A ligação de Maria Amélia Ferreira à Universidade do Porto começou em 1972, quando chegou à Faculdade de Medicina (FMUP) para frequentar o curso de Medicina. Foi aí, num curso com mais de 800 estudantes, que construiu a sua carreira académica e onde, mais tarde, se tornou diretora, sendo a primeira mulher a assumir o cargo em quase 200 anos de história.

Maria Amélia Ferreira refere que, desde cedo, percebeu que FMUP – e as restantes escolas médicas – mais do que formar médicos, têm de transformar pessoas. Sempre focada na importância da educação e na integração da humanização na formação dos futuros médicos, a atual diretora da FMUP reformulou o plano de estudos e a organização funcional da faculdade para que os médicos de amanhã sejam preparados não para lidar com doenças, mas com seres humanos na sua mais ampla integralidade.

No enquadramento da Universidade do Porto e da Faculdade de Medicina, Maria Amélia Ferreira tem sido responsável por vários projetos de âmbito nacional e internacional. No domínio da cooperação para o desenvolvimento, coordenou a implementação de programas de colaboração na área da Educação Médica com os PALOP – programas que, em 2011, lhe valeram o Prémio Educação da Fundação Calouste Gulbenkian.

Dedicada ao terceiro setor, à inovação e à economia social, tornou-se, em 2012, Provedora da Santa Casa da Misericórdia do Marco de Canaveses. Os trabalhos desenvolvidos em ambas as instituições – que em vários momentos criaram sinergias – levaram a que lhe fosse atribuído o prémio consagração de carreira D. Antónia Adelaide Ferreira (2016), galardão criado com o intuito de distinguir figuras femininas portuguesas pelas caraterísticas humanas e capacidades de empreendedorismo.

Recentemente, e porque o seu percurso se fez, várias vezes, “no feminino”, Maria Amélia Ferreira foi nomeada (2018) Conselheira Local para a Igualdade de Género do Marco de Canaveses, assumindo mais uma missão junto da sociedade. “A educação é a ferramenta para a igualdade de género”, remata a médica, mãe e professora. Referindo-se ao mote “Press for Progress”, que este ano foi o tema do Dia Internacional da Mulher, Maria Amélia Ferreira relembra que as mulheres “não precisam de discriminação positiva, mas sim de igualdade de oportunidades e que lhes seja atribuído o devido reconhecimento pelas metas alcançadas”.

Naturalidade? Vila Nova de Gaia

Idade? 63 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da diversidade, numa unidade efetiva de universidade e, principalmente, de Porto (cidade/clube ……).

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Dos pequenos poderes instituídos e da falta de iniciativa para a afirmação em áreas distintas da sociedade.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Promoção efetiva do mérito, da interdisciplinaridade e da internacionalização.

– Como prefere passar os tempos livres?

A olhar o mar (à semana) e o rio (ao fim de semana). E ter tempo para cozinhar comida “de verdade”.

– Um livro preferido?

Sempre, “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Márquez.

Agora, “O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas”, de José Tolentino Mendonça.

– Um disco/músico preferido?

Leonard Cohen. Songs of the Road. “ …tal como o mar e o céu, a estrada é o emblema da imensidade, a sugestão do infinito”.

– Um prato preferido?

Sardinhas assadas com pimentos e broa.

– Um filme preferido?

“Out of Africa”, pela mulher, pelo sonho, pelo amor, pela luta

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

O retorno a CASA, com e entre a família, nos valores mais elevados da cumplicidade familiar.

– Um objetivo de vida?

 Pessoal: manter uma família unida e em paz com as suas opções, no respeito pela individualidade de cada um. Profissional: manter a liderança da FMUP no projeto de formar médicos e transformar pessoas. Contribuir para deixar um legado na educação médica e na economia social, num caminho alicerçado num quadro de valores.

Espero que este legado se constitua, conforme diz José Tolentino Mendonça (2017), no tal “fragmento de infinito que é a única coisa sem preço que nos pode ligar para lá do espaço e do tempo” (O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas, 2017).

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

As vidas das mulheres “normais” são a minha maior inspiração para a motivação diária. São histórias de vida, de compromisso diário e silencioso, que estruturam as famílias e são o garante da futura da sociedade. São as nossas “mães coragem”. E, claro, D. Antónia Adelaide Ferreira, no legado material e imaterial que constitui a sua vida.