As doenças orais afetam mais adultos portugueses do que cidadãos de outros países da Europa. Esta é uma das principais conclusões de um estudo desenvolvido pela Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), no qual participa um investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), e que alerta também para a necessidade de promover bons hábitos de higiene oral entre os idosos e pessoas de classes sociais mais baixas.

O estudo em que participou Paulo Melo, na altura como secretário-geral da OMD e atualmente investigador do ISPUP, teve como base um inquérito presencial realizado a 1. 102 indivíduos de Portugal Continental e Ilhas e foi desenvolvido com o objetivo de caracterizar o estado de saúde oral da população portuguesa, os seus hábitos de higiene, assim como as razões apontadas para procurar cuidados de saúde oral, especialmente, no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Trata-se do primeiro estudo nacional sobre a perceção do estado de saúde oral dos próprios portugueses e que foi levado a cabo pela OMD. O trabalho vai permitir delinear estratégias de Saúde Publica Oral que mais se adequem às necessidades da população, alicerçadas em dados cientificamente comprovados”, refere Paulo Melo.

Os resultados mostram que a maioria da população portuguesa escova os dentes diariamente (97,6%) e que 72,7% o faz mais de duas vezes por dia. Em termos de género, as mulheres são as que reportam fazer a escovação diária com mais frequência.

No que toca à perda de dentição, 70,3% da população inquirida perdeu os dentes permanentes e 6,4% eram desdentados. A perda de dentição permanente registou uma percentagem mais elevada nas mulheres do que nos homens. É de realçar que mais de metade da amostra populacional com perda de dentição permanente optou por não colocar próteses removíveis ou fixas.

Mais de metade dos participantes referiu sentir dificuldades em ingerir alimentos e bebidas, devido a algum problema oral, 18% mostra sentir vergonha da aparência dos seus dentes e um número bastante significativo (70%) tem dor de dentes ou gengivas inflamadas.

A existência de constrangimentos financeiros e a perceção de que a visita ao dentista não é necessária são as principais razões apontadas para não procurar apoio na área da saúde oral.

As conclusões do trabalho indicam que os hábitos de saúde oral da população portuguesa e a perda de dentição se assemelham aos números da média europeia. Contudo, alguns indicadores mostram que, em Portugal, as doenças orais podem ser mais prevalentes em adultos, quando comparados com os europeus, de uma forma geral.

“As conclusões deste artigo expõem as carências de apoio do Serviço Nacional de Saúde em termos de cuidados de saúde oral. Apesar de encontrarmos valores dentro da média europeia em alguns parâmetros, são bem evidentes as carências existentes em adultos e idosos, principalmente das faixas socioeconomicamente mais desfavorecidas, alertando para a necessidade de intervenção preventiva e curativa urgente nestas populações”, refere o investigador.

O estudo chama a atenção para a necessidade de se encetarem esforços para promover bons hábitos de higiene oral entre grupos de risco. Simultaneamente, acrescenta que os portugueses consideram que as visitas aos profissionais de saúde oral devem ser objeto de comparticipação pelo Estado, de forma a garantir que mais pessoas possam visitar regularmente um médico dentista.

O artigo “Portuguese self-reported oral-hygiene habits and oral status” foi publicado na revista científica International Dental Journal e pode ser consultado aqui.