Licenciada e doutorada pela FCNAUP, Maria João Gregório diz ter tido ali a “oportunidade de aprender com quem mais sabe de nutrição em Portugal”.

Se Maria João Gregório tivesse que escolher uma ementa para um dia perfeito, é provável que a escolha recaísse sobre “uma boa açorda de bacalhau ou camarão”, ou, quem sabe, um mais humilde “ovo escalfado e muita couve portuguesa”. De preferência com pouco sal, ou não lhe coubesse dar o exemplo… Com apenas 32 anos, esta antiga estudante e Professora auxiliar convidada da Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação da U.Porto (FCNAUP) acaba de tomar posse como diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), uma iniciativa da Direção-Geral da Saúde que tem como finalidade melhorar o estado nutricional da população portuguesa.

Licenciada em Ciências da Nutrição (2009) e doutorada em Ciências do Consumo Alimentar e Nutrição (2015) pela U.Porto, Maria João Gregório é docente da FCNAUP desde 2011. “Não é difícil perceber a importância que esta instituição teve para o meu percurso profissional. Mas acima de tudo, deu-me a oportunidade de aprender com quem mais sabe de nutrição em Portugal”, diz.

Autora de um trabalho de relevo no estudo das desigualdades sociais no acesso a uma alimentação saudável e das políticas alimentares e nutricionais, foi também enquanto estudante da FCNAUP que Maria João Gregório  descobriu, durante uma experiência de mobilidade no Brasil, o “fascínio pela área das políticas nutricionais”. A mesma que desenvolveu, entre 2016 e 2019, como adjunta do anterior Diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Pedro Graça. Com tanto sucesso que, com a saída deste para a direção da FCNAUP, coube-lhe a ela a “grande responsabilidade” de suceder-lhe.

“Enquanto docente e investigadora na área das políticas públicas de alimentação e nutrição, a direção do PNPAS é provavelmente o desafio mais interessante que eu poderia ter”, confessa . Mas este “não será um começo”. Vincando que “muito já se fez nos últimos 10 anos em Portugal nesta área”, a nutricionista aponta como “prioridade dar continuidade à implementação de um conjunto de medidas que permitam melhorar a oferta alimentar que nos rodeia. Estou consciente de todos os obstáculos que existem no caminho que queremos seguir e por isso terão quer ser pequenos passos e graduais”.

Passos que já começou a dar: “Ainda durante mês de março, o PNPAS prevê assinar de um compromisso com os setores da indústria e da distribuição alimentar para reduzir o teor de sal, açúcar e ácidos gordos trans em diversos produtos alimentares”. Bom – e saudável – apetite!

Naturalidade? Peso da Régua

Idade? 32 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da qualidade dos seus docentes, investigadores e estudantes. O reconhecimento que a Universidade do Porto tem tido nos últimos anos a nível internacional é o resultado dessa qualidade. Mas gostaria de reforçar que as boas universidades não se fazem só da qualidade dos seus docentes e investigadores, mas essencialmente da qualidade dos seus estudantes. E de facto a U.Porto tem conseguido atrair os melhores! Espero que assim continue.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

A minha resposta a esta pergunta pode não ser isenta de conflito de interesses… risos… Faço já aqui a minha declaração… Mas o que menos gosto na U.Porto é o facto de não ter ainda uma estratégia para a promoção da alimentação saudável dos seus estudantes e colaboradores. Mas a palavra “ainda” é relevante nesta frase, pois penso que estaremos em condições de o fazer muito em breve.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Gostava que a U.Porto criasse mecanismos que permitissem uma maior colaboração entre as diferentes unidades orgânicas. Porque não equacionar a possibilidade de alocar algum orçamento para o financiar projetos colaborativos entre as diferentes unidades orgânicas?

– Como prefere passar os tempos livres?

Com as minhas pessoas… família e amigos. Não gosto de ter planos, nem rotinas nos meus tempos livres.

– Um livro preferido?

A vida em Surdina, de David Lodge.

– Um disco/músico preferido?

Na música, os meus gostos são muito variados e são muito permeáveis aos diferentes contextos e fases da minha vida, pelo que quase que poderia identificar um disco/grupo para cada fase. Mas descomplicando, vou tentar identificar o álbum/grupo para cada período. Durante a minha infância talvez GNR e Ban (era o que os meus pais e tios ouviam naquela altura), mais tarde na minha adolescência talvez os Incubus e agora The Whitest Boy Alive e Angus & Julia Stone.

– Um prato preferido?

Uma boa açorda, pode ser de bacalhau, camarão ou até mesmo só com um ovo escalfado e muita couve portuguesa.

– Um filme preferido?

O Pianista.

– Uma viagem de sonho?

Adoro viajar e por isso esta é uma pergunta difícil… Quanto à realizada, talvez a Índia, por ser uma experiência verdadeiramente transformadora. Por realizar, talvez o Japão.

 – Um objetivo de vida?

Ser feliz será provavelmente o que todos queremos, mas refletindo um pouco sobre o assunto… diria que talvez um bom objetivo de vida para mim fosse o de ser capaz de me ir adaptando às diferentes circunstâncias da vida. Tenho aprendido que a vida é muito dinâmica e que só a capacidade de me ir adaptando a novas situações me permitirá ir encontrando o equilíbrio.

– Uma inspiração?

A minha família, os meus amigos e os meus colegas de trabalho. Tenho a sorte de estar rodeada de pessoas que são uma inspiração para mim todos os dias.

– O projeto da sua vida…

Neste momento será contribuir de alguma forma para melhorar os hábitos alimentares e a saúde dos portugueses. É ambicioso eu sei, mas é essa a minha missão enquanto Diretora do PNPAS.

– Uma dica (ou mais) para melhorar a alimentação dos portugueses?

Temos hoje muitas estratégias nesta área em Portugal… diria até que as estratégias nesta área continuam a proliferar em Portugal… e temos passado demasiado tempo a pensar em novas estratégias no papel… Apesar de termos um Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) e uma Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável com a participação de sete Ministérios coordenados pela DGS (EIPAS), continuamos ainda nos dias de hoje a tentar criar mais estratégias… estratégias para áreas específicas dentro da alimentação ou para diferentes grupos etários… em função dos interesses de grupos de interesses ou protagonismos pessoais. Acho que não é disto que precisamos. Precisamos sim de mais ação e de por em prática, cada vez mais, o que está definido já há muito tempo no PNPAS e que está perfeitamente alinhado com as recomendações de organizações internacionais nesta área como a OMS. Concretizando, não tenho dúvidas que o sucesso para a intervenção nesta área implica a implementação de medidas que sejam capazes de mudar a oferta alimentar que nos rodeia. Nos últimos tempos, o Estado Português foi ousado nesta área e várias foram as medidas que foram implementadas para modificar os ambientes alimentares. Acho que se fez história. Mas muito está ainda por fazer e será por aqui o caminho.