Estudo demonstrou que as áreas mais desfavorecidas da cidade estão, por regra, a uma distância maior de espaços verdes(Foto: Pixabay/putevodnik)

É necessário aproximar os espaços verdes das populações que vivem em zonas mais desfavorecidas do Porto e melhorar a qualidade das áreas verdes já existentes. Estas são recomendações de um estudo conduzido por investigadores da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que apresenta importantes contributos para o ordenamento do território portuense.

A provisão de espaços verdes nas cidades é uma importante estratégia de saúde pública, que tem em vista incentivar a prática de atividade física e melhorar a saúde da população. Para máximo benefício dos cidadãos, a distribuição das áreas verdes deve obedecer a princípios de equidade, devendo estar acessíveis a toda a população independentemente do seu nível socioeconómico.

“Neste estudo, quisemos averiguar se os espaços verdes do município do Porto estavam distribuídos de forma equitativa pelo território, algo nunca estudado até à data no nosso país”, refere Ana Isabel Ribeiro, coordenadora da investigação, publicada na revista “International Journal of Environmental Research and Public Health”.

Os autores fizeram um levantamento dos espaços verdes públicos e de acesso livre existentes na cidade e avaliaram a qualidade dessas áreas, usando um instrumento de auditoria validado internacionalmente. Aspetos como a presença de instalações para prática de atividade física, qualidade ambiental, presença de elementos de conforto e ainda questões relacionadas com a segurança, foram tidos em conta.

Os resultados mostram que, embora a maioria dos locais da cidade (80%) possua pelo menos um espaço verde a uma distância aceitável (o equivalente a 10 minutos a pé), as áreas mais desfavorecidas da cidade estão, por regra, a uma distância maior de espaços verdes. Ora, este facto poderá ajudar a perceber o motivo pelo qual as populações mais desfavorecidas apresentam menores níveis de atividade física e piores indicadores de saúde. “As pessoas mais pobres já fazem menos atividade física, porque têm menos recursos económicos. Se o ambiente onde elas se inserem também não favorecer a prática de atividade física, existirá menos motivação para adotarem comportamentos e estilos de vida saudáveis”, avança a investigadora.

Além disso, a qualidade dos espaços verdes situados na vizinhança das zonas mais desfavorecidas é inferior. Existem maiores problemas de segurança, assim como menos equipamentos para a prática de atividade física e menor disponibilidade de elementos de conforto, como casas de banho públicas, locais de descanso, entre outros.

Quais as recomendações para melhorar? “Uma das hipóteses poderá passar pela aproximação dos espaços verdes das áreas de residência das populações mais desfavorecidas, até porque, à partida, são estas as pessoas que beneficiariam mais com estes espaços”, diz Ana Isabel Ribeiro. “Além disso, deveria apostar-se na melhoria da qualidade dos espaços em si, aumentando, por exemplo, o número de equipamentos disponíveis para a prática de atividade física nos parques e nos jardins da cidade, sobretudo, nas zonas mais pobres. A nível de estética e de conforto, seria útil introduzir equipamentos que levam as pessoas a usarem as áreas verdes e a permanecerem nelas, como cafés, quiosques, casas de banho públicas, bancos e caixotes do lixo”.

Os resultados do estudo contêm informação científica relevante para o ordenamento do território portuense e ajudam a identificar áreas prioritárias de intervenção para garantir um acesso adequado e equitativo aos espaços verdes por parte da população.

O estudo designado “Socioeconomic Inequalities in Green Space Quality and Accessibility – Evidence from a Southern European City” é também assinado pelos investigadores Elaine Hoffimann (primeira autora) e Henrique Barros, e pode ser consultado online.