Repetindo a receita de sucesso iniciada em 2018, a U.Porto Inovação voltou a lançar a iniciativa BIP Proof, cujo principal objetivo é criar um sistema de provas de conceito para estimular a concretização de etapas de valor condicionantes à valorização de resultados de investigação produzidos na Universidade do Porto.
Depois de um criterioso olhar para as 50 candidaturas recebidas, seis projetos foram escolhidos pelo júri para receber um financiamento individual de 10 mil euros.
Esta edição contou novamente com o apoio da Fundação Amadeu Dias (FAD) – que já havia apoiado as duas edições anteriores – e com um novo apoio por parte do Santander Universidades.
SAFENERGY: reforço sísmico e térmico para fachadas
Dos seis projetos distinguidos este ano, aquele que obteve a melhor classificação foi o SAFENERGY, que visa eliminar uma problemática bastante atual: “Cerca de 40% dos edifícios situados em zonas de média-alta perigosidade sísmica da União Europeia foram dimensionados, utilizando regulamentos com baixas exigências de segurança, sendo que 65% destes necessitam de melhorias de eficiência energética”, explica André Furtado, investigador da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e líder do projeto.
Assim, a equipa de investigação desenvolveu uma solução de reforço integrado sísmico e térmico para fachadas de edifícios de betão armado, que permitirá uma “mudança de paradigma no que toca às intervenções de reabilitação neste tipo de edifícios”. Pretende-se que esta solução, além de inovadora e em conformidade com as necessidades do mercado, seja de “custo reduzido, fácil aplicação e acompanhada por uma metodologia aplicável por qualquer engenheiro projetista”.
O financiamento obtido na iniciativa BIP Proof será “fundamental para dar continuidade aos trabalhos”. Entre as aplicações previstas inclui-se o lançamento de uma campanha experimental composta por modelos à escala real, que serão testados numa plataforma de ensaios recentemente criada no Laboratório de Engenharia Sísmica e Estrutural da FEUP.
O principal objetivo será avaliar e otimizar o desempenho da solução de reforço em situação de sismo, ao mesmo tempo que se cuida da parte energética. Segundo André Furtado, “não faz sentido melhorar apenas a eficiência energética dos edifícios descurando a sua vulnerabilidade sísmica. Esta solução permitirá, numa só intervenção, melhorar tanto o desempenho energético como o desempenho sísmico”.
ProbioVaccine: vacinas orais para peixes
Desenvolvido no CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental , o projeto ProbioVaccine responde igualmente a uma necessidade bastante atual: “As vacinas orais são uma necessidade cada vez maior da aquacultura, dada a complexidade de vacinar peixes por via injetável”, explica Cláudia Serra, investigadora responsável pelo projeto.
Sendo a aquacultura um setor em crescimento, o ProbioVaccine tem “as características ideais para ser uma vacina oral de sucesso, nomeadamente a simplicidade de produção e armazenamento”, refere. Esta é uma forma de oferecer à aquacultura novas – e práticas! – armas contra doenças dos peixes, contribuindo para o desenvolvimento da “produção de pescado seguro e promovendo a sustentabilidade do setor”.
O BIP Proof, além de um reconhecimento importante para a equipa, é também um incentivo para continuar a trabalhar. Os 10 mil euros serão, essencialmente, aplicados no aperfeiçoamento da tecnologia e também em “testes in vivo nas espécies de aquacultura alvo, de modo a estabelecer o efeito protetor das vacinas orais”, conclui Cláudia Serra.
Soli@uto: baterias mais seguras e potentes
De regresso à FEUP, é lá que encontramos o projeto Soli@uto, dinamizado por uma equipa liderada por Helena Braga. Trata-se de “dispositivos de recolha e armazenamento de energia que podem recolher energia térmica e armazenar energia elétrica, uma vez que usam um eletrólito de vidro que é, também, um ferro elétrico, e por isso polariza espontaneamente a uma certa temperatura”, explica a investigadora.
A principal mais-valia da tecnologia é que estas são baterias extremamente seguras e que podem ser utilizadas desde temperaturas negativas até aos 180ºC “sem problemas associados”, refere Helena Braga. Além disso, permitem um carregamento rápido (menos de 15 minutos) e têm uma elevada densidade de energia.
O financiamento obtido no BIP Proof será aplicado, essencialmente, na proteção da propriedade industrial da tecnologia, algo que, como refere a investigadora, “requer um esforço considerável para manter”. Além disso, a equipa tenciona continuar a angariar “matching funds” para trazer mais valências ao grupo de investigação.
“Para nós, mais do que o valor do prémio, é importante saber que os membros do júri pensam que estamos no bom caminho e que a visão que temos do negócio e do caminho a seguir é ajustada à realidade”, conclui a líder do projeto
SpecTOM: uma possibilidade disruptiva para a agricultura de precisão
Desenvolvida por uma equipa multidisciplinar do INESC TEC e de outras unidades de investigação da U.Porto, a tecnologia SpecTOM apresenta-se como uma inovadora plataforma tecnológica de “tomografia metabólica não invasiva, para análise molecular baseada em espectroscopia”
Esta tecnologia tem como objetivo principal efetuar o diagnóstico “precoce e de alto débito, ‘in-situ’ e ‘in-vivo’, utilizando uma plataforma robotizada (Metbots) e um instrumento de espectroscopia de última geração da “inteligência das coisas”. Segundo os investigadores, a tecnologia poderá ter um impacto disruptivo para o desenvolvimento de sistemas avançados de Agricultura de Precisão, atualmente muito baseada em relações estatísticas.
O financiamento do BIP Proof está destinado a montar um microscópio ótico com resolução hiper-espectral, que permitirá “discriminar e quantificar a informação espectral dos diferentes tecidos e alimentar um sistema de inteligência artificial para geração de imagens tomográficas de partes das plantas ou frutos ‘in-vivo’”,. Os espectros recolhidos neste microscópio serão dados de treino para, depois, baixar o limite de deteção da SpecTom, “permitindo o suporte de reconstrução de imagens metabólicas de elevado detalhe”, concluem os investigadores.
NanoPyl: tratamentos alternativos aos antibióticos
“Uma maneira de responder à necessidade urgente de tratamentos alternativos antibióticos para a infeção gástrica provocada pela bactéria Helicobacter pylori”. É desta forma que a investigadora Paula Parreira explica o projeto NanoPyl, desenvolvido no INEB/i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, em colaboração com a Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP).
A bactéria Helicobacter pylori “infeta cerca de 50% da população mundial e a sua prevalência em Portugal é “muito frequente”. Os tratamentos existentes atualmente são à base de antibióticos que não só provocam efeitos secundários adversos como têm também uma percentagem de resistência entre 20 a 40%, deixando “1,6 mil milhões de pessoas sem tratamento alternativo em todo o mundo”, acrescenta Paula Parreira.
O NanoPyl surge então como uma estratégia não baseada em antibióticos e com um preço muito acessível: “Pretende ser a resposta não só para estes pacientes, mas também para a erradicação massiva da bactéria”, referem as cientistas.
O financiamento do BIP Proof será usado, essencialmente, para “produzir o NanoPyl em condições de “Good Manufacturing Practices”, que são as exigidas do ponto de vista regulamentar e que garantem toda a qualidade e segurança do produto a colocar à venda”. Além disso, as investigadoras também querem começar a trabalhar com uma consultora para a implementação de estudos clínicos piloto em humanos.
BBIT20: um novo aliado contra o cancro da mama e do ovário
Por fim, a edição desta ano do BIP Proof vai ainda apoiar o projeto BBIT20, uma iniciativa liderada por Lucília Saraiva, docente e investigadora da FFUP e do LAQV/REQUIMTE e do qual deverá resultar “o primeiro supressor da recombinação homóloga capaz de inibir a interação BRCA1/BARD1”.
Explicado de forma mais simples, a BRCA1 é uma “proteína supressora tumoral com um papel chave na reparação de danos no DNA”. A inibição da interação BRCA1/BARD1 conduz à perda de função da BRCA1 e à acumulação de erros nas vias de reparação do DNA. Em contexto clínico, a contínua reparação do DNA nos tumores está associada a quimiorresistência e, portanto, ao insucesso das terapêuticas oncológicas.
“Dados pré-clínicos em células tumorais de pacientes e em modelos animais comprovam o elevado potencial terapêutico desta molécula em cancros da mama e do ovário, principalmente quando comparado com o de outros agentes supressores da reparação de danos no DNA utilizados na clínica”, refere Lucília Saraiva, abrindo as portas de um trabalho que conta também com a participação da investigadora Liliana Raimundo, estudante de doutoramento da FFUP.
Para as investigadoras, este reconhecimento no BIP Proof será um apoio muito importante para a potencial translação clínica desta molécula que pode representar um contributo muito valioso para a terapêutica personalizada destes cancros. O montante recebido será aplicado no pagamento de despesas associadas ao processo de pedido de patente internacional e também na realização de estudos adicionais em modelos animais.
Sobre o BIP Proof
Foi em 2018 que a U.Porto Inovação arrancou com a iniciativa BIP Proof, com o objetivo de apoiar e valorizar o que de melhor se faz na investigação da Universidade do Porto. Desde então, o programa já permitiu financiar 14 projetos, num total de 200 mil euros.
Na primeira edição, que aconteceu no âmbito do projeto U.Norte Inova, seis projetos receberam, cada um, 20 mil euros para impulsionar provas de conceito. Ainda nesse ano, a Fundação Amadeu Dias (FAD) passou a ser o apoio principal da iniciativa, e outras quatro ideias inovadoras receberam 10 mil euros cada um. Já em 2019, e repetindo a fórmula de sucesso com a FAD, quatro projetos de investigação receberam financiamento.
Este ano, o Santander Universidades juntou-se à iniciativa e à FAD, tendo sido possível escolher seis ideias inovadoras, que vão agora receber um total de 60 mil euros. A avaliação foi levada a cabo por elementos da J.Pereira da Cruz, Patentree, Portugal Ventures e UPTEC, tendo a U.Porto Inovação compilado os resultados.
O principal objetivo do BIP Proof é criar um sistema de provas de conceito. Essas podem traduzir-se em construção de protótipos de viabilidade técnica, realização de ensaios in vitro/in vivo, estudos de viabilidade ou de mercado, entre outras, para que possam contribuir para a maturação da tecnologia e aproximação ao mercado.