O estudo mostrou que ser fumador, independentemente do número de cigarros diários fumados, faz aumentar significativamente o risco de desenvolver cancro do estômago em 20%.

Uma investigação realizada por um consórcio internacional, em que o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) participa,harmonizou e integrou dados de vários estudos de 16 países que elencavam fatores de risco para o cancro do estômago e concluiu, de forma robusta, que a probabilidade de desenvolver este tipo de cancro aumenta com o crescente número de cigarros que se fuma. Por exemplo, quem fuma 20 cigarros por dia (o equivalente a um maço de tabaco) aumenta em cerca de 30% o risco de vir a desenvolver cancro do estômago.

“Sabe-se que o tabaco é um dos principais fatores de risco para o cancro do estômago, mas há aspetos dessa associação que contêm, ainda, lacunas de informação, uma vez que há dados dispersos e não aproveitados na sua íntegra. Por isso, neste consórcio, quisemos harmonizar e integrar dados de estudos que não estavam totalmente explorados, de forma a conseguirmos tirar conclusões mais robustas sobre esta associação”, explica Ana Ferro, primeira autora deste estudo internacional, coordenado por Nuno Lunet, investigador integrado na Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP.

Os investigadores que participaram no consórcio StoP (Stomach Cancer Pooling) Project analisaram cerca de 23 estudos, que continham informação sobre 10 mil casos de cancro do estômago e 26 mil controlos (pessoas sem cancro).

“Com a harmonização de todos estes dados, conseguimos obter uma estimativa mais precisa sobre a associação entre tabaco e o cancro do estômago”, refere Ana Ferro.

Verificou-se que ser fumador, independentemente do número de cigarros diários fumados, faz aumentar significativamente o risco de desenvolver cancro do estômago em 20%. A percentagem sobe para 30% para aqueles que fumam um maço de tabaco por dia, o que equivale a 20 cigarros. Quem fuma mais do que um maço, vê o risco aumentar ainda mais.

Perceber até que ponto é que um determinado fator de risco contribui para o aumento da probabilidade de desenvolver uma doença é extremamente relevante para políticas de saúde, dado que indica claramente onde é que temos que agir e onde é que devemos investir e direcionar as intervenções de forma a prevenir a patologia”, nota a investigadora.

Tendo em conta os resultados alcançados, Ana Ferro sublinha a importância de manter as campanhas antitabágicas que estão a ser desenvolvidas, de apostar em campanhas de prevenção de iniciação tabágica e de alertar insistentemente para os malefícios do consumo de tabaco para a saúde.

O cancro do estômago é um problema de saúde pública. É o terceiro tipo de cancro mais incidente no mundo todo e o quinto mais mortal. Em Portugal, ocupa a quarta posição na listagem de cancros que mais afetam homens e mulheres e são uma grande causa de incapacidade, de morbilidade e mortalidade.

O estudo publicado na revista European Journal of Cancer Prevention intitula-se Tobacco smoking and gastric cancer: meta-analyses of published data versus pooled analyses of individual participant data (StoP Project). É também assinado pelos investigadores portugueses Samantha Morais e Bárbara Peleteiro e encontra-se disponível aqui.