Pessoa2Nascido em Lisboa, mas criado na “mui nobre, sempre leal e invicta” cidade do Porto, Miguel Gonçalves, 35 anos, é um dos especialistas mais diferenciados em protocolos de extubação em doenças neuromusculares a nível internacional, facto que o tem levado a correr o Mundo, não só para participar em congressos, cursos e conferências (soma mais de 350 participações em 30 países diferentes no seu curriculum!), mas também para intervir em casos difíceis.

Licenciado em Fisioterapia, o especialista português realizou a sua especialização e treino em Ventilação Mecânica no Center for Noninvasive Ventilation and Pulmonary Rehabilitation of the University Hospital, New Jersey Medical School (UMDNJ), EUA, sob a orientação de John R. Bach, referência nesta área. Mas foi na FMUP que concluiu, em 2010, o seu doutoramento, com a tese intitulada “Noninvasive ventilation and mechanical assisted cough: efficacy from acute to chronic care”.

Desde 2002, exerce a sua prática clínica no Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar de São João e colabora ativamente com o Serviço de Medicina Intensiva do mesmo hospital, tendo sido um dos precursores da introdução em Portugal de várias técnicas para os doentes ventilados.

Foi também um dos mentores da criação de novos protocolos de avaliação e intervenção na área da Ventilação Não Invasiva em doentes crónicos, nomeadamente na abordagem da disfunção ventilatória em doentes neuromusculares e na organização dos cuidados respiratórios domiciliários. Para além disso, este professor da FMUP desenvolveu, em colaboração com outros investigadores desta faculdade, um protocolo de prevenção da falência ventilatória pós-extubação em doentes críticos com disfunção dos músculos respiratórios, associando a Ventilação Não Invasiva à tosse mecanicamente assistida.

De que mais gosta na Universidade do Porto?

– Gosto particularmente do simbolismo que a Universidade do Porto representa para a cidade. Trata-se de uma instituição de grande prestígio que, pelo seu contributo histórico, científico, cultural e social, enche de orgulho os portugueses e em particular os portuenses.

De que menos gosta na Universidade do Porto?

– Lamento a pouca interação entre a Universidade do Porto e as várias iniciativas empresariais e industriais na cidade. O trabalho científico desenvolvido nas várias Faculdades da Universidade do Porto, poderá contribuir significativamente para um maior desenvolvimento industrial na cidade e até cativar novos investimentos do sector privado. Parece-me que a cidade do Porto aproveita muito pouco a qualidade dos investigadores da sua Universidade, bem como dos novos profissionais que saem com o seu diploma, que são obrigados a sair da cidade para trabalhar…Tenho esperança que este fenómeno possa mudar no futuro.

Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Penso que deverá haver um maior investimento na promoção internacional da Universidade do Porto, à semelhança de outras grandes universidades europeias. Pelo que tenho visto, a Universidade do Porto, nomeadamente na área das Ciências da Saúde, não fica atrás dessas mesmas universidades (Bologna, Karolinska, Oxford, Trinity, Vienna etc..) e os seus contributos científicos estão ao mesmo nível, no entanto não são tão bem “exportados”. Para além de potencializar a imagem da Universidade, esta iniciativa irá com certeza atrair estudantes e investigadores estrangeiros que procuram evoluir academicamente enriquecendo ainda mais a nossa comunidade.

4 – Como prefere passar os tempos livres?

Atualmente, a minha agenda profissional e académica não me permite ter muito tempo livre, mas o pouco tempo que tenho, gosto de passar com a família e amigos pondo a conversa em dia… Para descontrair, gosto de jogar futebol e deslizar nas ondas com a minha prancha de bodyboard.

 5 – Um livro preferido?



– “O Principezinho” (Antoine de Saint-Exupéry)… Memórias de infância.

– “O Nome da Rosa” (Umberto Eco)… Misterioso e cativante.

– “O Universo numa casca de noz”(Stephen Hawking)…Cientificamente fantástico!

– “Asterix, o Gaulês” (René Goscinny e Albert Uderzo)… Simplesmente divertido.

 6 – Um disco/músico preferido?

– Dependendo do contexto e do estado de espírito gosto de ouvir todo o tipo de música, por isso dentro dos vários géneros destaco o “Abbey Road” (Beatles), “Pet Sounds” (Beach Boys), “Nevermind” (Nirvana), “Vida Malvada” (Xutos&Pontapés), “Sketches of Spain” (Miles Davies) e a 8ª Sinfonia de Gustav Mahler.

7 – Um prato preferido?

Petiscos tradicionais portugueses (incluindo a boa francesinha..!!!) e todo o tipo de sushi.

 8 – Um filme preferido?

Sou viciado em cinema e vejo muitos filmes, por isso é difícil escolher apenas um filme preferido…gosto de explorar a fantasia de Spielberg, o realismo de Kubrick e claro a criatividade única de Quentin Tarantino.

9 – Uma viagem de sonho? 

Nos últimos anos tenho tido a oportunidade de viajar bastante por locais fantásticos para dar conferências, e fazer boas amizades com colegas nos “4 cantos do mundo”. No entanto, para mim uma viagem de sonho é aquela sem compromissos profissionais e apenas dedicada à aventura e exploração…por exemplo, à India/Nepal/Tibete….e um Safari pelo Quénia /Tanzânia.

10 – Um objetivo de vida?

Profissionalmente apenas quero continuar o meu percurso profissional/académico, atualizar as minhas práticas clínicas, desenvolver novas linhas de investigação e criar condições para que outros sigam o meu trabalho no futuro, permitindo que eu possa ter a disponibilidade necessária para me dedicar à família…tenho muita vontade de ser Pai.

11 – Uma inspiração? 

– História de vida – Nelson Mandela

– Como exemplo profissional – O meu mentor, Professor John R. Bach (Rutgers University, EUA)

– Tenho o privilégio de trabalhar com doentes paralisados que diariamente vivem conectados a um ventilador para sobreviver, e nem por isso deixam de ter objectivos de vida, nem de ser felizes…São eles a minha maior fonte de inspiração…!!!

12 – Como avalia a atual situação dos doentes respiratórios em Portugal?

O número de doentes com problemas respiratórios tem vindo a aumentar em todo o mundo e Portugal não é exceção. A qualidade e eficácia dos cuidados respiratórios tem evoluído bastante nos últimos anos muito graças ao significativo avanço tecnológico e farmacológico que abriu novos horizontes terapêuticos e novas perspetivas de sobrevida para estes doentes. Os centros portugueses têm estado na linha da frente na prestação destes cuidados e o Departamento de Pneumologia do Centro Hospitalar de São João/FMUP tem dado um forte contributo no desenvolvimento de novos protocolos de suporte ventilatório em doentes agudos e crónicos.

O grande desafio no futuro será tentar manter a sustentabilidade económica destes cuidados mantendo a sua qualidade e acessibilidade a todos os doentes. O desenvolvimento de melhores estratégias de prevenção da insuficiência respiratória e a abertura de unidades específicas de internamento para reabilitação e inserção na vida ativa abrirá novos horizontes aos doentes portugueses.