Licenciado em Bioquímica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), com ramo de especialização em Bioquímica Aplicada, Pedro Madureira doutorou-se em Ciências Biomédicas em 2011,  no Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS). Quatro anos depois obteve uma «starting grant» como Investigador FCT, tendo assim oportunidade de iniciar uma investigação mais independente, nomeadamente perceber o porquê de o nosso sistema imune não ser capaz de controlar ou desenvolver uma resposta eficaz contra certas infeções bacterianas.

Em 2013, juntamente com a Venture Catalysts, fundou a Immunethep, uma empresa de biotecnologia cujo objetivo é o desenvolvimento de imunoterapias que permitam prevenir ou tratar infeções causadas por bactérias como Escherichia coliKlebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus, Estreptococcus do grupo B ou Streptococcus pneumoniae, algumas das quais representam um sério risco para a saúde pública. Desse trabalho já resultou a criação de uma vacina materna que ajuda a prevenir infecções bacterianas que causam doenças como meningite, pneumonia e septicemia em recém-nascidos. Tendo por base o trabalho de investigação iniciado no ICBAS pelo grupo liderado por Paula Ferreira, esta vacina já passou por ensaios laboratoriais com ratinhos, ratos e coelhos e o próximo objetivo é avançar para ensaios clínicos.

Para além do trabalho que desenvolve na Immunethep, Pedro Madureira é investigador no grupo Immunobiology do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto.

Naturalidade? Porto.

Idade? 38 anos.

    Do que mais gosta na Universidade do Porto?

Acho que a qualidade de ensino e formação é algo que se destaca na Universidade do Porto. Nestes últimos anos tenho assistido também a uma aposta forte na transferência de tecnologia e na promoção de produtos desenvolvidos na U.Porto, o que considero algo muito positivo.

– Do que menos gosta na Universidade do Porto?

Do modelo de investigação ainda adoptado pela U.Porto. Durante décadas o corpo docente da Universidade foi também o principal motor da investigação. Este tipo de modelo foi excelente e permitiu garantir uma qualidade de ensino ímpar. Apesar de achar que a interação entre investigação e ensino terá sempre de existir, considero que, atualmente tem de haver uma separação maior entre o que é a carreira científica e a carreira de docência. Nestes últimos dias está muito aceso o debate sobre nova contratação e continuidade dos contratos de doutorados e, sobre este ponto, não é nada claro qual a posição da U.Porto. Acho que é um ponto negativo para a Universidade não apoiar (pelo menos de uma forma mais pública e insistente) a manutenção de contratos de Investigadores de programas como “Ciência” ou “Investigador FCT” e lutar por uma autonomia maior dos centros de investigação da U.Porto para garantir estas posições e renovar (e garantir a sua constante renovação) aquilo que é o modelo de investigação atual.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Acho que respondi um pouco a isto na questão anterior. Além disso, acho que seria positivo uma aposta numa incubadora de empresas com base biotecnológica. Neste momento e com estruturas como UPTEC, a U.Porto tem-se mostrado muito dinâmica na promoção da transferência de tecnologia e na criação de spin-off da U.Porto. Acho que a criação de uma estrutura semelhante voltada para empresas de biotecnologia, com necessidades muito próprias a nível de espaço e de formas de atrair financiamento, seria importantíssimo. A Universidade, como aliás Portugal em geral, tem ainda muito pouca experiência na criação e desenvolvimento de empresas de biotecnologia com sucesso. Existem alguns bons exemplos sem dúvida, mas para aumentar a probabilidade de sucesso de novas empresas a criação de um espaço adequado e a capacidade de atrair o conhecimento e a experiência de “quem já conhece o percurso” está a faltar.

– Como prefere passar os tempos livres?

Cada vez são menos e estar com a minha filha é seguramente o meu melhor passatempo. Depois disso gosto de praticar desporto e ler.

– Um livro preferido?

É-me muito difícil dizer qual o livro preferido. Houve livros que me marcaram bastante em determinada ocasião e se os relesse agora não me diriam muito. Outros que gostei de ler “só porque sim”. Não consigo reduzir tudo o que gostei a um livro preferido, no entanto, seguramente que o “Pêndulo de Foucault”, de Umberto Eco, e a “Mensagem”, de Fernando Pessoa, estão de entre os meus preferidos.

– Um disco/músico preferido?

A mesma situaçãoTenho um gosto bastante abrangente no que toca à música. Talvez Jazz/Blues sejam os meus estilos preferidos e artistas como Coltrane, Armstrong, BB King, Johnny Lee Hooker, Eric Clapton e o “nosso” Rui Veloso.

– Um prato preferido?

Não tenho. Só não gosto de castanhas e canela. De resto gosto de tudo!

– Um filme preferido?

Definitivamente não me dou bem com este tipo de perguntas. Adoro ver filmes e gosto de todo os géneros e não consigo de todo escolher “um”. “A Vida é Bela” marcou-me bastante.

– Uma viagem de sonho? 

Acho que, por definição, uma viagem de sonho é sempre aquela que ainda não se realizou. Nesse sentido, gostaria muito de percorrer a Patagónia. Em relação a viagens realizadas talvez escolha Japão e Bali, sobretudo pela diferença cultural e pela calma que essas paisagens exóticas – pelo menos para os meus olhos –  transmitem.

– Um objetivo de vida?

Bem, esta é fácil… e acho que é aquilo que toda a gente quer: ser feliz e conseguir fazer feliz aqueles que me estão perto. Saber como o conseguir e fazer por isso é que nem sempre é fácil…

– Uma inspiração?

Há várias pessoas e livros que me serviram e servem de exemplo, quer a nível pessoal quer a nível profissional, mas pensando em quem me serve de inspiração, ou seja, quem me faz querer sempre ser melhor e superar qualquer desafio é sem dúvida a minha filha.

– O projeto da sua vida…

Não consigo definir um único projeto de vida. Neste momento é a Immunethep e o desenvolvimento de uma vacina que possa prevenir infecções bacterianas graves. Espero vir a ter outros…

– Uma ideia para promover a investigação da U.Porto a nível internacional?

Acho que a investigação que se faz na U.Porto tem já um excelente nível que é reconhecido a nível internacional. Como disse anteriormente acho que a aposta na renovação do tecido científico irá permitir uma nova dinâmica naquilo que é a investigação que se faz na Universidade.