Os investigadores sublinham que os programas que visem reduzir os níveis de burnout nesta população devem ter em consideração todas as categorias profissionais.

Um estudo coordenado pela Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que a síndrome de burnout afeta todos os profissionais que trabalham em hospitais, independentemente da função que desempenham. Os investigadores sublinham, por isso, que os programas que visem reduzir os níveis de fadiga física e mental nesta população devem ter em consideração todas as categorias profissionais, e não apenas os profissionais de saúde que lidam de forma mais direta com os doentes.

A investigação, publicada na revista “Occupational Medicine”, surgiu para tentar colmatar a falta de informação sobre a prevalência do burnout em profissionais hospitalares cujas funções não estavam diretamente ligadas ao tratamento da doença.

Como explica Ana Henriques, investigadora do ISPUP, “a síndrome do burnout era mais frequentemente avaliada em médicos e enfermeiros, havendo menos evidência sobre a sua prevalência em outras categorias profissionais que trabalham em contexto hospitalar”.

Para além de procurar avaliar a prevalência de burnout – estado de fadiga física e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional e que engloba três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e falta de realização pessoal – em cinco categorias de profissionais do contexto hospitalar (auxiliares de ação médica, enfermeiros, técnicos superiores de saúde e de diagnóstico e terapêutica, administrativos e médicos), a investigação tentou também perceber em que medida é que a categoria profissional se associa a níveis elevados de burnout.

Burnout: Um problema global

Participaram no estudo 368 profissionais hospitalares, que responderam a um questionário via e-mail. Os resultados mostram que “o burnout afeta todos os funcionários hospitalares e não apenas médicos e enfermeiros, como a literatura enfatizava anteriormente”, diz Ana Henriques. “Os técnicos de saúde e o staff administrativo têm proporções de elevado risco de burnout, nomeadamente por exaustão emocional, muito semelhantes aos enfermeiros”, acrescenta.

Ao mesmo tempo, quando se compara os níveis de exaustão emocional em todas as categorias profissionais, constata-se que os auxiliares de ação médica têm significativamente menor probabilidade de apresentar exaustão emocional em comparação com os enfermeiros.

“Entre os médicos, enfermeiros e técnicos administrativos, verificámos um risco elevado de burnout em proporções muito semelhantes. Contudo, isso não significa que os motivos que levam ao burnout sejam os mesmos”, diz a investigadora, que sublinha a necessidade de estudos complementares que avaliem as causas desta síndrome.

Ao nível de políticas de saúde pública, o estudo sublinha que “os programas futuros que visem reduzir os níveis de burnout em ambientes hospitalares devem ter em linha de conta todas as categorias profissionais e as especificidades de cada uma delas”.

O estudo “The effect of profession on burnout in hospital staff” é também assinado pelos investigadores Maria Manuel Marques, Elisabete Alves, Cristina Queirós e Pedro Norton. O Serviço de Saúde Ocupacional do Centro Hospitalar de São João, o Departamento de Ciências da Saúde Pública e Forenses e Educação Médica da Faculdade de Medicina da U.Porto (FPCEUP) e a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP) participaram também na investigação.