Os profissionais de saúde, em particular os médicos, devem considerar fatores individuais, como o tabagismo, quando analisam o óxido nítrico exalado (FeNO), um dos marcadores mais importantes utilizados na avaliação da inflamação brônquica, sob pena de “falharem” o diagnóstico de doenças respiratórias, como a asma.

Esta é uma das principais conclusões de uma série de estudos desenvolvidos por Tiago Jacinto, investigador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, Unidade de I&D da Universidade do Porto, e docente da Escola Superior de Saúde do Porto.

Utilizado sobretudo no diagnóstico de doenças respiratórias, na avaliação da adesão e eficácia da terapêutica e na previsão de crises asmáticas mesmo antes de existirem sintomas, o FeNO é um teste não invasivo que é feito de forma semelhante ao teste do balão utilizado pelas autoridades policiais para detetar a presença de álcool no sangue.

“Atualmente, a interpretação do FeNO é feita com base em valores fixos e não são tidas em consideração as especificidades de cada pessoa. Não podemos continuar a ignorar as características individuais, como a idade, a altura, o género e os hábitos tabágicos, que influenciam os valores medidos”, considera Tiago Jacinto, primeiro autor de um estudo sobre a influência destes fatores no FeNO.

A idade é um dos fatores que devem ser tidos em conta. Com base em dados de mais de milhares de indivíduos, Tiago Jacinto mostrou que o FeNO sobe até sensivelmente ao meio da adolescência, de maneira diferente nos rapazes e nas raparigas, mantendo-se relativamente estável até aos 50 anos, nas mulheres e até aos 55-59 nos homens. Depois, começa novamente a aumentar. “Existe um padrão de aumento do FeNO nunca tinha sido mostrado até agora”, explica o investigador do CINTESIS.

O tabagismo é outro dos fatores que interferem com o FeNO. De acordo com outro estudo desenvolvido por Tiago Jacinto, a partir dos 13 cigarros por dia, os asmáticos apresentam valores de óxido nítrico exalado iguais aos dos indivíduos saudáveis, o que pode dificultar ou confundir o diagnóstico, se continuarem a ser usados valores fixos para a interpretação dos valores do FeNO.

“A produção do óxido nítrico é estimulada com o processo inflamatório presente na asma. Por isso, é esperado que os asmáticos tenham valores de FeNO superiores ao normal. Quando um asmático fuma pouco mais de meio maço por dia, apresenta um valor normal, como o de um não asmático, dificultando o diagnóstico. Isto se o tabaco a idade e outros fatores como a alergia não forem tidos em conta. O tabaco pode encobrir não só a asma como uma série de outras doenças, como rinite, tosse crónica, algumas doenças inflamatórias (esofagite eosinofílica) ou mesmo alguns fenótipos de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC)”, indica.

Além de interferir com o diagnóstico, os hábitos tabágicos também influenciam o controlo da terapêutica através da análise do óxido nítrico exalado. “Quando um asmático está a tomar a medicação corretamente, uma subida no valor FeNO pode ser preditora de uma exacerbação. Se um doente asmático fumar mais de 13 cigarros por dia, o FeNO vai parecer baixo e não vai ser possível prever uma crise. O tabaco tem um efeito confundidor. É como ir ao oftalmologista com lentes de contacto”, alerta o investigador.

O próximo passo é desenvolver e disponibilizar uma ferramenta que permita testar o óxido nítrico exalado, atendendo a características individuais, em diferentes populações, o que poderá melhorar o diagnóstico e a terapêutica da asma e de outras doenças respiratórias.