As UCIN que dispõem de um profissional de saúde treinado para apoiar as mães de recém-nascidos muito pré-termo a amamentar têm maior prevalência de aleitamento materno exclusivo à data da alta. (Imagem: Centro Hospitalar do Alto Ave).

Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) avaliou as práticas de aleitamento materno nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN) portuguesas e concluiu que as UCIN que dispõem de um profissional de saúde treinado para apoiar as mães de recém-nascidos muito pré-termo (menos de 32 semanas de gestação) a amamentar, alcançam uma maior prevalência de aleitamento materno exclusivo à data da alta do que aquelas que não têm um membro designado para o efeito.

Pelos benefícios que proporciona à saúde da criança, a Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno em exclusivo até aos 6 meses tanto para as crianças de termo (que nascem com 37 semanas ou mais de idade gestacional) como para os recém-nascidos muito pré-termo. Sendo os bebés muito pré-termo um grupo de risco, é importante garantir que as UCIN – unidades especiais do Serviço de Neonatologia que têm uma tecnologia muito avançada e diferenciada na prestação dos cuidados ao bebé pré-termo ou doente – possuem as características necessárias que favoreçam a prática do aleitamento materno.

“No nosso estudo, avaliámos em que medida as características das UCIN influenciam as práticas de aleitamento materno de bebés muito pré-termo”, explica Carina Rodrigues, primeira autora do estudo, coordenado pelo investigador Henrique Barros, e publicado na revista “Breastfeeding Medicine”.

Na investigação, que envolveu 16 UCIN portuguesas, constatou-se, em primeiro lugar, que “existe uma grande variabilidade nas práticas de aleitamento materno entre as Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais”, avança a investigadora. Por exemplo, a proporção de aleitamento materno em exclusivo à data da alta (momento em que o recém-nascido abandona a unidade) variou entre 3 e 50% e o aleitamento materno misto (combinação entre aleitamento materno com a fórmula, que também é chamado de leite artificial) variou entre 21 e 62%. “Olhando para estes resultados, quisemos perceber o que é que poderia ajudar a explicar esta variabilidade entre as diferentes unidades envolvidas no estudo”, diz.

Os resultados mostram que, independentemente das características da mãe e da criança que também podem influenciar as práticas de aleitamento materno, como a idade materna, o peso ao nascimento e as complicações durante o período de internamento, “há características das unidades que explicam esta variabilidade, nomeadamente o facto de terem um profissional de saúde designado para ajudar a mãe no processo de aleitamento materno”.

O estudo, que concluiu que apenas 25,2% dos bebés muito pré-termo estava com aleitamento materno exclusivo à data da alta, constatou também que a existência de um membro responsável por apoiar as mães no processo de amamentação explica, por si só, cerca de 43% da variabilidade observada entre as unidades na prática do aleitamento exclusivo.

Tais resultados revelam que “há espaço para melhorar as práticas de aleitamento materno. É possível fazer mais e melhor, conseguindo, nomeadamente, atribuir, em cada uma destas unidades, um profissional de saúde que esteja exclusivamente designado para apoiar as mães no processo de aleitamento, o que implica, por exemplo, a partilha de conhecimento acerca dos seus benefícios, bem como o ensino de técnicas para extração, conservação e manipulação do leite materno”.

Entre os vários benefícios do aleitamento materno para a saúde da criança, destacam-se, por exemplo, o fornecimento de nutrientes importantes para o bebé, contribuindo para o seu crescimento e desenvolvimento, a redução do número de infeções e do risco de readmissão hospitalar, e ainda a promoção de um maior vínculo afetivo entre a mãe e o bebé.

Recentemente, a OMS e a UNICEF publicaram uma recomendação para ampliar o acesso equitativo ao leite humano a todas as crianças, incluindo também o grupo de recém-nascidos muito pré-termo, como estratégia para melhorar os seus resultados em saúde. A recomendação estabelece que, para aquelas situações em que as mães não podem amamentar, deve-se recorrer ao leite humano doado, o qual deve ser fornecido de forma segura através de um Banco de Leite Humano. Em Portugal, existe apenas um Banco de Leite Humano, na Maternidade Alfredo da Costa.

O estudo intitulado The Type of Feeding at Discharge of Very Preterm Infants: Neonatal Intensive Care Units Policies and Practices Make a Difference é também assinado por Milton Severo, Jennifer Zeitlin e pelo Grupo de Investigação EPICE-Portugal (Effective Perinatal Intensive Care in Europe).