora francesa.
Depois de percorrer os principais marcos da longa carreira científica de Anne L’Huillier, Helder Crespo descreveu a homenageada como um “exemplo brilhante e motivador para as próximas gerações de cientistas”. Não sem antes frisar que “a sua trajetória e conquistas demonstram que, com determinação e paixão, é possível superar barreiras e alcançar o mais alto nível de reconhecimento científico”.
A terminar a sua intervenção, o docente da FCUP sublinhou a importância da atribuição do título de Honoris Causa “pelo impacto duradouro que teve nas nossas vidas e na comunidade científica” e também a “dedicação incansável, visão inovadora, generosidade, e espírito colaborativo” da Nobel da Física.
Sobre Anne L’Huillier
Nascida em Paris a 16 de agosto de 1958, Anne L’Huillier tem uma carreira de destaque na área da Física. Após estudar Matemática e Física na École Normale Supérieure, Fontenay-aux-Roses, França, completou, em 1986, o doutoramento em Ciências Físicas na Université Pierre et Marie Curie. No mesmo ano, integrou o Commissariat à l’énergie atomique et aux énergies alternatives (CEA Paris-Saclay), onde iniciou o seu percurso como cientista.
Depois de passar por várias instituições na Suécia e nos Estados Unidos, chega, em 1995, à Universidade de Lund na Suécia. Nesta universidade, aperfeiçoou a fonte de impulsos de luz de atossegundos e ilustrou o movimento dos eletrões em átomos e moléculas em tempo real. Estudou, com sucesso, o efeito fotoelétrico em tempo real, teorizado por Albert Einstein em 1905, envolvendo a absorção de um quanta de luz (fotão) e a emissão – quase – simultânea de um eletrão.
Este seu trabalho tem sido reconhecido com a atribuição de inúmeras distinções, entre as quais se destacam a conquista do prémio EPS-QEOD Quantum Electronics and Optics Prize em 2019, do prémio Wolf de Física e do prémio BBVA Frontiers of Knowledge, em conjunto com Ferenc Krausz e Paul Corkum, ambos em 2022.
O apogeu de todos estes prémios foi o Nobel da Física de 2023, partilhado com Pierre Agostini e Ferenc Krausz, pelo estudo de eletrões com “impulsos de luz de atossegundos”.
Anne L’Huillier é cofundadora da Sphere Ultrafast Photonics e co-inventora da técnica dispersion-scan, uma das três patentes atribuídas a esta spin-off sediada na FCUP.