Luís Delgado (Pessoa)Talvez por lidar diariamente com doenças, Luís Delgado faz por “viver cada dia como único…”. Seja ao sabor de salmonetes grelhados (de preferência cozinhados “sem pressas” pelo próprio), num passeio no «expresso» Régua-Pinhão ou na companhia de Jim Morrison. Aos 59 anos, estes são apenas alguns dos pequenos prazeres deste professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), distinguido recentemente com o “The Charles Blackley Award” pela Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica (EAACI), a maior associação mundial de especialistas e investigadores na área da alergologia e imunologia clínica.

Médico especialista em Imunoalergologia, Luís Delgado cumpriu todo o seu percurso académico e de docente na Faculdade de Medicina, à qual está ligado há quase 40 anos. Licenciado (1978) e doutorado (1996) pela FMUP, dirige atualmente o Serviço e Laboratório de Imunologia da faculdade, onde é responsável pelas unidades curriculares de Imunologia Básica e Imunologia Clínica.

Com uma profícua atividade clínica (é chefe do Serviço de Imunoalergologia do Centro Hospitalar de São João) e científica, o também investigador do CINTESIS é autor e coautor de mais de uma centena de artigos científicos em domínios tão diversos como as doenças pulmonares intersticiais e ocupacionais, a alergia a fármacos (toxidermias), a alergia ocular ou a asma na prática desportiva. No currículo destaca-se ainda a passagem por várias associações nacionais e internacionais da especialidade. É o caso da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), que preside desde 2014,  ou da American Academy of Allergy, Asthma & Immunology, da qual é “International Fellow” desde 2005.

Luís Delgado integrou o Comité Executivo da EAACI entre 2003 e 2011, período em que aquela associação “cresceu para mais de 9 mil membros, sobretudo europeus, mas agregando associados de mais de 90 países”. Foi de resto esse trabalho que esteve na base do prémio entregue no passa o mês de junho, como reconhecimento do seu contributo para o desenvolvimento da Alergologia como especialidade médica,  tanto a nível nacional como internacional.

Naturalidade?

Porto.

Idade?

59 anos.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Manter-se a universidade portuguesa mais bem colocada nos rankings internacionais.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

A perda progressiva de financiamento e dos seus quadros nos últimos anos (tornando-se impossível reter ou atrair os colaboradores mais brilhantes), o que contrasta com o significativo aumento do trabalho burocrático e de controlo. Isto é, perda de autonomia e da capacidade de inovação.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Ampliar, melhorar e promover a prática desportiva pela/os estudantes.

– Como prefere passar os tempos livres?

Cozinhar sem pressas, depois de escolher os ingredientes nos mercados e no pequeno comércio do Porto (por vezes tem que se atravessar a cidade…).

– Um livro preferido?

Difícil… de vários, em prosa: I Am Charlotte Simmons, de Tom Wolfe; poesia: Antologia Poética, de Vinicius de Moraes; entre a prosa e a poesia: Uma coisa em forma de assim, de Alexandre O’Neill.

– Um disco/músico preferido?

Jim Morrison, especialmente “Riders in the Storm”, no álbum L.A. Woman dos Doors.

– Um prato preferido?

Carne: tripas à moda do Porto; Peixe: salmonetes grelhados.

– Um filme preferido?

Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola; num registo mais leve, Match Point, de Woody Allen.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 

Cá dentro: Régua-Pinhão no comboio a vapor e terminar o dia jantando no deck do Doc, contemplando o cair da noite sobre Covelinhas, mesmo em frente. Lá fora: viajar no Arquipélago oeste da Suécia e terminar o longo dia a apanhar (e comer) ostras no Peterson´s Krog, em Karingon (só está aberto no Verão).

– Um objetivo de vida?

Viver cada dia como único…

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

O Prof. Tari Haahtela, médico e investigador do Skin and Allergy Hospital, Helsinki, fundador e impulsionador na Finlândia do programa nacional da asma e, mais recentemente, do programa nacional de doenças alérgicas.

– O que falta fazer pela Imunoalergologia em Portugal?

Implementar a oferta desta especialidade na rede hospitalar nacional, um plano com mais de dez anos mas, infelizmente, abandonado. Sendo as doenças alérgicas de elevada prevalência, está hoje bem demonstrado que a intervenção de um especialista melhora o seu controlo, reduzindo significativamente os custos associados ao seu tratamento e a internamentos hospitalares por agudizações. Isto é, uma especialidade médica absolutamente “cost-effective”.

– Que significado atribui à distinção da EAACI?

Um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido entre 2003 e 2011 na direção executiva da maior associação mundial de especialistas e investigadores na área da alergologia e imunologia clínica. De facto, a European Academy of Allergy and Clinical Immunology, cresceu neste anos para mais de 9 mil membros, sobretudo europeus, mas agregando associados de mais de 90 países.