A simetria, a cor e a forma das pétalas são alguns dos pontos fortes da “Dama de  Paço”.

Chama-se “Dama de Paço” e foi colhida num sábado de manhã, com todos os preceitos que se adequam à tarefa: “O importante é não tocar muito nas pétalas, para que não se estraguem e não mudem de cor, o que acontece com relativa facilidade, especialmente as nossas que provêm de plantas centenárias”. A explicação é de Estefânia Lopes, bióloga, estudante de doutoramento da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e um dos elementos da equipa do Jardim Botânico do Porto que colheu os exemplares apresentados na XIX edição da Exposição de Camélias que decorreu nos dias 8 e 9 de março, no átrio dos Paços do Concelho da Câmara Municipal do Porto, e envolveu centenas de flores de 23 concorrentes.

A “Dama de Paço”, considerada a “Melhor Camélia Portuguesa de 2014”, destronou a “Dona Jane Andresen”, outra variedade apresentada a concurso e cuja história se confunde com a do Jardim e da própria cidade. Leva-nos a conhecer a avó de Sophia de Mello Breyner. Durante o século XIX, Joana Andresen ordenou o plantio de camélias. O abastecimento foi proveniente de um viveiro que existia para os lados de Campanhã, sendo que a encomenda originou, na altura, a criação de uma variedade nova. Chamaram-lhe “Dona Jane Andresen” que, hoje, é relativamente comum, na “cidade das camélias”, onde encontram a humidade e a acidez do solo necessárias para se sentirem em casa.

Mas quais são, então, as principais características de uma camélia vencedora? “A simetria, a cor e a forma das pétalas”. Estas foram as preocupações fundamentais, sublinha a bióloga, que nortearem a escolha dos exemplares das variedades apresentadas a concurso. Entre elas estivaram a Alba plena (completamente branca), a Pompónia Portuensis (rosa clarinho, com muitas pétalas no meio – a fazer lembrar um pom pom) e a Augusto Leal de Gouveia Pinto (semelhante a uma rosa cor-de-rosa), para além da vencedora.

Esta não é a primeira distinção que vem para a Universidade do Porto. Em 2011 o Jardim Botânico já tinha arrecadado o Prémio de Melhor Camélia Japónica. A “Dona Jane Andresen” é apenas uma das mais de 70 variedades de que se podem encontrar ao longo de meio quilómetro de sebes de camélias (Camellia japonica é o nome da espécie). Rebentam nos ramos bem antes da primavera se fazer anunciar. “Começam a florir de novembro a final de março. Também por isso é chamada de Rosa de Inverno”, acrescenta Estefânia Lopes. E não se pense que não têm cheiro. Há uma variedade que tem: Camellia sasanqua. Como é o cheiro? “É a camélia” Diz-nos a bióloga. Há que ir até ao Jardim Botânico e cheirar. Está mesmo na parte da frente da Casa Andresen. Já que lá está, é só seguir até o Jardim dos Jotas e procurar a sebe virada a poente. Vai ficar cara-a-cara com a “Dama de Paço”. Se precisar de ajuda, uma visita guiada, é só contactar: http://jardimbotanico.up.pt/