A investigação mostrou que os animais valorizam diferentes sinais sexuais, conforme pretendem evitar ou atrair potenciais parceiros. (Foto: DR)

Um artigo publicado recentemente na prestigiada revista Evolution pelos investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO), Ana Cristina Gomes e Gonçalo Cardoso, mostra que a melhor estratégia para acasalar pode não passar por procurar o melhor parceiro, mas sim evitar o pior.

Darwin chamou a atenção para um tipo particular de seleção natural a que chamou seleção sexual, que acontece, por exemplo, quando a escolha de parceiros tem em conta aspetos da sua qualidade, como saúde, alto potencial reprodutor ou bons cuidados parentais. Desde então, os biólogos têm trabalhado para perceber como os animais identificam parceiros de elevada qualidade, e como os seus sinais — danças de corte, cores garridas, cantos elaborados — mostram essa qualidade.

O estudo do CIBIO-InBIO, cujos resultados são agora tornados públicos, revela que nem sempre a seleção sexual promove a escolha de parceiros de elevada qualidade. “Em muitos casos as preferências das fêmeas não evoluem para escolher os melhores parceiros, mas para evitar os piores”, revela a investigadora Ana Cristina Gomes, primeira autora do artigo. “Isto porque há o risco de, protelando o acasalamento, só poderem escolher entre candidatos de má qualidade, particularmente em espécies monogâmicas nas quais os parceiros de alta qualidade podem ficar indisponíveis”, mais explica a autora.

Para chegar a esta conclusão, os autores recorreram a ferramentas que simulam a evolução de preferências sexuais de fêmeas em cenários socioecológicos alternativos, tais como monogamia ou poligamia e mais ou menos oportunidades de escolha.

Um segundo conjunto de simulações avaliou como o tipo de escolha – preferir parceiros de alta qualidade ou evitar parceiros de baixa qualidade – influencia a evolução dos sinais sexuais. A investigação mostrou que, nas espécies que evitam os piores parceiros, os sinais selecionados são diferentes dos valorizados ao procurar os parceiros de melhor qualidade.

De acordo com Gonçalo Cardoso, investigador do CIBIO-InBIO, isto “ajuda a perceber a grande variedade de sinais sexuais que os animais usam. Sinais muito elaborados, que somente machos de alta qualidade podem expressar, evoluem quando a estratégia é escolher os melhores parceiros; sinais mais simples, que todos podem expressar, excepto machos de baixa qualidade, evoluem quando a estratégia é evitar os piores”.

Ao estudar a evolução de preferências sexuais e do processo de escolha de parceiros, a investigação agora publicada utiliza uma abordagem mais flexível que a de trabalhos teóricos anteriores. Com isso, o artigo traz um importante contributo para o campo da Evolução, ao demonstrar que a estratégia de evitar os piores parceiros poderá ser uma forma distinta de seleção sexual que resulta na evolução de diferentes tipos de sinais.