Uma equipa liderada pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) estudou uma proteína que existe no cérebro e que surge alterada num conjunto de doenças que incluem a demência por corpos de Lewy e a demência da Doença de Parkinson, e conseguiu descobrir um péptido capaz de bloquear os efeitos nefastos desta proteína nas células nervosas. Os resultados desta investigação foram publicados na revista Cell Death & Disease e abrem caminho para novas terapias para estas doenças neurológicas.
A demência por corpos de Lewy é o terceiro tipo mais comum de demência e a demência da doença de Parkinson surge em cerca de 80 por cento das pessoas com doença de Parkinson. Estas duas doenças caracterizam-se pela formação no cérebro de depósitos arredondados anormais de uma proteína chamada sinucleína.
Com o objetivo de desenvolver novas terapias que atuem nestas acumulações anormais de sinucleína, a equipa do i3S decidiu estudar o seu efeito no hipocampo, a zona do cérebro que regula a aprendizagem e a memória, fatores que estão comprometidos nas demências.
Para isso, e no âmbito da colaboração com o Banco Português de Cérebros, que funciona no Centro Hospitalar Universitário de Santo António, “analisámos amostras de pessoas com demência e percebemos que há um recetor específico que aparece aumentado nestas doenças, e que está envolvido na disfunção das sinapses e perda de memória”, explica Márcia Liz, que liderou a investigação.
Este recetor, acrescenta Marina Oliveira da Silva, primeira autora do trabalho, “é exatamente o mesmo que o vírus do HIV «utiliza» para infetar as células. Assim, decidimos testar moléculas que atuassem no recetor e bloqueassem a ação da sinucleína, revertendo a disfunção das sinapses e, consequentemente, dos neurónios”.
A equipa contactou uma empresa americana que desenvolve péptidos que bloqueiam o recetor em estudo, e, sublinha Márcia Liz, “confirmou o seu grande potencial clínico. Este péptido é muito mais potente do que a droga aprovada pela FDA para travar o HIV e tem a vantagem de entrar rapidamente no cérebro e de ser administrado oralmente”.
Depois de validado em ensaios celulares, o próximo passo, explicam as investigadoras, “é testar a ação deste péptido em modelos animais com demência. Aguardamos também com grande expectativa por financiamento que nos permita também testar este péptido em modelos animais com as doenças de Alzheimer e Parkinson”.