94% dos internamentos registados dizem respeito a bebés com menos de um ano. (Foto: DR)

Não, não está erradicada. A tosse convulsa provocou, entre 2000 e 2015, uma média de 143 hospitalizações por ano, correspondente a três internamentos por semana, e custou ao Estado cerca de 2,7 milhões de euros, só em custos diretos. São estas as conclusões do primeiro estudo realizado sobre as hospitalizações por tosse convulsa, a nível nacional, desenvolvido por investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúdeem colaboração com docentes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

O trabalho debruçou-se sobre a informação recolhida em todos os hospitais públicos de Portugal continental, entre 2000 e 2015. Os dados, anonimizados, foram cedidos pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), ao abrigo de um protocolo de colaboração com o referido centro de investigação.

Os resultados revelam que, no período em estudo, ocorreram 2.229 hospitalizações por tosse convulsa nos hospitais públicos portugueses. 94% desses internamentos diziam respeito a lactentes com menos de um ano, sobretudo bebés com menos de dois meses (idade em que não foi ainda iniciada a vacinação contra a tosse convulsa). Seguiram-se as crianças e adolescentes com idades compreendidas entre 1 e 17 anos, que somaram 3,5% dos internamentos, e por fim, os adultos e idosos.

A equipa de investigação concluiu que, ao longo do tempo, se verificaram surtos a cada 3 ou 5 anos, tendo sido registado um pico maior em 2012. “Curiosamente, ocorreram mais hospitalizações de lactentes com menos de 1 ano durante o Inverno, enquanto nos restantes grupos etários estas foram mais frequentes no Verão. Adicionalmente, o Algarve foi a região que registou maior taxa de internamentos, “possivelmente devido à maior aglomeração de indivíduos de diferentes grupos etários e ao maior influxo de estrangeiros”, explicou Manuel Gonçalves Pinho, investigador do CINTESIS.

Sara Oliveira, estudante do último ano do Mestrado Integrado em Medicina, da FMUP, salienta que as hospitalizações por tosse convulsa representam “apenas a ponta do iceberg” e que esta doença continua, nos dias de hoje, a atingir não só a população pediátrica, mas também os adultos e idosos. Apesar do Programa Nacional de Vacinação incluir a imunização contra a tosse convulsa desde 1965, e do elevado índice de cobertura vacinal, é importante compreender que “não se erradicou a doença e que se deve ter um elevado índice de suspeição perante situações de tosse prolongada, para evitar um diagnóstico tardio, a disseminação da doença e as complicações consequentes”

A tosse convulsa é uma doença altamente contagiosa que, na fase inicial, cursa com sintomas similares aos da maioria das infeções do trato respiratório superior, mas que evolui para uma fase de tosse paroxística (com crises intensas) e implica várias semanas de convalescença. Se não for tratada na fase inicial, pode induzir complicações graves, ao nível respiratório e neurológico, especialmente em crianças não vacinadas, alerta a pediatra Inês Azevedo, do Centro Hospitalar de São João.

Este é um motivo de preocupação para a Direção-Geral da Saúde, que desde 2017 implementou a vacinação de todas as grávidas, entre as 20 e 36 semanas de gestação, com o intuito de proteger recém-nascidos e pequenos lactentes.

Para além de Manuel Gonçalves Pinho, Sara Oliveira e Inês Azevedo, colaboraram neste estudo Alberto Freitas e Hercília Guimarães.