Investigação mostrou também que o tipo de violência mais frequente é a violência mútua ou recíproca, em que ambos os parceiros íntimos são agressores e vítimas. (Foto: DR)

Um estudo europeu, coordenado por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e publicado na revista European Journal of Public Health, mostrou que as vítimas de violência praticada por um parceiro íntimo tendem a recorrer menos aos serviços de saúde. Os autores sublinham que é importante procurar ajuda médica para quebrar o ciclo de violência.

Coordenada por Henrique Barros, investigador e Presidente do ISPUP, a investigação revela que as vítimas de violência conjugal se encontram numa situação de dupla desvantagem, porque, para além do sofrimento emocional ou físico provocado pelas agressões, tendem a procurar menos os serviços de saúde e o apoio que as poderia ajudar a quebrar o ciclo de violência.

O estudo multicêntrico, integrado no projeto DOVE (Domestic Violence against Women/Men in Europe: Prevalence, determinants, effects and policies/practices), permitiu perceber que a probabilidade de uma vítima de abusos praticados por um parceiro íntimo não ir ao médico é cerca de 30% superior à de uma pessoa que não está nessa situação.

“Os dados da investigação indicam que quase uma em cada cinco vítimas de algum tipo de violência conjugal (agressões físicas, verbais ou de natureza psicológica) não vê satisfeitas as suas necessidades em saúde”, refere Henrique Barros.

O estudo avaliou 3279 pessoas de seis cidades europeias (Atenas, Budapeste, Estugarda, Londres, Porto e Östersund) com idades compreendidas entre os 18 e os 64 anos.

Verificou-se que os indivíduos envolvidos em algum tipo de abuso tendem a evitar ou a adiar a ida ao médico ou a omitir a causa dos seus sintomas. Como refere o coordenador do estudo, “não procurar ajuda médica ou atrasá-la, pode piorar o prognóstico, aumentar o risco de hospitalização e o tempo de internamento, além de diminuir a qualidade de vida”.

As pessoas que são vítimas de abusos e agressões tendem a apresentar mais problemas de saúde, complicações cardiovasculares, de saúde mental e de síndrome pós-traumática.

Prevalência da agressão mútua

A investigação mostrou também que o tipo de violência mais frequente em várias cidades é a violência mútua ou recíproca, em que ambos os parceiros íntimos são agressores e vítimas, e que se desenvolve muitas vezes num contexto de escalada conflituosa. O estudo mostra ainda que as consequências mais nefastas para a saúde recaem sobre a vítima.

No Porto, por exemplo, a proporção de pessoas que diziam ter sido vítimas era de 5,7%, a percentagem dos que assumiam ser agressores era de 6% e a dos que revelavam ser simultaneamente vítimas e agressores era de 15,7%.

Foi também possível perceber que as mulheres que são vítimas de violência conjugal tendem mais a não procurar ajuda e a desvalorizar a gravidade dos sintomas e das consequências.

O estudo intitulado The impact of intimate partner violence on forgone healthcare: a population-based, multicentre European study envolveu também os investigadores Diogo Costa, Eleni Hatzidimitriadou, Elli Ioannidi-Kapolo, Jutta Lindert, Joaquim Soares, Örjan Sundin e Olga Toth.