Rita Pasion frequenta atualmente o 2.º ano do Programa Doutoral em Psicologia da FPCEUP. (Foto: DR)

“Fascinamo-nos frequentemente com o universo e tudo o que o constitui – as estrelas, os planetas, as galáxias e os buracos negros . Para mim, todo esse fascínio reside no cérebro humano – com os seus neurónios, regiões anatómicas e territórios desconhecidos”. As palavras são de Rita Pasion e servem como  cartão de apresentação desta jovem investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP)  que, nos últimos anos, se tem, notabilizado na procura de respostas para alguns dos maiores enigmas do cérebro humano.

Foi então o fascínio pela “complexidade e diversidade do comportamento humano” que, em 2009, levou Rita a ingressar no Mestrado Integrado em Psicologia da FPCEUP. Aí, “bastou a primeira aula de neurociências para saber qual o caminho a seguir”. O mesmo que a levou ao Laboratório de Neuropsicofisiologia, da FPCEUP, onde viria a desenvolver a tese de mestrado na área de psicopatia.

“Descobri que em perfis de psicopatia mais impulsivos, a deteção do erro estava reduzida por comparação a perfis mais adaptativos. Essa redução de detenção de erro – e respetiva aprendizagem com esse feedback – em indivíduos mais impulsivos, pode ajudar a explicar a maior tendência para repetir comportamentos disruptidos”, conta. Para a investigadora, então com 23 anos, esta descoberta – que mereceu destaque por parte da Society for the Scientific Study of Psychopathy – representava também “uma forte motivação para continuar”.

Um projeto na área do envelhecimento saudável valeu à investigadora a conquista do Prémio ISPA 2019 em Ciências do Comportamento. (Foto. DR)

E Rita Pasion não fez por menos. Só nos últimos cinco anos, publicou cinco capítulos de livro e 21 artigos em revistas internacionais com arbitragem científica. E viajou pelo mundo para realizar nove comunicações orais em conferências internacionais. Alguns desses feitos tiveram lugar enquanto escrevia o projeto de doutoramento, que iniciou em 2016 na FPCEUP. Pelo caminho, teve ainda a oportunidade de colaborar com a FEUP no desenvolvimento de uma técnica de medição da atividade eléctrica cerebral produzida pelos nossos neurónios quando comunicam. Foi também neste período que começou a interessar-se pelo o envelhecimento saudável, linha de investigação que haveria de valer-lhe a conquista do Prémio ISPA 2019 em Ciências do Comportamento.

O projeto premiado – intitulado “The Aging Social Brain” e financiado pela Fundação BIAL – envolveu o estudo e a análise dos julgamentos morais de 90 pessoas com idades entre os 18 e 75 anos, tendo concluído que os participantes mais velhos têm  mais dificuldade em distinguir as situações intencionais das acidentais. “Este prémio é um reconhecimento do nosso trabalho mas, mais importante, serve como uma validação de que estamos a ir no caminho certo e a conduzir projetos com impacto no domínio académico e social”, aponta a investigadora, que assume como “projeto de vida” “desenvolver intervenções comunitárias para facilitar o processo de reinserção social de reclusos”.

Atuamente, Rita Pasion está, “a meio do percurso” para terminar o Programa Doutoral em Psicologia da FPCEUP, no qual conduz um projeto que visa “reconceptualizar o fenómeno psicopatológico, considerando o eixo prioritário “Research Domain Criteria” do National Institute of Mental Health (Estados Unidos da América)”. Entre tanto projetos, sobra-lhe ainda tempo para “viajar sempre que possível” e abraçar novos desafios: “Sou mais de estabelecer pequenos objetivos e sentir que os vou concretizando rumo a um objetivo último que não sei bem qual é.

Naturalidade? Porto

Idade? 28 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Tudo o que me trouxe. As aprendizagens, os amigos, os labmigos – a minha equipa, os professores, o sentimento de me sentir em casa, a carreira profissional.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

O pesadelo inerente a algumas questões burocráticas.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Bem… vou aproveitar este meu tempo de antena  para pedir como prenda de Natal uma máquina de ressonância funcional magnética para o nosso Laboratório 😀

– Como prefere passar os tempos livres? 

A viajar, sempre que possível.

– Um livro preferido?

Talvez o “The Handbook of Psychopathy”!

– Um disco/músico preferido? 

“The Queen is Dead”, dos The Smiths.

– Um prato preferido?

Fico logo meia perdida nas entradas.

– Um filme preferido? 

Os Condenados de Shawshank.

– Uma viagem de sonho?

Tenho a sorte de já ter feito as minhas duas viagens de sonho: Jamaica e Miami. Mas não me importo de redifinir sonhos: Vietname, talvez!

– Um objetivo de vida?

Sou mais de estabelecer pequenos objetivos e sentir que os vou concretizando rumo a um objetivo último que não sei bem qual é.

– Uma inspiração?

Todos aqueles que tiveram o papel de serem meus professores de alguma forma.

– O projeto da sua vida…

Desenvolver intervenções comunitárias para facilitar o processo de reinserção social de reclusos.

– Uma ideia para promover a investigação jovem feita na U.Porto?

Penso que existirem prémios formais de investigação (tal como o prémio ISPA), que sejam promovidos pela própria Universidade nas diferentes áreas de conhecimento que a mesma abrange, seria um bom veículo para não só promover, como assegurar uma investigação jovem que eventualmente se quer para além desta faixa etária. Em matéria de awards, só muito dificilmente um curriculum de um jovem investigador que esteja a trabalhar em portugal é comparável a jovem investigadores internacionais. E não é uma diferença de mérito, mas sim de oportunidade.