Investigadores ficaram a par dos problemas vividos pelos produtores de vinho

A região vinícola do Douro vive graves problemas ao nível racionalização dos recursos, mas estes podem ser ultrapassados com uma melhor mecanização, mais sustentabilidade e… uma maior intervenção do meio académico. Estas foram algumas das conclusões que resultaram da visita que um grupo de investigadores da Universidade do Porto realizou à zona vinícola do Douro no passado dia 8 de outubro, no âmbito da colaboração que tem vindo a ser desenvolvida com a ADVID (Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense).

Numa iniciativa que incluiu paragens em três adegas da região (centro de vinificação da Sogrape, Quinta da Cavadinha e Quinta do Seixo), a comitiva da U.Porto, composta por investigadores das Faculdades de Ciências, Farmácia, Engenharia e do laboratório REQUIMTE, ouviu na primeira pessoa os problemas que afetam os produtores, com destaque para os relacionados com o desperdício de água. “Estes centros gastam muita água, não só na produção de vinho, mas também na limpeza dos equipamentos, que são dispendiosos e difíceis de manter”, destacou José Manso, presidente da ADVID, lembrando que”, para produzir um litro de vinho, gastam-se entre 400 a 700 litros de água”.

A ADVID alerta também para o “desperdício de recursos” sentido ao nível das estações de tratamento de resíduos, responsáveis por receber e tratar as águas sujas da produção do vinho. José Manso nota que estas englobam entre 5 a 15% dos custos de um centro de vinificação e recursos, motivo pelo qual considera necessária uma mudança na lei: “A legislação proíbe o uso dos resíduos das ETAR nas vinhas e por vezes vão lá parar lamas muito ricas em nutrientes, como o potássio, que poderiam ser aproveitadas pelos produtores”.

Charles Symington, do grupo Symington, enfrenta outro problema: não tem água suficiente perto da sua adega, para fazer “vinhos topo de gama”. Na Quinta da Cavadinha a água chega de camião, o que, devido aos elevados custos com o combustível, fez com que o produtor tenha apostado numa forte mecanização da adega com robots e lagares em inox (em substituição dos de granito, que gastam mais água para lavar), fazendo com que seja “cada vez mais possível fazer bom vinho com pouca água”, refere o produtor.

Paralelamente à mecanização, a crescente aposta na agricultura integrada, ao invés da agricultura biológica, é outra das soluções que vêm sendo aplicadas nas vinhas do Doutro. Para António Graça, responsável de I&D do grupo Sogrape, esta forma de produção “oferece mais sustentabilidade a longo prazo” e tem menos impactos ambientais que a convencional, mas menos risco económico que a biológica”. Na prática, “ só atacamos uma praga quando ela está a ser prejudicial e não só porque ela apareceu na vinha, ou tentamos pulverizar os fertilizantes só em dias de pouco vento, para não desperdiçar produto”, exemplificou.

Aproximar os produtores da Universidade

Nas vinhas do Douro, o objetivo é idêntico para os diferentes produtores: produzir vinho com a melhor qualidade possível, usando o mínimo indispensável de recursos. Um processo que, segundo os intervenientes, pode ser reforçado com o apoio da Universidade. Como referiu José Sarsfield Cabral, Pró-Reitor da U.Porto para a Melhoria Continua, “na produção de vinho os problemas são multidisciplinares e devemos estar atentos às possibilidades de os resolver”.

Adepto de uma maior aproximação entre produtores e investigadores, José Manso, da ADVID, realçou que a biodiversidade pode ser usada em proveito dos produtores e que “há que conhecer os organismos que nos ajudam a reduzir os químicos”. E acrescentou que “já existem dados recolhidos em amostragens de clones de castas diferentes da uva, que podem ser consultados pelos produtores de vinho da região e pelos investigadores para tornar esta cultura mais sustentável.

Da parte dos investigadores, Belmira Neto, da Faculdade de Engenharia, nota que, ao contrário do que se pensa, “o processo da viticultura não se restringe ao fabrico do vinho e há que pensar o processo como um todo, desde o início, na poda e na folhagem”. Nesse sentido, “o processo começa na vinha e só acaba na desmaterialização da garrafa de vidro”.

Esta visita da comitiva da U.Porto ao Douro foi organizada pela UPIN – Universidade do Porto Inovação.