Estudo concluiu que os indivíduos que habitam em zonas menos favorecidas do Porto consideram ter pior qualidade de vida do que os que moram em zonas mais favorecidas da cidade. (Foto: DR)

As condições socioeconómicas dos locais de residência afetam a qualidade de vida dos seus habitantes, principalmente a forma como estes percecionam a sua saúde física, avança um estudo da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Perceber se há uma relação entre os locais onde se vive e a qualidade de vida dos habitantes é particularmente importante, pois as áreas de residência são espaços privilegiados, onde ocorrem interações pessoais, se formam valores e padrões culturais e se estabelecem hábitos de consumo, que podem influenciar a saúde e os comportamentos em saúde dos indivíduos.

Como até à data não existiam, em Portugal, estudos que avaliassem esta relação, investigadores do ISPUP decidiram estudar se o nível de privação socioeconómica dos locais de residência da cidade do Porto (medido através da tipologia de habitação, atratividade dos locais, desemprego, nível de escolaridade, qualidade das infraestruturas, entre outros indicadores) influenciava a qualidade de vida dos habitantes, nomeadamente as componentes relacionadas com a saúde física e mental.

A investigação envolveu 1154 indivíduos da coorte EPIPorto – um estudo de base populacional, que avalia, há 18 anos, os determinantes de saúde da população adulta residente no Porto. Avaliou-se a saúde física e mental dos participantes (a partir de um questionário de qualidade de vida) e classificou-se a sua área de residência.

A investigadora do ISPUP, Vânia Rocha, procurou perceber se o nível de privação socioeconómica dos locais de residência da cidade do Porto influenciava a qualidade de vida dos habitantes.

Concluiu-se que os indivíduos que habitavam em zonas menos favorecidas da cidade consideravam ter pior qualidade de vida, nomeadamente pior saúde física, do que aqueles que moravam em zonas mais favorecidas do Porto, independentemente das suas características individuais (idade, género e educação) e comportamentais (tabagismo, sedentarismo, alcoolismo, etc.).

Assim, o que estes resultados mostram é que duas pessoas com as mesmas características – idade, sexo, nível de escolaridade – que vivam em zonas da cidade expostas a diferentes níveis de privação têm níveis de qualidade de vida distintos.

Em termos de saúde pública, Vânia Rocha, primeira autora do estudo, alerta para “a necessidade de se apostar em políticas a vários níveis – tanto individual como contextual (ambiente físico e social) – para aumentar a qualidade de vida dos habitantes da cidade do Porto”.

“É importante apostar em intervenções ao nível dos locais, como o aumento da disponibilidade de espaços verdes, a melhoria das infraestruturas, a redução da criminalidade, e também em ações que melhorem a literacia e os comportamentos em saúde dos residentes, para se melhorar a qualidade de vida das pessoas”, conclui.

O estudo designado Neighbourhood socioeconomic deprivation and health-related quality of life: A multilevel analysis foi publicado em dezembro de 2017, na revista PLOS One, e pode ser consultado aqui.