Projeto ‘PROMO’ foi realizado a partir de dados recolhidos em 14 capitais europeias

Os países mais “ricos”, com Produto Interno Bruto (PIB) mais elevado, são os que apresentam menor qualidade organizacional na prestação de cuidados de saúde mental para grupos socialmente marginalizados, revela um estudo publicado por um investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

O objetivo do artigo “Factors associated with quality of services for marginalized groups with mental health problems in 14 European countries”, publicado no jornal científico BMC Health Services Research, passou por comparar a organização dos serviços de saúde mental para grupos socialmente marginalizados na Europa.

A investigação, realizada em 14 capitais europeias, conclui que o contexto macroeconómico dos países, em particular o PIB, explica parte das diferenças de qualidade organizacional observadas.

“As características macroeconómicas dos países estão relacionadas com a qualidade organizacional dos serviços prestadores de cuidados de saúde mental, destacando-se a influência do PIB, isto é, quanto maior o PIB, menor a qualidade”, explica Diogo Costa, investigador do ISPUP, que utilizou dados recolhidos no âmbito do projeto PROMO – Best Practices in Promoting Mental Health in Socially Marginalized People in Europe.

Importa destacar ainda que a desigualdade social (medida através do Coeficiente de Gini), bem como o número de programas ou valências disponibilizados pelos serviços para grupos marginalizados relacionam-se também com a melhor organização na prestação de cuidados de saúde mental direcionados a estes grupos.

Para fazer a medição da qualidade organizacional dos serviços é utilizada uma ferramenta criada especialmente para o efeito, que avalia componentes como a acessibilidade dos serviços, a existência de equipas multidisciplinares, supervisão ou rede de referenciação.

Segundo Diogo Costa, a explicação para os resultados registados pode ser explorada sob dois ângulos. Por um lado, “os países mais “ricos” deverão ter um menor número de pessoas marginalizadas na sua população e, como tal, serão os que menos necessitam de investimento fragmentado em integração social e cuidados de saúde mental”. Por outro lado, “apesar de mais eficientes na organização dos serviços, com um apoio mais específico e direcionado, acabam por ser superados pelos países mais “pobres” no que concerne à qualidade”, porque “os serviços podem ver-se forçados a prestar uma variedade de cuidados com poucos recursos, mas que se refletem em melhores pontuações no índice específico que utilizamos para esta medição”, conclui o investigador.

Sobre o PROMO

O ‘PROMO’ é um projeto europeu coordenado pela Queen Mary, University of London e financiado pela Direção-Geral da Saúde e Defesa do Consumidor (DG SANCO) da União Europeia. Liderada em Portugal pelo ISPUP,  a iniciativa teve como objectivos a identificação de boas práticas nos cuidados de saúde mental para grupos socialmente marginalizados na Europa. O foco esteve no fornecimento de cuidados de saúde mental e sociais para pessoas com problemas de saúde mental, que pertencessem a um dos seguintes seis grupos: desempregados de longa duração; sem-abrigo; prostitutas; asilados/refugiados; imigrantes irregulares; e população nómada.

O projeto foi conduzido nas duas áreas de maior privação nas 14 capitais dos seguintes países europeus: Áustria, Bélgica, República Checa, França, Itália, Alemanha, Hungria, Irlanda, Holanda, Polónia, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido.