Um estudo da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) comparou as doenças reumáticas com outras patologias não transmissíveis e concluiu que, isoladamente, o primeiro grupo de doenças é o que acarreta maior impacto para a sociedade, nomeadamente aos níveis dos custos para o doente e da utilização dos cuidados de saúde.
A investigação avaliou de que forma um conjunto de doenças não transmissíveis, entre as quais a diabetes, a hipertensão, o AVC, a depressão, o enfarte do miocárdio e as doenças reumáticas, influenciam determinados resultados em saúde, concretamente, a forma como o doente avalia o seu estado de saúde, a incapacidade de curta ou longa duração, a dor crónica, a utilização frequente dos serviços de saúde e as despesas com cuidados de saúde não comparticipadas.
“Inicialmente o nosso objetivo era perceber que parte dos resultados negativos de saúde conseguiríamos evitar se, teoricamente, uma destas doenças fosse evitada, isto é, quanto é que eliminaríamos de autoapreciação negativa do estado de saúde, de incapacidade de curta ou longa duração, de dor crónica, de utilização frequente dos cuidados de saúde e de despesas diretamente suportadas pelo indivíduo”, explica Daniela Simões, primeira autora do estudo, publicado na revista “Rheumatology International”, e coordenado pela investigadora Raquel Lucas.
O estudo mostrou, por exemplo, que as doenças reumáticas são responsáveis por 10% das despesas não comparticipadas do doente e por cerca de 7,5% da utilização frequente dos cuidados de saúde. Estes números são expressivos quando comparados com o AVC ou o enfarte do miocárdio, os quais, se fossem evitados, permitiriam ao doente poupar cerca de 3 a 4% das suas despesas e contribuiriam para reduzir aproximadamente 2 a 3% da frequência regular dos cuidados de saúde.
“Devido à sua alta prevalência, as doenças reumáticas acabam por ter maior impacto na sociedade. Há várias patologias que a nível clínico afetam muito o indivíduo, como, por exemplo, o AVC e outras doenças cardiovasculares, mas, quando abandonamos a análise do indivíduo e nos focamos na população em geral, vemos que a diminuição da prevalência das doenças reumáticas iria evitar uma maior carga sobre a sociedade e o sistema de saúde”, refere Daniela Simões.
“No fundo, este estudo mostra que as doenças consideradas mais importantes a nível individual ou clínico nem sempre são aquelas com maior impacto na população em geral”, adianta.
A mesma equipa de investigadores verificou, num estudo anterior, “que as doenças reumáticas existem em simultâneo com todas as outras doenças crónicas examinadas, nomeadamente patologias cardiometabólicas e respiratórias”. No entanto, “a presente investigação acrescenta que o padrão de coexistência das doenças reumáticas com a depressão é o que tem maior impacto na dor crónica na população”, remata Daniela Simões.
O estudo utilizou dados de 23. 752 Indivíduos da população portuguesa, que responderam ao Inquérito Nacional de Saúde, coordenado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE, IP) em colaboração com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, em 2005/2006.
As doenças reumáticas têm uma prevalência elevada na população portuguesa, afetando, neste estudo, cerca de 21,4% dos participantes.
A investigação designada The population impact of rheumatic and musculoskeletal diseases in relation to other non-communicable disorders: comparing two estimation approaches é também assinada pelos investigadores Fábio Araújo, Teresa Monjardino, Milton Severo, Ivo Cruz e Loreto Carmona, e encontra-se disponível aqui.