Céu Figueiredo demonstrou que existem diferentes bactérias no estômago e que elas variam ao longo do desenvolvimento de cancro gástrico. (Foto: i3S)

O Prémio Pfizer 2018 na área da Investigação Clínica foi atribuído à equipa coordenada pela investigadora Céu Figueiredo, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S)/Ipatimup e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que este ano publicou um trabalho considerado pelo júri «de grande relevância científica a nível internacional sobre o cancro gástrico», umas das patologias com maior incidência no nosso País.

O resultado da investigação foi publicado na prestigiada revista de gastroenterologia «Gut» e demonstra que existem diferentes tipos de bactérias no estômago e que elas variam ao longo do processo de desenvolvimento de cancro do estômago. A equipa, totalmente nacional, provou que as bactérias existentes no estômago dos doentes com cancro gástrico são completamente diferentes das presentes em doentes que têm apenas inflamação crónica do estômago (gastrite crónica).

Sabe-se que a infeção por uma bactéria em particular, a Helicobacter pylori, desempenha um papel importante nas fases iniciais do processo que leva ao desenvolvimento de cancro. Em alguns indivíduos, esta infeção leva a que a acidez do estômago diminua, podendo permitir o crescimento de outros tipos de bactérias no estômago. A equipa coordenada por Céu Figueiredo verificou que o perfil da microbiota gástrica (a diversidade e a abundância de tipos específicos de bactérias que vivem no estômago) varia das fases mais iniciais para as fases mais tardias do processo de desenvolvimento de cancro do estômago. Nos doentes com cancro do estômago, explica a investigadora, «este perfil revela um desequilíbrio nas comunidades microbianas, com a diminuição da abundância de H. pylori e com o aparecimento de bactérias que produzem substâncias químicas capazes de causar danos ao DNA das células humanas».

O estudo, enquadrado num projeto financiado pela Worldwide Cancer Research, envolveu numa fase inicial 135 doentes portugueses e os resultados foram posteriormente validados em populações de diversas localizações geográficas, num total de cerca de 300 doentes. A descoberta da alteração do perfil bacteriano no estômago ao longo do desenvolvimento da doença, poderá vir a ser clinicamente relevante no seguimento dos doentes com lesões pré-cancerosas e contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de prevenção do cancro do estômago.

Em Portugal, tal como no resto do mundo, “o cancro do estômago é o quinto mais incidente e o terceiro cancro mais mortal. Globalmente são diagnosticados cerca de um milhão de novos doentes por ano. Esperamos que os avanços que foram feitos durante o desenvolvimento deste trabalho de investigação venham a ter impacto futuro na redução do número de casos deste tipo de cancro”, salienta Céu Figueiredo.

A Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, júri da 62.ª edição dos Prémios Pfizer, recebeu este ano mais de 80 candidaturas, um dos melhores registos de sempre. O prémio de investigação básica foi atribuído à equipa liderada pela investigadora Mariana Gomes de Pinho, do ITQB da Universidade Nova de Lisboa. Este trabalho já mereceu destaque na revista «Nature» e debruça-se sobre a possibilidade dos futuros antibióticos se focarem na divisão celular. Esta investigação pretende contribuir para a descoberta de novos antibióticos que combatam as denominadas bactérias multirresistentes no meio hospitalar, que podem vir a matar mais de 300 milhões de pessoas nos próximos 35 anos.

Os Prémios de Investigação Pfizer resultam de uma parceria entre a Pfizer e a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, com o objetivo de contribuir para a dinamização da investigação em ciências da Saúde em Portugal. Instituídos em 1956, os Prémios Pfizer distinguem os melhores trabalhos de investigação básica e clínica, elaborados total ou parcialmente em instituições portuguesas por investigadores portugueses ou estrangeiros e conferem anualmente um prémio monetário no valor de 20.000 euros para cada um dos projetos vencedores em cada área. Ao longo destes anos, os Prémios Pfizer foram atribuídos a cerca de 700 investigadores, tendo sido premiados 225 trabalhos.