Projeto visa prevenir, através do futebol, riscos e problemas cardiovasculares e metabólicos que tendem a afetar as crianças obesas. (Foto: SXC)

Move paixões por todo o mundo, mobiliza milhões em negócios e publicidade, mas o futebol pode também ter efeitos benéficos para a saúde… Essa é a convicção de uma equipa de investigadores da Faculdade de Desporto (FADEUP) e da Faculdade de Medicina (FMUP) da Universidade do Porto, que acaba de obter o apoio da UEFA para a implementação de um projeto que visa combater a obesidade entre as crianças da cidade do Porto.

Liderado por André Seabra,  professor da FADEUP e investigador do Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL) da U.Porto, o projeto propõe a aplicação inovadora de um programa de futebol recreativo junto de 120 crianças (dos 10 aos 12 anos) obesas, a recrutar pela Unidade de Pediatria do Hospital CUF-Porto junto do Agrupamento de Escolas de Perafita. Entre remates e pontapés de bicicleta, serão trabalhados com os participantes aspetos direcionados para a  prevenção de riscos e problemas cardiovasculares e metabólicos que tendem a afetar as crianças obesas.

Da teoria para o terreno de jogo, as crianças serão divididas em dois grupos de intervenção.  Segundo André Seabra, “um dos grupos vai ser acompanhado ao longo de seis meses e terá um treino intensivo (três vezes por semana) no Padroense FC, que consiste basicamente na utilização de jogos reduzidos de futebol”. O outro grupo vai estar sediado na escola EB23 de Perafita e será alvo de um programa de exercício onde predomina a marcha e a corrida”.

A escolha do futebol pretende ser, de resto, um fator de motivação para a participação das crianças no estudo. “Muitas vezes , os programas de promoção de atividade física com crianças não são eficazes por serem pouco motivantes. O futebol, como desporto de equipa que é, tem particularidades vantajosas relativamente aos desportos de âmbito individual. Desde logo, a sua popularidade e o fato de ser o desporto mais praticado em Portugal. Para além disso, as exigências que o jogo de futebol coloca aos aos seus praticantes respondem às principais linhas de recomendação para a atividade física propostas pela OMS. Associadas a estas vantagens salienta-se ainda o facto do futebol ser extremamente económico, não exigindo grandes custos em termos de equipamentos e infaestruturas, e democrático pois é acessível a todas as pessoas independentemente do seu estatuto económico e nutricional”, explica André Seabra, para quem “o futebol tem de deixar de ser visto apenas como rendimento, e passar a ser considerado como um “medicamento” capaz de promover a saúde e o bem-estar dos seus praticantes”.

Projeto é liderado por André Seabra, professor e investigador da Faculdade de Desporto.

Com o título “Soccer as a novel therapeutic approach to pediatric obesity. A randomized controlled trial and its effects on fitness, body composition, cardiometabolic and oxidative markers”, o projeto da U.Porto foi um dos 59 projetos de todo o mundo que se candidataram ao financiamento da UEFA. Destes, apenas cinco foram selecionados.

“Para nós é uma grande satisfação ver reconhecida por uma organização internacional de tão reconhecida importância uma investigação realizada em Portugal, e por investigadores portugueses, e que tem como grande propósito a utilização do futebol, a modalidade desportiva mais popular e praticada no mundo inteiro, na promoção de saúde”, realça André Seabra.

Garantido o apoio do mais importante organismo ligado ao futebol a nível europeu, a equipa liderada pelo investigador da FADEUP deseja agora também obter o apoio das instituições nacionais. “Seria muito importante juntar o apoio ao das duas organizações que gerem o futebol em Portugal: a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP)”, perspetiva André Seabra.