Segundo os resultados iniciais do projeto HARMED, o tipo de abuso mais prevalente entre a população idosa é o abuso psicológico, seguido do financeiro.

O tipo de abuso mais prevalente entre a população idosa é o abuso psicológico, seguido do financeiro, segundo indicam os resultados iniciais do projeto “HARMED: o abuso de idosos: determinantes sociais, económicas e de saúde”, desenvolvido por uma equipa multidisciplinar do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e do Instituto de Sociologia (ISUP).

O projeto, que arrancou em julho de 2016, “analisou a relação entre os abusos infligidos às pessoas idosas e o contexto de crise socioeconómica que se viveu a nível Europeu e, em particular, em Portugal, nos últimos anos”, explica Isabel Dias, Professora Associada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e investigadora no ISUP.

“Pretendíamos compreender se as desigualdades económicas, a ausência de redes sociofamiliares e o declínio do estado de saúde desta população se relacionavam com uma maior prevalência de abusos infligidos a pessoas idosas”, continua.

O estudo envolveu 677 indivíduos com 60 e mais anos da coorte populacional EPIPorto – uma estrutura de investigação criada e coordenada pelo ISPUP, que acompanha, desde 1999, 2485 indivíduos com 18 ou mais anos, residentes no Porto.

Os resultados iniciais do projeto apontam para a prevalência do abuso psicológico (19,9%) entre os participantes no estudo, seguido do abuso financeiro, mas com menor expressão (5,8%). O abuso psicológico é reportado principalmente pelas mulheres idosas, por indivíduos que têm entre 70 e 79 anos, que não vivem em conjugalidade e que possuem um nível de escolaridade alto.

Os abusos contra idosos parecem ser mais frequentes entre aqueles que referem ter mais dificuldades económicas, que declaram ter um nível de segurança alimentar muito baixo, menor suporte social e maior ocorrência de sintomas depressivos. Consequentemente, as vítimas de abuso têm uma pior perceção do seu estado geral de saúde e parecem abdicar mais frequentemente dos serviços de saúde, mesmo quando deles necessitam.

“Sabemos que, em Portugal, as condições para envelhecer não são as mais favoráveis. Se, adicionalmente, os idosos acumularem um conjunto de desvantagens, como viverem em condições socioeconómicas desfavoráveis, apresentarem baixo suporte social e serem vítimas de situações de abuso, isso vai deixá-los numa situação de maior vulnerabilidade. Um investimento em políticas sociais e de saúde centradas na problemática dos abusos na população idosa deverá considerar a coocorrência de todas estas desvantagens”, remata Isabel Dias.

O projeto HARMED é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), sob os programas Portugal 2020 e Compete.